Jornada Pegou seu cajado, seu alforje e caminhou. Não sabia como - TopicsExpress



          

Jornada Pegou seu cajado, seu alforje e caminhou. Não sabia como percorrer o caminho, mas sabia o rumo. Seguiria para as montanhas e além delas. Cortaria os morros, transporia todos os obstáculos e chegaria ao destino almejado. O encontro consigo mesmo. Aos olhos dos outros, era muito velho. Não sentia nenhum problema com sua idade. Por muito tempo ficou estático em seu lugar. Agora decidira que era hora de se mexer, de trilhar seu caminho. Saiu quando o sol não havia nascido. Andou ao sabor do vento a tocar-lhe o rosto barbado. Na ladeira, usava o cajado como apoio. No alforje, pouca comida e muita água. Roupa ele também não levava além de um poncho para se abrigar do frio. Ele seguia e contemplava o caminho. Via beleza em tudo. Sentia-se livre, rejuvenescido. Cumpriria seu destino. Caminharia e se encontraria no final da jornada. Parou à sombra de um cinamomo frondoso para comer. Degustava a farofa de carne que preparara há vários dias para a viagem. Ouve um barulho de passos que vêm em sua direção. Volta-se e vê um jovem loiro e magrinho vestindo roupas esportivas e com uma mochila gigante nas costas. “Posso descansar com o senhor?”, pergunta o rapaz. “Claro que pode”, concede o velho. “Para onde está indo?”, pergunta o jovem retirando um sanduíche da mochila que soltou no chão. “Vou para além das montanhas ou até onde minhas forças permitirem”, responde o velho depois de engolir seu bocado de farofa. “Aceita um pedaço do meu sanduíche”, pergunta. “Aceito. E você aceita um pouco da minha farofa”, aceito sim. Ficaram um pouco em silêncio, cada um saboreando o alimento do outro e sentindo o sabor gostoso da partilha e da vida quando vivida em plenitude e liberdade. O rapaz conta ao velho que também quer ultrapassar as montanhas. Ele diz que é uma aventura que há muito planejava fazer, mas que só agora, depois de concluído seu curso, decidiu realizar. O velho, por sua vez, contou que não fazia muito tempo que decidira subir as montanhas e ir além delas. Foi algo que ele simplesmente sentiu que devia fazer, contou ao rapaz que parara de comer e observava o velho com atenção, com um carinho familiar. “Eu quero me encontrar. Eu busco isto. Há algo a me dizer que além das montanhas está meu verdadeiro eu e quero busca-lo. Eu acredito na jornada. Nesse ínterim, tudo é consequência dos nossos atos”, discorreu o velho agora bebendo um longo gole de água do seu cantil. Descansaram por um longo tempo e seguiram. A mochila do rapaz logo pesou e ele sentia dificuldades para caminhar, mesmo sendo muito jovem. O velho pediu para dividirem os pesos, uma vez que em seu alforje pouca coisa havia. Com a carga dividida, eles seguiram pelos vales, pelas ribanceiras, ora passando por tigueras, ora entrando em mata densa. Atravessaram um rio com a água pela cintura e a roupa esportiva do jovem ficou muito encharcada e foi preciso caminhar muito para que ela secasse no corpo. Anoitecia quando estavam no pé de uma das montanhas. O velho colheu laranjas em uns pés abandonados que encontraram pelo caminho. O jovem pegou um maço de capim cidreira na beira da estrada e, depois de acenderem uma fogueira, prepararam um chá de cidreira que tomaram aos golinhos em canecas de plástico eu o jovem tinha na mochila. Chuparam laranja e comeram alguns biscoitos do jovem. O velho deitou-se na relva ainda seca, pois não havia começado a serenar e cobriu-se com seu poncho. O rapaz entrou em seu saco de dormir e bocejou. Pegaram no sono rapidamente de tão cansados que estavam. Acordaram quando ainda era madrugada, urinaram, requentaram o chá, comeram pouco e seguiram. Assim eles passaram os dias que se seguiram. Caminhavam enquanto havia luz. Depois, paravam, comiam o que conseguiam encontrar pelo caminho, bebiam água ou chá preparado por eles e dormiam em paz. Ao passar por uma casa de sitiantes, uma mulher convidou-os a comer com a família. Eles aceitaram. Ameaçava chover e eles foram convidados a pernoitar na casa. Recusaram e pediram para dormir no galpão. O temporal parecia querer levar tudo durante a noite. Quando o dia amanheceu, no entanto, eles viram o sol brilhando como nunca. Depois de agradecerem pela hospitalidade, seguiram o caminho. Os moradores lhes abasteceram de mantimentos. Eles se sentiram renovados com aquele contato familiar depois de dias como nômades pelos caminhos inóspitos. Subiram o que deu da montanha. As energias estavam renovadas com os alimentos que receberam. Tomavam banho e faziam as necessidades antes da noite chegar. Sentiam-se outros a cada amanhecer, mesmo com o cansaço se abatendo. Descendo e subindo as ladeiras, eles já estavam caminhando há quase um mês. Não que fizessem questão de contar o tempo, mas um curioso falou a data quando os encontrou pelo caminho. Disse também o dia da semana. Eles, mesmo sem querer, se situaram. Mais duas semanas de caminhada. Amargaram uma noite chuvosa sob uma pedra gigante. O rapaz ficou resfriado e teve febre. O velho fez fogo e preparou-lhe remédios de ervas que encontrou pelo caminho. Recuperou-se depois de um longo dia sem caminhar. O velho descansou também. “Acho que estamos chegando ao final do caminho”, falou o jovem. “Eu também sinto isto. Mais um dia e fecho meu ciclo. Eu sinto isto”, falou o velho. Naquele dia eles não pararam de andar depois que escureceu. Avançaram noite adentro pelo caminho tortuoso e cheio de pedras. Precisavam recuperar o tempo que perderam com a febre do jovem. A lua estava cheia e eles podiam ver tudo com clareza. Sobre uma ponte muito velha, os dois pararam para apreciar a lua gigantesca refletida nas águas. Como dois bobos, eles riram alto. A barba do velho estava enorme. A do rapaz também crescera e ele se sentia estranho, mesmo não tendo um espelho para se vir. De repente eles se viram descendo uma ribanceira. Não sabiam onde estavam. A noite virara madrugada. Ansiavam pelo nascer do sol. “Sinto que hoje concluo meu caminho”, falou o velho demonstrando cansaço. “Eu também quero concluir minha jornada hoje”, respondeu o jovem sentindo tudo doer em seu corpo. Não pararam. Não tinham pressa, mas sim um objetivo. Cada um com seu propósito cumpriria seu trajeto. Eram peregrinos e sua messe era caminhar. Avistaram algo familiar quando a noite se despedia. Sem que se dessem conta, estavam chegando à cidade de suas origens. Eles gargalharam ao avistar o rio com sua ponte imponente que dava acesso à cidade. Os parques pareciam muito mais verdes naquela manhã. Tudo era lindo e eles gostavam da visão que tinham. Como dois bobos eles se abraçaram e começaram a dançar na rua. Haviam se encontrado e cumprido suas jornadas, cada um a seu modo, cada um com seu propósito. De agora em diante tudo seria diferente. O trajeto percorrido lhes acompanharia pela vida inteira. Velho e jovem tornaram-se um na amizade que fizeram pelo caminho. Cada um seguiu sua vida como tinha que ser. No entanto, o trajeto percorrido lhes guiaria para sempre como marco de início de vida nova aos dois. Jossan Karsten
Posted on: Fri, 06 Sep 2013 17:44:08 +0000

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