Juros da dívida (as yields) portuguesa a 10 anos (que é o caso - TopicsExpress



          

Juros da dívida (as yields) portuguesa a 10 anos (que é o caso de referência que se usa) desceram e descem no mercado secundário porque o governo fez - ou está a fazer - o ajustamento e os "mercados" estão satisfeitos -- esta é afirmação de briefing que mais se ouve vinda institucionalmente ou nas conversas de vários comentadores. É assim mesmo? Não, essa correlação não é a mais forte. A correlação mais forte com a descida da yields vem de outros factos. Historicamente no caso do resgate português: 1- As yields tiveram um pico em finais de 2012 e passaram a uma trajetória descendente. Porquê? Certamente que podemos incluir o processo do resgate local, mas os factores fundamentais foram outros: a) O BCE lança dois LTRO a 36 meses no final de 2011 e no começo de 2012 e inunda a banca da região para poder comprar dívida soberana dos países sob resgate ou sob ameaça de descarrilar; b) a Grécia teve uma reestruturação de dívida no primeiro trimestre de 2012 para ficar no euro e os fantasmas do "Grexit" (e de um contágio de saídas com redenominações de dívidas) foram afastados da cabecinha dos investidores; a descida foi abrupta e geral aos periféricos sob resgate, e não só a Portugal; c) A Espanha recebeu um resgate específico para acalmar o risco de dar um estoiro por via bancária; d) Draghi no verão de 2012 decide fazer o bluff chave e anuncia uma coisa que nunca detalhou de como ia concretizar, o famoso OMT; isto foi o golpe decisivo para dar mais uma pressão em baixa em todas as yields dos periféricos. Esta trajetória de 2012 é provavelmente o exemplo empírico mais claro do efeito global de decisões que ocorrem a nível da zona euro. Como pano de fundo global, mundial, a Fed continuava com uma política de injeção de liquidez que favorecia os fluxos de dinheiro quente para todas as aplicações soberanas de maior risco (em emergentes e nos periféricos da zona euro). 2- Os planos de ajustamento sempre "resultam"; a troika não perde a face e dá "credibilidade" aos governos resgatados. Pudera, era o que faltava se não fossem cumpridas, pois as metas nominais foram sempre sendo alteradas para poderem ser cumpridas. Os investidores sabem isso, conhecem o teatro. E ligam ZERO a isso. O que os preocupa é a evolução do rácio da dívida (como recordava em agosto o The Economist), as condições de quebrar o hiato do produto (que lhes garanta no futuro que a dívida é paga, quando já não houver guito da troika) e, acima de tudo, se o BCE lhes garante comprar a dívida se as coisas correrem para o torto. O resto é música. 3- Todos aproveitaram a janela de final de janeiro de 2012 a maio de 2013 para emitir dívida, uns regularmente (como Espanha e Itália), outros em "regressos ao mercado" pontuais, como o fizeram Irlanda primeiro e Portugal depois. E o filme mais recente? 4- A situação é "clonada" mas ao inverso, recentemente, depois do ponto mais baixo de maio de 2013 (mais baixo nas yields). a) Porque terminou em maio a trajetória declinante? Porque a Fed começou com o anuncio do "taping". O que lixou os planos do IGCP português, entre outras vítimas. b) A que se juntou o caso Bárcenas, a crise governamental em Portugal e a crise em Itália. c) O que valeu é que entretanto a situação se alterou nos States -- Bernanke travou o tapering. Porquê? Porque começou a ter dúvidas -- se a economia arrebita mesmo (ele não quer ficar como o tipo que precipitou um double dip como em 1937) e se o Congresso tem juízo (quem garante que o Tea Party não rebenta aquilo tudo?). E como Bernanke travou, o dinheirito quente está numa de aproveitar a coisa enquanto a música tocar. Adivinhem lá o que aconteceu às yields? Desceram. 5- Bárcenas entretanto eclipsou-se (parece que só volta a atacar no próximo ano lá para mais perto das eleições europeias), Portas revogou e subiu a vice, Berlusconi chorou, recuou e está prestar a sair de cena ao que parece, pois Alfano, o seu delfim, fez-lhe a folha. Os investidores na dívida especulativa da zona euro ou naquela mais tremida suspiraram de alívio. Adivinhem lá o que aconteceu às yields? Desceram. 6- Entretanto, Draghi olhou para o panorama e começou a coçar a cabeça que o truque do OMT podia começar a perder gás e inventou nova "comunicação" -- a gente pode cortar ainda mais as taxas diretoras e até fazer um terceiro LTRO. O pessoal que especula na zona euro deu um salto na cadeira -- é pá, o homem está acenar-nos com mais uma cenoura. A Black Rock já disse até que é fã da dívida dos periféricos. Adivinhem lá o que aconteceu às yields? Desceram. 7- Para fechar o ramalhete, a troika resolveu colar com cuspo os "exames" e dar nota de passagem aos três resgatados. Portugal foi esta semana (o anuncio do "sim") e o relatório completo da 11ª avaliação da Irlanda também. Até a Irlanda que é a que tem yields mais baixas (abaixo de 4%) tem ali uma série de coisas na análise que são gato com rabo de fora (remeto-vos para o meu amigo Constantin Gurdgiev). Portugal, bom, o rácio da dívida está acima de 120%, mas é tudo sustentável. Temos de aguardar o relatório completo para ver os detalhes. E a Grécia também passou a 29 de setembro. Adivinhem lá o que aconteceu às yields? Desceram. O resto são epifenomenos. Por hoje já chega.
Posted on: Sat, 05 Oct 2013 22:41:06 +0000

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