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KARLFRIED GRAF DURCKHEIM Experiência do SER (o período de Munique) Com o fim do período militar iniciaram-se meus estudos. A atração pessoal exercida por Max Weber fez-me escolher inicialmente a economia política. Depois de algum tempo, uma mudança de cabeça orientou-me em direção à filosofia. A fenomenologia ocupava naquela época um lugar de destaque com os cursos de Alexandre Pfänder, aluno de Husserl. O primeiro curso tratava sobre a obra de Bergson A Evolução Criadora. Os encontros que realizei durante os primeiros anos de estudos tiveram grande importância. Sobretudo aquele, decisivo, com minha futura esposa, Enja von Hattingberg. Graças a ela, entrei bastante cedo em contato com a psicanálise. Além disso, ela me aproximou de todo um círculo de amigos. Minha esposa era ligada, entre outros, à poetisa Elisabeth Schmidt-Pauly, a Rainer Maria Rilke, Richard Wilhelm, Wilhelm Otto, Ludwig Klages, Else Lasker-Schüler, Ferdinand Weinhandl, Otto Zopf. Entre todos eles, o desastre de 1918 havia despertado algo de novo. Reconheci depressa, eu também, que naqueles anos do pós-guerra minha preocupação era o problema de um homem novo, O impacto de um determinado acontecimento fez-me reconhecer nesta questão não apenas uma necessidade geral de nosso tempo, mas também a obrigação de fazer dela o centro de minha vida. Este acontecimento, para mim capital, foi também o primeiro encontro de meus vinte e quatro anos com Lao Tsé. Isto se passou no ateliê do pintor Willi Geiger. Minha futura esposa, que era sua amiga, abriu ao acaso o Tao Te King, e começou a ler o décimo primeiro aforismo: Trinta raios sustentam o eixo de uma roda Mas é o vazio que há nele que cria a natureza da roda. Os vasos são feitos de argila Mas é o vazio que há neles que faz a natureza do vaso. E aquilo foi inesperado. Enquanto o escutava, fui atingido por uma revelação súbita. O véu se rasgou: eu fora despertado. Eu havia experimentado aquilo. Todo o resto era e não obstante não era mais, era este mundo e ao mesmo tempo transparente para um outro. Eu mesmo também era e não era a um só tempo. Eu estava preenchido, capturado. Não obstante, completamente presente. Feliz e como que vazio de sentimentos, muito distante e todavia profundamente imerso nas coisas. Eu havia experimentado aquilo de um modo evidente, como o impacto de um raio, e claro, como um dia de sol; aquilo, que era totalmente incompreensível. A vida continuava, a vida de antes, e no entanto já náo era a mesma. Havia a espera dolorosa de mais “Ser”, uma promessa profundamente sentida. E ao mesmo tempo forças crescendo até o infinito e a aspiração no sentido de um compromisso – com o quê? Esse estado excepcional durou o dia inteiro e uma parte da noite. Ele me marcou definitivamente. Eu vivenciara aquilo que através dos séculos testemunharam muitos homens, que em um momento qualquer de suas vidas tiveram essa experiência. Ela os atingiu como um relâmpago. Ela os ligou para sempre à corrente da verdadeira vida. Ou antes, ela lhes tornou perceptível a fonte de uma grande felicidade e ao mesmo tempo de sofrimento que experimentamos quando essa corrente é interrompida. Mas é também uma experiência inseparável de um compromisso com a via interior. Repetida depois por várias vezes, embora com menos força, ela continua a servir de ponto de referência para indicar, para mim e para outros, a direção acertada de conhecimento e de trabalho. Tudo o que encontrei desde então orienta-se na direção de um pé lo preciso. Que Mestre Eckhart tenha mais tarde entrado em minha vida não tem nada de surpreendente. Não me separei mais de seus tratados e de seus sermões. Seu conteúdo é uma espécie de eco multiplicado do grande apelo que ressoava dentro de mim. Ainda hoje, é suficiente uma única frase de Mestre Eckhart para que eu me sinta novamente penetrado por uma grande corrente. Eu percebo o mesmo tom, ainda que através de outros registros, em Rilke, em Nietzsche e sobretudo na primeira leitura dos escritos budistas. A doutrina de que a natureza do Buda está presente em cada homem, pareceu-me imediatamente evidente. Já naquele momento uma questão me preocupava: Mestre Eckhart, Lao Tsé, o Buda, a grande experiência que os havia atingido não era fundamentalmente a mesma? Karlfried Graf Dürkheim, Pratique de I’experience,spiritueIle, Éd. du Rocher, Monaco, s/d.
Posted on: Thu, 28 Nov 2013 01:59:20 +0000

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