Karl Marx e Friedrich Engels operaram uma grande virada na - TopicsExpress



          

Karl Marx e Friedrich Engels operaram uma grande virada na filosofia, ao dirigir sua atenção para a situação miserável das classes trabalhadoras, e ao fornecer instrumentos intelectuais de análise e interpretação da sociedade, capazes de modificá-la; entre esses instrumentos está o materialismo dialético, que afirma que sociedades e culturas são determinadas pelas suas condições materiais. Mas o marxismo carrega nas costas o pesado fardo do stalinismo e do terror soviético, sem que os marxistas tenham, até hoje, revelado a capacidade de explicar, a tragédia em que desembocou a revolução mais radical da era moderna. Não é suficiente repudiar a crueldade da era stalinista, pois essa já se ensaiava sob Lenin. Abaixo o leninismo Dentro do marxismo clássico - e também em Lenin -, a classe operária é portadora do universal, porque quando se emancipa, está emancipando o conjunto da sociedade. O problema é que Lenin não acredita na capacidade da classe operária para exercer o poder na fase inicial de construção do socialismo. Os trabalhadores, segundo Lenin, "não se desembaraçarão facilmente de seus preconceitos pequeno-burgueses", precisando ser "reeducados sobre a base da ditadura do proletariado". Este poder deveria ser exercido pela vanguarda da classe - já livre da ideologia burguesa -, isto é, pelo partido desta classe. Assim, a fórmula leninista da ditadura do proletariado acaba resultando na ditadura do partido do proletariado, pois os interesses históricos de partido e classe são os mesmos, com a diferença de que o conjunto da classe ainda não descobriu sua "missão histórica", a ser revelada pelo partido. Neste ponto, é importante frisar, não houve um desvio do stalinismo em relação ao leninismo, mas sim sua continuidade, com todos os agravantes da personalidade autoritária de Stalin. Portanto o stalinismo não foi resultado de uma contra-revolução burocrática, como afirmam os defensores do leninismo. O stalinismo é resultado dos graves erros existentes no modelo socialista desenvolvido por Lenin, que reinterpretando a concepção marxista da ditadura do proletariado, acabou por transforma-la em ditadura do partido do proletariado, ou seja, ditadura do partido comunista. Essa ditadura se fez presente desde o começo do governo bolchevique. Não podemos esquecer que em 5 de janeiro de 1918, a Assembléia Constituinte que havia sido eleita democraticamente após a Revolução de Outubro, mas onde os bolcheviques não tinham maioria, se reuniu pela primeira e última vez, pois foi dissolvida na noite do mesmo dia em um golpe promovido pelo governo bolchevique, que a partir disso passou a perseguir as outras forças de esquerda(mencheviques, socialistas revolucionários, anarquistas), transformando os sovietes e sindicatos em correias de transmissão do Partido Bolchevique, até que poucos meses depois, foi introduzido o regime de partido único. E durante a guerra civil, o Exército Vermelho não combateu apenas os contra-revolucionários do Exército Branco e seus aliados das forças estrangeiras(americanos, britanicos, franceses, italianos, japoneses, etc). Também combateu os revolucionários anarquistas do Exército Negro, uma guerrilha camponesa liderada por Nestor Makhno, que havia promovido a reforma agrária no sul da Ucrânia e que teve um papel importante na derrota das forças brancas do general Anton Denikin. Além disso, o Exército Vermelho sufocou com extrema violência as revoltas camponesas que ocorriam devido a absurda política do "comunismo de guerra", estabelecendo os primeiros campos de concentração na Europa. Em março de 1921, o Exército Vermelho reprimiu com extrema violência, o levante do soviet de Kronstadt. Os revoltosos exigiam o restabelecimento do poder aos sovietes, com a libertação dos prisioneiros políticos de esquerda e liberdade para todos os partidos defensores da causa socialista. Mas foram chamados de "contra-revolucionários brancos" pela ditadura bolchevique, que os esmagou sem piedade, se esquecendo que Kronstadt sempre esteve ao lado da revolução. A revolucionária marxista Rosa Luxemburgo, que no clássico "Questões de organização da social-democracia russa", escrito em 1904, já havia criticado o modelo autoritario de partido defendido por Lenin, apoiou a Revolução de Outubro e os bolcheviques, mas manteve sua critica aos erros de Lenin e de seus camaradas, alertando para as consequencias do autoritarismo bolchevique, no clássico "A Revolução Russa", escrito em 1918. "A liberdade apenas para os partidários do governo, só para os membros de um partido - por numerosos que sejam - não é a liberdade. A liberdade é sempre, pelo menos, a liberdade do que pensa de outra forma (...). Sem eleições gerais, sem uma liberdade de imprensa e de reunião ilimitada, sem uma luta de opinião livre, a vida acaba em todas as instituições públicas, vegeta e a burocracia se torna o único elemento ativo. [...] Se estabelece assim uma ditadura, mas não a ditadura do proletariado: a ditadura de um punhado de chefes políticos, isto é uma ditadura no sentido burguês". (Rosa Luxemburgo; em "A Revolução Russa") Rosa Luxemburgo deixou claro em "A Revolução Russa", que ditadura do proletariado não é a ausência de democracia, muito menos obra de uma minoria agindo em nome da classe trabalhadora. "A democracia socialista começa com a destruição da dominação de classe e a construção do socialismo. (...) Ela nada mais é que a ditadura do proletariado. Perfeitamente: ditadura! Mas esta ditadura consiste na maneira de aplicar a democracia, não na sua supressão. (...) esta ditadura precisa ser obra da classe e não de uma pequena minoria que dirige em nome da classe". (Rosa Luxemburgo; em "A Revolução Russa") Segundo o cientista social Michael Löwy: "Constatando a impossibilidade, nas circunstâncias dramáticas da guerra civil e da intervenção estrangeira, de criar "como que por magia, a mais bela das democracias", Rosa não deixa de chamar a atenção para o perigo de um certo deslizamento autoritário e reafirma alguns princípios fundamentais da democracia revolucionária. É difícil não reconhecer o alcance profético desta advertência. Alguns anos mais tarde a burocracia apropriou-se da totalidade do poder, excluiu progressivamente os revolucionários de Outubro de 1917 - antes de, no correr dos anos 30, eliminá-los sem piedade." ( Michael Löwy; em "Rosa Luxemburgo: um comunismo para o século XXI") A esquerda precisa abandonar a cultura autoritária do bolchevismo(ou leninismo) e resgatar os clássicos de Marx e Engels, assim como deve buscar em Rosa Luxemburgo, Antonio Gramsci, e na chamada "Escola de Frankfurt", as bases na qual se fundamentar sobre o ponto de vista filosófico-ideológico. A esquerda precisa encarar o desafio teórico de um socialismo sem leninismo, e assim construir um socialismo com liberdade e democracia.
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 21:02:00 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015