LEMBRANÇAS DE MINHA TERRA – CAPÍTULO 72 “Vocês já viram - TopicsExpress



          

LEMBRANÇAS DE MINHA TERRA – CAPÍTULO 72 “Vocês já viram lá na mata a cantoria Da passarada quando vai anoitecer E já ouviram o canto triste da Araponga Anunciando que na terra vai chover...” (Penas do Tiê – Fagner) Aproveito o gancho concedido pela amiga poeta Lucinda Prado, que em sublime canção fala do Uirapuru da Amazônia, que conheço como “seresteiro, cantador do meu sertão...” e me vejo perambulando pelos campos de minha terra, apreciando a quantidade de pássaros que existia. Sei que alguns ainda são residentes nas matas e outros são visitantes e é possível que alguns já estejam extintos na natureza. As aves sempre me encantaram com suas cores, seus cantos e suas plumagens. Por serem pequenos, sempre desejei criar passarinhos em gaiolas, entretanto o bom senso e o bom conselho de minha mãe me desestimularam. Ela não aceitava aprisionar os pássaros em gaiolas, e tinha absoluta razão. Sempre me proibia de apedrejá-los, dizendo que eram também filhos de Deus. Minha saudosa mãe era um São Francisco de saias. Era comum a meninada caçar os passarinhos e outras aves, utilizando estilingues e bodoques ou aprisioná-los utilizando a sensacional arapuca e os alçapões das gaiolas. Alguns moleques matavam os passarinhos por pura diversão, já que nem todos eram comestíveis. Havia abundância de pássaros, eram comuns as revoadas de Andorinhas Pretas que assentavam na fiação elétrica, expostas aos “tiros” dos estilingues da molecada. O mestre do abate de Andorinhas era o Nêgo Lan, exímio na arte de atirar mamonas e pedras com seu estilingue. Outros pássaros habitam minha memória. As revoadas de Pássaros Pretos, o mesmo Assum Preto da música do Gonzagão, que dormiam nos bambuzais da casa do bahiano Argemiro Rangel e faziam uma algazarra danada com seu canto agudo e alegre. Ao contrário, o pequeno Tiziu nos fios das cercas de arames lançava um canto triste. O Inhambu Chitão era caçado nas palhadas de arroz juntamente com suas primas, a Codorna e a Perdiz, todos apanhados com tiros de espingardas. As caçadas eram comuns e muitas pessoas criavam cães de caça especializados em aves. Os mais famosos eram os cães perdigueiros. Tombaram muitas Jaós, Codornas, Perdizes e Inhambus. Outra ave comum na região era a grande Inhuma, habitando lagoas e terrenos brejados e que cedeu seu nome ao nosso vizinho município. Linda em seu vôo planejado e com um piado que nunca esqueço. Lá na represa do Dr. Ary Demósthenes eram comuns os Marrecos e os Paturis que se juntavam à criação que ele fazia de Patos e Gansos. Nos campos o Tesourão ou Tesourinha com sua gigantesca cauda, assentava nas moitas de assa-peixe, ao lado do Anu-Preto e do Anu-Branco, pássaros carrapateiros que limpavam os animais nos pastos. Nos pastos também a presença das Curicacas com seus gritos estridentes e que protegiam seus ninhos com vôos rasantes e perigosos, pois possuiam ferrões nas asas. Essa ave também é conhecida como Curica, Tetéu ou Quero-Quero e faz seu ninho no chão. Interessante os ninhos dos Inhambus com seus ovos azuis em tom pastel e o das Codornas, com seus ovos enferrujados. No alto dos céus o rei era o Gavião Penacho, em vôos sensacionais, despencando das alturas em busca de alimentos, tais como cobras, insetos, lagartos e outras aves, inclusive as galinhas nos terreiros. Entre os predadores também a Coruja Cinza e o Caburé. Tinha também o Mocho, que era uma coruja de orelhas, sensacional. Tanto as Corujas, como os Caburés faziam seus ninhos em buracos no chão e muitas vezes nos cupinzeiros nos pastos. Nas margens dos córregos vivia a Saracura-do-Mato que conhecíamos como Frango d’Água e nos quintais as Rolinhas, conhecidas como “fogo-apagou”, pelo tom solene de seu canto e as Pombas do Bando que mais espertas procuravam a copa das mangueiras, juntamente com a Juriti, sempre caçadas sem piedade, pelo sabor da carne. Lembro-me que as Pombas-do-Bando eram conhecidas como gemedeiras. Outras aves que também habitavam as mangueiras eram a Ararinha Azul e a Arara Canindé, juntamente com Periquitos, Jandaias, Maritacas e Papagaios, que além das frutas também saqueavam os milharais. Daí a expressão popular: Periquito come o milho e o Papagaio leva a fama... kkkkkkk Era comum ver-se também, aos pares, os Tucanos comendo mamão maduro. Diz a lenda que quando acasalam nunca mais se separam e quando se vê apenas um, é porque seu parceiro já está morto. Os mamoeiros e laranjeiras eram apoios para o elegante Sabiá com seu canto especial. Havia outros pássaros como um conhecido como Alma de Gato, o Pica-Pau, o Canário da terra, o João-de-Barro, o Bem-Te-Vi, a Gralha Amarela, o Coleirinha, uma quantidade enorme de Beija-Flores azuis, verdes, cinzas, todos lindos e com um vôo espetacular. Eles são as únicas aves que voam para trás e que “param” no ar. Outro único animal a parar no ar foi o folclórico jogador Dario Maravilha, que chegou a atuar em campos goianos. Algumas aves excêntricas como o Urutau nos paus secos, o Curiango e as Seriemas também povoam a minha memória. Meu pai chegou a criar um filhote de Seriema que fugiu num domingo qualquer, num dia de eleição... kkkkkk Sumiu, escafedeu-se, talvez contrariado com o tom da política... kkkkkk Cantava alegremente e era carnívora, meu pai o alimentava com generosos nacos de carne bovina, mas também rebuscava todo o quintal em busca de minhocas e outros insetos. Dizem que comia cobras! Hoje quase não tenho tempo para contemplar a passarada e quando observo só vejo os Pardais, pássaros reconhecidamente urbanos. As aves já foram motes para inúmeras canções, como a própria Seriema, o Sabiá e o Uirapuru. Lembro-me até que o grande cantor e compositor Ednardo chegou a usar da licença poética para chamar o Pavão de pássaro formoso, numa música tema de uma novela. Vamos nos perdendo em meio ao famigerado progresso que expulsa as aves do nosso meio e tira o amor do homem pela natureza. Ainda não tive o prazer de conhecer o Uirapuru da amiga Lucinda Prado, nem a Araponga e o Tiê de que fala o Fagner em sua canção. Esse deve ser lindo, com as penas da cor dos lábios de uma mulher... O textinho vai para minhas amigas Marise Barbosa e Erika Luciana amáveis criaturas que gostam de animais, especialmente os cachorros. De cachorro só gosto do cachorro-quente! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk brincadeirinha, ambas sabem que gosto dos animais. As duas são a melhor representação do velho Benedito Cardoso que viveu por muitos anos em nossa cidade...
Posted on: Thu, 14 Nov 2013 21:22:49 +0000

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