Lendo que no contrato de depósito o interesse principal do mesmo é a custódia da coisa (que abarca as noções de guardar e conservar) e no contrato de transporte de coisa o interesse principal é o próprio transporte, ainda que o transportador precise "guardar" tal coisa (sendo a definição de guardar "garantir a proteção de interferências externas e de terceiros"), lembrei-me do poema mais famoso de Antonio Cicero, de título "Guardar", que (in)felizmente me toma a mente e impede de prosseguir com total atenção no estudo do Direito Civil... Tal balanço sincero pelos enigmas deste verbo parece soar muito mais agradável nesta madrugada. GUARDAR (Antonio Cicero) Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro Do que um pássaro sem voos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar.
Posted on: Wed, 10 Jul 2013 04:30:30 +0000
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