MAYOMBOLA PARTE IV Fiquei apenas dois dias no hospital, estava - TopicsExpress



          

MAYOMBOLA PARTE IV Fiquei apenas dois dias no hospital, estava agora em Benguela em casa da mãe. Já tinham passado quase dez dias desde o incidente na esquadra de Cacuaco. Meti baixa médica na empresa, não fossem os colegas chamar-me "marido da bruxa" será que já sabem? Talvez. As noticias ruins correm rápido. Todos os dias procurava montar os pedaços da minha vida com Generosa, foram 12 anos de vivência que produziram dois filhos saudáveis. — Será que ela já era bruxa desde o namoro? Será que me meteram na Mayombola e por isso é que nunca percebi nada? As perguntas caiam no vazio. Os dias passavam e Eu não conseguia me recompor. Fisicamente estava um caco, cabelo por cortar, banho por tomar e barba por fazer. Limitava-me apenas em comer e dormir, dormir e comer. A minha mãe só lamentava. Inconformado, o meu irmão mais velho resolveu levar-me a um quimbanda, a minha mãe resmungou, não concordava era da legião de Maria e quimbanda a igreja proibia. — Mas mãe as tuas irmãs da igreja também fazem.— argumentou o meu irmão.— Se não levarmos esse miúdo num quimbanda bom, ainda vai só ficar maluco. Não estais a ver que já esta todo boélo. — Eu também quero que ele fique bom. Mas ir ao quimbanda? Oko! Isso eu nunca fiz e nao vou fazer agora que estou velha. — A mãe nao precisa ir eu vou lhe levar sozinho e ponto final. Não vou deixar o meu irmão ficar tantã por causa duma bruxa. — Pode lhe levar. Mas Se lhe acontecer alguma coisa na tua conta. O quimbandeiro era um senhor de meia idade. Eu sempre imaginei-os barbudos com cabelos grisalhos mas este, tinha uma aparência normal era até um tanto quanto charmoso. Sapatos cabedal, calças de ganga e uma camisa que combinava com a cor do cinto. Falava em português fluente, pese embora era perceptível um toque de interferência do Umbundo. Sentados no seu santuário, um pequeno jango construído no meio do quintal, o quimbanda conhecido por papá Moisés olhou para mim com indiferença depois de ter conversado demoradamente com o meu irmao mais velho. mandou-me tirar a roupa depois, pegou na sua quimbala com algumas mixórdias que não consegui identificar ao certo o que era. Começou a mexer os objectos e ao mesmo tempo murmurava orações imperceptíveis. Eu especado em frente dele só olhava. O quimbanda continuou o tratamento. Desta vez untou a minha testa com óleo de jibóia pegou num frasco onde continha uma mistura de agua com raízes pôs um bocadinho na boca e começou a borrifar-me o corpo todo. A seguir, pegou num ramo de eucaliptos com folhas verdes e começou a chicotear-me no rabo. Comecei a estremecer e a questionar se aquelas chibatadas eram mesmo necessárias. E foi assim que a sessão terminou. Estava a vestir a roupa quando papá Moisés começou a falar: — Filho você tem espírito forte, o problema é que te usaram muito. Mas vais ficar mbora bom. Estais a ouvir? Preparava-me para responder mas o mais velho não esperou pela resposta. Continuou dirigindo-se desta vez para o meu irmão. — O teu irmão está mbora bom ele não tem nada de mal. Só que vocês atrasaram descobrir e por isso lhe usaram muito. — Mas lhe usaram como papá? Perguntou o meu irmão. — É assim. Quando ele casou com a moça ainda não havia problema. Mas quando ele aceitou a sogra dele viver uns dias em casa dele é que começou a desgraça. A mais velha não era viuvá? — Sim. — Quem respondeu foi o meu irmão. — Então! Essa senhora é que mandou a filha meter medicamento na comida dele. Primeiro porque ele era muito mulherengo e a filha as vezes chorava na mãe. Foi quando a mais velha falou com a filha sobre os medicamentos e a filha aceitou. Afinal qual é a mulher que não quer o homem só pra si? — Papá Moisés esperou alguns instantes para que as suas palavras fossem bem assimiladas. — Só que nos medicamentos que a mais velha deu na filha para meter na comida do teu irmão estava misturado com outras coisas. A senhora perdeu o marido mas parece que não quis perder os privilégios que o marido lhe dava. — O quimbanda deixou as palavras se perder no ar para ver se entediamos logo a primeira. Quando percebeu que nem eu nem o meu irmão reagíamos, continuou. — Ela gostava do teu irmão meu filho. E não gostava só como genro. Tas a entender? — Isso quer dizer o quê papá? — Isso quer dizer que o teu irmão era partilhado na cama, pela mãe e pela filha. — O quê? Isso é verdade ó meu? — A pergunta era para mim mas quem respondeu foi o Quimbandeiro. — Você não entendeu meu filho. A sogra dormia com ele mas ele nunca percebeu isso por causa dos medicamentos que lhe puseram na comida. A mais velha ficou viciada com ele, parece que o rapaz tinha mesmo muita força. Mas, agora que ele está em casa da mãe o espírito da senhora já não consegue lhe entrar. Mas o tratamento que fizemos vai lhes afastar já nunca mais vão lhe montar. Ao deixarmos o santuário do Quimbanda, toda a gente no quintal me olhava com dó, e eu todo empertigado, caminhava lentamente em direcção a porta quando papá Moisés despediu-se. — Vai com Deus meu filho. A partir de agora estais livre. E saí da casa do Quimbanda com a imagem da mais velha Paulina toda ela ela desdentada, a me beijar e a fazer amor comigo. "Que raio de vida eu vivia."
Posted on: Wed, 21 Aug 2013 20:49:07 +0000

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