MEU AMIGO RUY BARBOZA –Ruy Fernando Barboza foi um ser humano - TopicsExpress



          

MEU AMIGO RUY BARBOZA –Ruy Fernando Barboza foi um ser humano raríssimo, desses que fazem a gente acreditar que a humanidade merece o espaço que ocupa no universo. Sua maior alegria – ele era, sobretudo, um ser alegre e feliz – era distribuir afeto. Vivia brincando com a vida. Fez isso até ontem, quando morreu em decorrência de complicações de uma cirurgia. Poucos dias atrás, quase na hora de ser submetido à cirurgia, postou aqui no FB um texto em que fazia declarações de amor a um insuspeitado órgão que, segundo o médicos, teria de perder: escreveu uma ode à vesícula. Escreveu com a mesma qualidade dos muitos textos que produziu, quase sempre marcados pelo bom-humor que era sua característica. Ruy foi um excelente escritor que, de certo modo, ficou oculto pelo jornalismo, já que insistem em dizer que este deve ser neutro, objetivo – essas conveniências da indústria da comunicação. Mas, com sua rara inteligência, bem que conseguiu driblar os vigilantes das redações, em duas das quais – Quatro Rodas e Realidade – convivi com ele. A convivência se prolongava nas rodas de amigos que ele animava com sua música e seu bom-humor. Poderia ter feito sucesso como músico profissional, mas preferia brincar com deliciosas paródias – conseguiu a proeza de fazer uma versão em "russo" do samba carnavalesco "Pega no ganzá", que cantava com sotaque de cossaco – ou composições originais em diferentes estilos musicais. Onde Ruy estava podia-se contar com a alegria. Ele fez parte de um trio de sucesso na redação da Quatro Rodas, onde por acaso reuniram-se três nomes famosos: ele, simplesmente Ruy Barboza, Mário Escobar de Andrade, que assinava Mário de Andrade, e Fernando Pessoa Ferreira, Fernando Pessoa, naturalmente. Um dia atendeu a um telefonema de leitor: – Aqui é o Ruy Barboza. Do outro lado da linha, o leitor pensou que estava sendo gozado. Disse, sério, que queria falar com um redator da revista. E o Ruy: – Tá aqui do lado o Mário de Andrade. Mais estranhamento do outro lado da linha: – Amigo, vamos deixar de brincadeira, me chame algum redator. Resposta: – Tá, então vou chamar o Fernando Pessoa ... Era assim o meu amigo Ruy. Brincava com tudo. Até com as sequelas de uma bala perdida que lhe acertou o fêmur quando passava de carro pela Linha Vermelha, no Rio de Janeiro. Da vesícula que lhe extraíram nunca se dera conta. Por causa dela se foi, deixando uma saudade imensa.
Posted on: Sun, 11 Aug 2013 15:38:02 +0000

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