MEUS PROFESSORES Meus primeiros exorcismos foram em sala de aula, - TopicsExpress



          

MEUS PROFESSORES Meus primeiros exorcismos foram em sala de aula, como aluno. A curiosidade, por si, não bastava. As frequentes cópulas com papiro tampouco me iluminavam por completo. Absorto, tateava as paredes do poço. Mas ouvia uma voz rutilante e estridente no eco dos desvarios. Meus professores não encheram o poço, mas me jogaram cordas vocais. Lutaram a meu lado contra minhas angústias e imperfeições. Mostraram-me como escalar. Respiro o gás que me ensinaram. Sou, acima de tudo, meus professores. Evoco-os a todo tempo. Hoje faço contas no mercado. Não coloco metal no micro-ondas. Identifico uma briófita. Cito Lima Barreto. Sei quem foi Toussaint L’Ouverture. Diferencio lei ordinária de complementar. Leio Vinicius. Escrevo “vicissitude”. Ouço Donga. Leio, escrevo, ouço. Tive professores amantes de doces, cervejas, charutos e orquídeas. Tive professores diabéticos. Cardíacos. Umbandistas. Roqueiros. Viajantes. Que conheciam a fragilidade de um rosto em dúvida. Que portavam olheiras e as distribuíam. Que conheciam as declinações do terno e profundo dialeto da insegurança. E a ela, traziam o antídoto. Nos melhores professores que tive, via a clara e mesma timidez dos alunos. São professores do que não são. Pediam licença para ensinar. Não tinham certeza de nada. Estavam aptos à surpresa de uma nova teoria. Eram alunos que, por engano, foram convidados a ficar de pé. Foram líderes de nada escolhidos por ninguém. Ponderavam. Pensavam. Ouviam. E, por isso, neles confiávamos. Agora, por alguns instantes, resolveram sentar nas carteiras, junto de nós. Estão cansados. Não veem frutos equivalentes a seus esforços. O partilhar é nobre e desgasta. Temos algo que eles nos deram. Inclusive a vontade da mudança. Meus professores expulsaram meus piores demônios, que não tiveram tempo hábil de nascer. Livraram-me do germe em potência da ignorância e da intolerância. Deram-me da água de Mnemósine. Mostraram-me o real Exu. Vestiram meu corpo quando estava nu. Deram-me de comer e de beber. Tive medo quando partiram. Mas segui. E estão vivos, comigo. E gritam. Todo apoio à greve dos professores. Lucas Gibson, 02/10/2013
Posted on: Thu, 03 Oct 2013 01:41:42 +0000

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