Mandei esta carta para um jornal. Duvido que seja publicada, mas a - TopicsExpress



          

Mandei esta carta para um jornal. Duvido que seja publicada, mas a divido com vocês: Prezado Sr. Editor Não desejo que esta carta seja vista como mais um desabafo de um médico. Minha intenção é contribuir para o debate, mas minha pretensão é combater a arbitrariedade contra uma classe de profissionais. Começo afirmando que não sou cego às deficiências de minha profissão: má formação médica e distanciamento dos pacientes,quando falamos de assistencialismo e péssima representação política (na câmara federal), sindical (que partidariza suas funções) e de classe (CRM distante dos médicos e partidarizado, entre outros defeitos). Tenho o hábito de escrever em uma rede social. Funciona, para mim, como um desabafo ante a situação da saúde brasileira, mas como sou lido por muitos médicos amigos, algumas vezes tenho a sorte de minhas opiniões serem debatidas. Para escrever, é claro, tenho de me informar e pesquisar. Para isto uso minha experiência profissional (19 anos de formado), minha vivência diária em hospitais públicos (dois), debato com colegas, ouço opiniões, leio livros sobre vários assuntos, discuto política de saúde e leio jornais e sites na internet. Isto forma a minha opinião, que pode ser certa ou errada, boa ou ruim, mas está sempre embasada. Temos uma situação de enfrentamento entre o poder executivo, parte do poder Legislativo, que dá apoio ao governo, e parte do Poder Judiciário, contra os médicos brasileiros.Há uma vontade do Estado brasileiro (já posta em prática) de nos jogar contra a população.Para podermos analisar como chegamos ao Mais Médicos (e não tenho a pretensão de esgotar o assunto!), faz-se necessário um pequeno esforço de memória. E a minha ainda é boa! Em 2003 publicou-se uma Lei que proibia a criação de novos cursos de medicina. A base da lei era que existiam médicos suficientes no Brasil. A lei é de autoria de um deputado- (ex)médico do partido governista. Naquele ano o Ministro da Saúde era um (ex) médico, hoje Senador do partido governista, e lhes pergunto...naquele ano faltavam médicos? O acesso à saúde era melhor ou pior? O investimento em relação ao PIB era menor ou maior? Em 2006, o ex-presidente da República, também do partido governista, disse que nosso sistema de saúde beirava a perfeição. Pergunto a vocês: naquele ano faltavam médicos? O acesso à saúde era melhor ou pior? Parafraseando a atual presidente do Conselho nacional de Saúde (CNS): “. “Considerando que as desigualdades de acesso à atenção e ao cuidado à saúde presentes no país justificam estratégias específicas emergenciais para suprir necessidades imediatas destas populações (carentes)...”...o que de fato mudou nestes anos que levou o governo e o partido governista a “acordar”para o descaso? Em Dezembro de 2012 já se anunciava a intenção do governo de importar médicos Cubanos. Escrevi sobre isto. E fui fazer um pequeno dever de casa, pois também àquela época anunciava-se a intenção de não submeter os médicos estrangeiros ou brasileiros formados fora do país ao Revalida: a taxa de aprovação beira o ridículo! Escrevi também sobre o número de leitos do SUS desativados no país, escrevi sobre as exigências feitas a médicos que querem trabalhar em países de primeiro mundo como EUA, Inglaterra, Alemanha, França, Austrália, etc. , escrevi sobre a situação caótica do hospitais universitários, sobre a quase total ausência de regionalização no SUS, sobre o baixo investimento em relação PIB, principalmente quando comparado a países como Chile e Argentina ( EUA, Japão, Inglaterra e Alemanha é covardia), escrevi e escrevi.... E veio Junho...E vieram as manifestações...E o governo e a presidente do país e o partido governista tiveram que vir a público dar alguma satisfação...e vieram as propostas: aumentar o número de vagas para estudantes de medicina! Mas como? Dez anos antes éramos formados em números suficientes! Mais uma: aumentar o curso em dois anos com serviço civil obrigatório! Caiu por terra! O IPEA provou em números que faltavam médicos e pronto: o Ministro da Saúde tinha o cenário ideal para lançar o Mais Médicos. O Mais Médicos teve baixa adesão, pois apenas 13% das vagas foram ocupadas. E vieram os Cubanos em uma canetada. É claro que isto já estava armado. O custo do Mais Médicos, apenas com salários seria algo em torno de R$150.000.000 (15.000 vagas multiplicado pelo valor da bolsa que é de R$ 10.000). O custo com os Cubanos (4000) é de 40.000.000. Pergunto: onde estava escondida esta dinheirama do governo federal? Navegando por sites de apoio ao governo e por sites contrários ao governo encontra-se todo tipo de radicalismo. Encontrei algumas pérolas nos sites de apoio ao governo: - nos acusam de não ser patriotas -nos acusam de ser playboyzinhos mimados -nos acusam de não saber a função social do trabalho -nos acusam de sermos mercenários A Pátria está cuspindo em nossas caras. Nós que seguimos as leis e tivemos algo que é quase um palavrão neste país: mérito de passar em todas as provas que a lei nos exige! Na média nos formamos com 24 anos e, quando ganhamos dinheiro durante a graduação, são bolsas muito modestas. A função social de nosso trabalho é alcançada por ele mesmo, mas talvez seja exigir demais que um fanático entenda o paradoxo apresentado. Somos tão mercenários quanto qualquer outro trabalhador, pois recebemos pelo que fazemos: isto se chama capitalismo. Quando somos assalariados, na imensa maioria das vezes passamos em concursos, mas sem as benesses de, por exemplo, juízes ou sem mesmo um plano de cargos e salários. Encontrei ainda outra pérola: a oposição está assustada com potencial eleitoral que o Mais Médicos tem! Então é isto: ventila-se que o Ministro será candidato ao governo do estado dele e os que vivem da política mesquinha que existe no Brasil resolvem nos tratar como párias. Não encontrei, nos sites governistas, uma só palavra de repúdio à exploração dos homens e mulheres que foram trazidos de Cuba e cujos salários serão repassados pelo governo daquele país, sabe-se lá como! Quem vai fiscalizar? A OPAS? A Justiça do Trabalho brasileira? Uma palavrinha sobre nossos órgãos de representação: ao acordarem tardiamente para os planos do governo, descobriram que a principal briga da medicina brasileira nunca foi contra os planos de saúde, mas dos poderes da República contra os médicos! A conclusão óbvia de tudo o que vai acima é que nem o partido governista e nem nenhum outro, que já tenha passado pelo Planalto, jamais teve qualquer projeto para a saúde do Brasil. A Saúde sempre foi usada como moeda de troca para cargos de confiança. Pergunte a qualquer político de qualquer partido, qual o projeto dele para a saúde. A resposta será sempre a mesma: mais hospitais, mais investimento, mais leitos,menos corrupção...ou seja,o óbvio, mas que nunca é explicado ou realizado. De onde menos se espera, é de lá que não vem nada mesmo. Finalizando: há propostas para melhorar a qualidade assistencial no Brasil (eu não acho que ela beira a perfeição): carreira de estado para médicos é uma delas; administração técnica e não política dos hospitais; abertura dos milhares de leitos fechados; investimento maciço em Hospitais Universitários; parcerias com ONGs (por exemplo Médicos sem Fronteiras) para que a atenção básica chegue a áreas isoladas ou até mesmo a boa idéia de permitir aos médicos militares terem dupla função. Como colega dos médicos estrangeiros, desejo-lhes sorte e sucesso. Desejo o mesmo para os pacientes. Do governo do meu país, exijo respeito como profissional e cidadão. Obrigado por sua atenção. Rodrigo Barbosa
Posted on: Mon, 26 Aug 2013 02:12:43 +0000

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