"Mas acho que isso é um mecanismo de auto-afirmação comum: as pessoas maximizam o que há - em casos mais extremos, até o que imaginam ter - disponível em torno delas, na tentativa de parecerem maiores do que são. Mais significantes, excepcionais. Poucos se satisfazem em ser só um, mais provavelmente os que admitem isso publicamente. No final, é isso, as pessoas tendem a dramatizar, ampliar, o real e o imaginário do que lhe circunda: seus cenários, personagens, tramas. Pois nos dias de hoje, é ainda mais improvável deixar marcas ditas "eternas", deixar legados e lições: somos tão plásticos e descartáveis quanto os nossos objetos materiais de desejo. Não é aceitável ser esquecido pelos companheiros numa mesa se bar. Muito menos ter beijado sem ter sido o melhor, o arrepio maior. Impensável contar qualquer história que não seja de total aventura, emocionante, hilária, "boquiabrível". Nunca contos aumentaram tantos em pontos. Nunca contos viraram, tão facilmente, odisséias inteiras. Sozinho, sou só um ser sendo humano. Mas se precisar que eu te conte algo sobre mim: matei dragões, nadei nu entre tubarões e sereias, li dez vezes cada obra de Dostoiévski e toda essa minha maturidade vem da infância sofrida alternando as férias entre a Europa, o litoral brasileiro e vez ou outra no México. Até onde, afinal, somos o que somos nós?"
Posted on: Wed, 14 Aug 2013 22:20:54 +0000
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