Mestre Didi (1917-2013) UM GRANDE ANCESTRAL DE VOLTA AO ORUM O - TopicsExpress



          

Mestre Didi (1917-2013) UM GRANDE ANCESTRAL DE VOLTA AO ORUM O brasileiro chega a Lagos numa segunda‑feira. Aliás, no primeiro dia da semana, pois, a rigor, a semana iorubá tem só quatro dias: (…) Mas o fato é que três dias depois, Bento viaja para Ibadan, onde, após ter se apresentado ao ojubó‑babá, o assentamento de seus ancestrais, fica morando provisoriamente. Com a ajuda de seu primo Olabiyi, começa a fazer viagens curtas, mantendo os primeiros contatos. Atravessa a fronteira, passando por vários povoados, descendo e subindo ladeiras, vencendo campos de lindas paisagens, estradas poeirentas de terra vermelha, e vai até o Daomé. No Daomé, Bento chega até o reino de Ketu, onde visita o rei, entregando‑lhe uma garrafa de bom vinho francês, comprada num armazém de Cotonu. O rei recebe o estrangeiro com curiosidade, abre cerimoniosamente a garrafa de vinho, serve um pouco a cada um dos presentes, dignitários de sua corte, servindo‑se por último. Conversa entabulada, Bento, em seu iorubá claudicante, diz ao rei ser descendente de Ketu… Da nação de Ketu. O rei sabe que ele é brasileiro, mas estranha um pouco. Porém, Bento, depois de pedir agô, licença, começa a cantar, marcando o ritmo na palma da mão, uma série de cantigas que conhece desde menino. Bento não conhece o exato significado das cantigas. Mas sabe que elas falam do povo de Ketu, suas glórias, seus reis, e de Oxóssi, seu orixá maior. Fará Ketu Ilê, Fará imorá! O Alaketu, o rei, se espanta e se emociona. Como, apesar de toda a destruição, de toda a despersonalização causada pela brutalidade do tráfico, os descendentes de Ketu, nascidos lá do outro lado do oceano, ainda conservam a memória de seus feitos?! Bento, então, para de cantar e declama: Omó modù isokú/Omo bará kelù/Omo e si nu lê… É o oriqui, o brasão falado de sua família. – Ah! Omó modù isokú… Sua família mora lá, atrás daquele pé de arabá, daquela árvore grandona, cheia de espinhos – exclama o rei. A notícia corre; e a festa é grande. Toda a família vem ver o parente brasileiro. Que visita o assentamento dos ancestrais, participa dos rituais de praxe, canta, dança, namora, bebe e come, muito, tudo muito, durante três dias. ** Este texto de ficção é parte do nosso romance “Esta árvore dourada que supomos”, publicado em 2011 e sumido das estantes porque a Babel Editora implodiu. Ele se baseia em um acontecimento real, vivido pelo venerando Dioscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre de Didi, falecido dias atrás. Nascido em 1917, o baiano Mestre Didi foi, além de importantíssimo líder religioso, um grande intelectual e artista. Filho biológico da legendária ialorixá Mãe Senhora, uma das lideranças responsáveis pela dignificação dos cultos afro-brasileiros e descendente direto de africanos do reino de Queto (Ketu), foi, em seu tempo, o mais alto dignitário do culto aos ancestrais nagôs na Bahia. É também autor de importantes livros sobre a tradição de seus antepassados iorubás em terra brasileira, como Contos negros da Bahia e O iorubá tal qual se fala. Este, publicado em 1950, vem a ser o primeiro manual com vocabulário dessa língua editado no Brasil. A partir da década de 1960, fez diversas viagens à Nigéria e ao Benin para cumprir obrigações religiosas. Em 1998 recebeu da Presidência da República a medalha Direitos Humanos, um Novo Nome da Liberdade; e, mais tarde, outras láureas importantes Nossa convivência com Mestre Didi, nas décadas de 1970 e 80, embora não tão frequente quanto desejávamos, foi propiciadora de momentos de grande prazer e aprendizagem. À sua memória, e com sua licença, dedicamos, também, nesta oportunidade o informe no post ‘O QUE O ESTADÃO NÃO PUBLICOU’. Ibaê !!!
Posted on: Mon, 07 Oct 2013 18:35:11 +0000

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