Milan Kundera dizia que os grandes clássicos da literatura são - TopicsExpress



          

Milan Kundera dizia que os grandes clássicos da literatura são registros da complexidade da vida humana. Seu próprio espírito, dizia, é o espírito da complexidade. Neste sentido, tiramos duas lições da leitura de grandes obras de ficção. A primeira: Todo indivíduo é uma unidade complexa e ao mesmo tempo dramática. A segunda: A complexidade de cada ser humano é inabarcável. Vejamos dois excertos significativos. No romance Dados Biográficos do Finado Marcelino, de Herberto Sales, na medida em que o narrador estreita a pesquisa em torno da imagem biográfica do finado tio, — a vê esgarçar-se, fugidia, qual neblina: “E nesse caso, onde iria eu encontrar o senso do flagrante, a vocação do perfil, a ciência da análise, o vigor do estilo, numa palavra: o talento, para reter no papel o retrato de tão heterogênea criatura?” E mais: “se eu chegasse a traçar-lhe o retrato, me veria na contingência de também retratar toda uma galeria de tipos” (Herberto Sales, Dados biográficos do finado Marcelino) Cyro dos Anjos também deparou-se com o problema. Belmiro, personagem de O Amanuense Belmiro descreve sua dificuldade em compreender Silviano: “Estranho homem, Silviano. Não conheço criatura mais complexa. Às vezes tenho a impressão de que, em frente dele, me acho em presença de um ser múltiplo ou, antes, perco a noção de “ser” para ter apenas o pressentimento de que lido com algo extra-humano e puramente cerebral, qualquer coisa como um conflito de paixões que transborda das fronteiras do indivíduo. E há tudo nele, desde o ridículo até o espantoso. [...] Há nele uma nebulosidade permanente”. (Cyro dos Anjos, O Amanuense Belmiro)
Posted on: Mon, 18 Nov 2013 08:22:14 +0000

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