Muito Bom que o Brasil tem Washington Novaes e Leonardo Boff - TopicsExpress



          

Muito Bom que o Brasil tem Washington Novaes e Leonardo Boff leonardoboff.wordpress/2013/06/08/o-privilegio-ecologico-brasileiro-e-o-pib-pequeno-segundo-w-novaes/ Há uma intensa discussão em curso, na qual o governo federal parece quase isolado em suas posições. É a respeito do ritmo descendente de crescimento do Produto Interno Bruto – o PIB -, que no primeiro trimestre deste ano foi apenas 0,6% maior que o dos três meses anteriores. E levou a previsão de várias instituições para o ano a um aumento de apenas 2,4%, quando se calculava antes 3% ou mais. A própria OECD, que calculava esse crescimento em 2013 na faixa dos 4%, agora baixou para 2,9% e para 3,5% no ano que vem (antes, 4,1%), segundo noticiou este jornal no último dia 31. Diz o ministro da Fazenda que “criar empregos é mais importante que crescer o PIB”. Segundo ele, “a crise não afetou a maioria da população”. É discutível. As faixas mais pobres no país cortaram em 11% suas compras de produtos básicos no primeiro bimestre do ano (ESTADO, 25/4). A inadimplência no país passou de 5,1% no ano passado para 6,49% em abril último (19/5); 18 milhões de pessoas trabalham sem carteira assinada, 15 milhões por conta própria (IBGE, 1/5); 90 mil crianças de 5 a 9 anos trabalham, 1,1 milhão entre 9 e 14 anos também. Se forem adotados os critérios da ONU, praticamente todas as pessoas beneficiadas pelo Bolsa Família vivem “abaixo da linha da pobreza” (que é de 2 dólares ou pouco mais de 4 reais por dia). O pessimismo mais recente diante das estatísticas brasileiras avança também pela área da dívida nacional, pois chegaremos a um “rombo” nas contas externas equivalente a 3% do PIB (23/5). As estimativas para a dívida pública estão em R$1,95 trilhão; ela exige juros de 9,74% ano (Agência Estado, 26/4), muitas vezes o gasto com todo o programa Bolsa Família. E a fatia do Brasil no comércio mundial caiu de 1,4 para 1,3% (11/4), quando era de 1,5% em 1985. Segundo alguns economistas, há produtos que o Brasil vende hoje para o exterior a preços inferiores (corrigida a inflação) aos que vigoravam antes da grande depressão da década de 1930. Praticamente não teríamos caminhado nada, apesar dos enormes incentivos fiscais e de outros tipos. E ainda hoje estaríamos patinando sem sair do lugar, ocupando o 22.o lugar no mundo entre os países exportadores. Mesmo com a Europa em recessão (PIB de menos 0,2% no primeiro trimestre, desemprego médio de 12,2%, mas de até 27% na Grécia e perto disso na Espanha, situação brutal entre os jovens (16/5). Não bastasse tudo isso, muitos economistas tratam, cada vez com mais freqüência, da chamada “crise da finitude de recursos”, consumo global de materiais (7 toneladas por habitante/ano) acima da capacidade de reposição do planeta. E tendendo a agravar-se, porque com o aumento já previsto de pelo 2 bilhões de pessoas até 2050 esse consumo, nos níveis atuais, chegaria a 65 bilhões de toneladas/ano. “O atual sistema no mundo está falido”, já se manifestou há uns dois ano o Blue Planet, que reúne 20 cientistas ganhadores do Prêmio Nobel Alternativo. Na conferência Rio + 20, o próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, falou em “exaustão do sistema econômico e social” planetário. E onde fica a saída ? A própria Universidade da ONU apresentou, na Rio + 20, seu estudo sobre um novo índice para calcular a situação de cada país, cada região – o Índice Inclusivo da Riqueza (IWR). Ele acrescenta aos fatores já avaliados pelo PIB e pelo Índice de Desenvolvimento Humano da própria ONU, através do PNUD – que inclui saneamento, expectativa de vida, educação e outros fatores – , a saúde, a segurança ambiental, os ganhos e perdas de recursos naturais nos ecossistemas. Por esse caminho, no estudo que foi feito pela Universidade para o período 1990/2008, a China, que teve um crescimento econômico de 422%, vê-lo-ia reduzido para 37%, com as perdas de recursos naturais; o Brasil, em vez de crescimento de 37%, teria 13% no mesmo período. Se a questão central, como dizem economistas, está na crise de recursos materiais, o índice vem para o centro do palco.E a avaliação da situação brasileira não deve ficar restrita ao crescimento econômico. Tem de deslocar-se para uma estratégia que leve em consideração o privilégio brasileiro em matéria de insolação permanente, recursos hídricos, biodiversidade, possibilidade de matriz energética “limpa” e renovável, com energia de hidrelétricas, energias eólica, solar, de marés, geotérmica, de biomassas (cana, dendê, pinhão manso e outras). É um alto privilégio e o será cada vez mais, nos tempos difíceis em que navegamos no mundo. Discute-se cada vez mais, entretanto, como mudar os modos de viver no mundo, torná-los compatíveis com os recursos disponíveis. E como fazer isso se cada país encara a questão de uma forma diferente, cada empresa tem sua estratégia própria e diferenciada, até cada pessoa comporta-se de forma a atender a seus interesses específicos. Como chegar a uma estratégia global adequada, sem a adesão geral ? Como observa o respeitado Edgar Morin, “há alguns processos positivos, mas eles permanecem invisíveis ou são pontuais (…) O provável não é definido, permanece incerto (…) É preciso resistir e construir o improvável (…) O que é preciso reformar ? As estruturas sociais e econômicas ? Ou as pessoas e a moral ? (…) Esses processos têm de vir juntos (…) A metamorfose é possível e torna possível criar um novo modo de desenvolvimento e um novo tipo de sociedade, que não podemos prever, mas que ultrapassa a expectativa dos indivíduos e da sociedade atual” (Le Monde Diplomatique, dezembro de 2012). Por isso tudo, Morin recomenda a todas as pessoas, estejam onde estiverem, que lutem “pelas mutações, quer elas tenham dimensão global ou local”. A briga não está confinada, portanto, ao crescimento econômico, ao PIB – embora suas múltiplas dimensões tenham de ser consideradas. Mas é preciso pensar muito além.
Posted on: Thu, 27 Jun 2013 09:23:05 +0000

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