NA SÍRIA, O BICHO PEGA Entre o tropel dos camelos e a mira - TopicsExpress



          

NA SÍRIA, O BICHO PEGA Entre o tropel dos camelos e a mira certeira dos lança-mísseis dos Estados Unidos, no caso da Síria, há uma boa carga de complicadores para o presidente Barack Obama. Mas, ironicamente, quem o está tirando da enrascada é seu adversário predileto, o presidente russo, Vladimir Putin. Na jornada de negociações realizada semana passada em Genebra (Suiça), um território tido como neutro, chegou-se até aqui a um acordo cuja pauta foi colocada na mesa pelo chefe da diplomacia russa, o chanceler Sergei Lavrov. E este, parece claro, acertou os bigodes com o governo sírio antes de propor o ajuste. Ficou acertado que a Síria entregará até 21 de setembro próximo a lista dos locais onde armazena armas químicas. Os sítios serão vistoriados por inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) até meados de novembro vindouro. Confirmada a existência e os locais, os artefatos serão destruídos pela ONU até fins de 2014. A proximidade com a Rússia é o que abre caminhos pra conversas. Afinal, a Síria hospeda a única base militar russa em território estrangeiro, o que é um exemplo do nível dessas relações entre os dois países. Essa afinidade, aliás, vem desde a antiga União Soviética, que apoiou os sírios após a criação do estado de Israel, especialmente na Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando tropas e bombardeiros israelenses tiraram da Síria as Colinas de Golan. Além do mais, a Síria não é uma republiqueta qualquer, onde a invasão de tropas ou mesmo bombas lançadas à distância passem batido, como se nada ocorresse. Trata-se de um país com 22 milhões de habitantes, que tem uma economia diversificada, com parque industrial, agropecuária e infraestrutura turística modernas. Damasco, a capital, é uma espécie de Brasília, ou seja, uma cidade voltada para sediar o governo e oferecer serviços, como o turismo, com 2,7 milhões de habitantes. A São Paulo de lá seria Aleppo, que controla a atividade econômica e é também o centro urbano mais populoso, com 3,2 milhões de habitantes. A localização estratégica do país é outro aspecto levado em conta. Seu litoral é o belicoso mar Mediterrâneo. E faz fronteira terrestre com outros cinco países: Israel, Turquia, Iraque, Jordânia e Líbano. Qualquer conflito armado, ali, tem repercussão em toda a região. Um ataque externo pode, desde logo, envolver gravemente Israel. As forças armadas, bem equipadas, estão sob controle do Baath, o partido do presidente Bashar al-Assad, que está no poder desde o ano 2000, quando morreu seu pai, Hafez al-Assad. Este governou o país desde 1970, quando pôs fim a um suceder de golpes militares e conflitos internos. Seu governo manteve uma postura laica, autônoma, e chegou a apoiar os EUA na dramática invasão do Iraque, em 1991. Não nos esqueçamos de que algumas fronteiras nacionais no Oriente Médio são bastante artificiais, já que guardam as distorções de partilhas feitas durante o domínio colonial, em especial da Grã-Bretanha e da França, até a 2ª Guerra Mundial. A Palestina, embora reconhecida como estado autônomo pela ONU, tem um território esfacelado. Os atuais conflitos internos na Síria envolvem diferentes facções, sendo que as forças de oposição a al-Assad têm muitas divergências entre si, de modo que não se pode sequer apontar um comando político com o qual se possa negociar. Quem arma esses grupos é uma informação que o presidente Obama poderia dar ao mundo. No momento, a possibilidade de os EUA atacarem o país responde a pressões da sua indústria de armamentos, como denunciou o Papa Francisco em recentes pronunciamentos no Vaticano. É um setor com enorme força política, que financia campanhas eleitorais, mas precisa de guerras pra manter seus bombásticos lucros. Ocorre, contudo, que o mundo vive um momento diferente, sob o impulso de movimentos populares que se espraiam por todos os quadrantes. Obama já percebeu que uma ação unilateral não terá apoio internacional, pois a maioria dos blocos e países consultados, inclusive o Brasil, é contra ação unilateral. Mas o pior, pra ele, é a oposição interna, já que o próprio congresso dos EUA promete lhe negar uma carta branca, que se tornou imperiosa. Segue, em verdade, pesquisas de opinião pública que revelam desaprovação da sociedade americana a um possível ataque sem o beneplácito da ONU. Uma nova guerra, agora, seria um desastre pros EUA. Especialmente no caso da Síria, onde o bicho pode pegar. Portanto, a proposta russa de obter uma clara promessa síria de destruir armas químicas que o país possua é o que dá argumentos ao recuo de Obama. Até porque o mesmo compromisso não está sendo cobrado de aliados seus naquela região, como Israel e Arábia Saudita. js-15set13
Posted on: Mon, 16 Sep 2013 15:42:09 +0000

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