NUNCA SOUBE O SEU NOME Quando a vi pela primeira vez praticamente - TopicsExpress



          

NUNCA SOUBE O SEU NOME Quando a vi pela primeira vez praticamente nem a vi. As pessoas, em sua maioria, não costumam prestar muita atenção às varredoras de rua. Mas Maria parece não se importar com isso, porque também não presta muita atenção às pessoas que passam por ela, uma vez que está sempre olhando para baixo, à procura do que varrer. É baixa e magra, como convém a alguém que sempre comeu muito pouco, e sua pele tem a coloração típica dos que tomam sol, chuva, mormaço, ou qualquer coisa que não se possa escolher ou evitar. Assim era Maria, que há alguns meses começara a trabalhar no serviço de limpeza pública da cidade, e como desde o início, religiosa como era, cuidava da limpeza da antiga igreja de São Paulo, do século passado, admirada pelos seus ornamentos banhados a ouro feito à mão e pelas pinturas divinas espalhadas pelo santuário. Famosa pelos casamentos celebrados, praticamente todos os habitantes daquela cidade se casaram lá, assim não seria diferente naquele dia maravilhoso, em que seria celebrado um dos casamentos mais aguardado da cidade. Me refiro ao casamento de Lucinha e Alfredo, mas não quero focar na história do casal, mas sim, no que me aconteceu, que foi o dia em que meu coração ficou aos pulos, quando conheci a morena que mudaria o rumo da minha vida. Lucinha, pobre, semi-analfabeta, uma simples babá, iria e casar com Alfredo, viúvo, proprietário dos Chocolates Serra, indústria conhecida no país inteiro. Eles se ligavam e basta. Lucinha pobre e solitária, Alfredo rico e solitário, apesar de três filhas casadas. Naquele dia se uniriam na igreja mais famosa da cidade e viveriam felizes ou infelizes, como habitualmente acontece. A diferença de idade não mais importava, Alfredo com sessenta e cinco anos de idade, tão possessivo e tirânico como sempre fora, e Lucinha que já estava com vinte e oito anos, simples e discreta como covinha a ser. As pessoas que a conheceram no passado não a esqueceram, em particular, pela sua extrema beleza, sim, porque Lucinha era de uma completa simplicidade. Pobre, solitária e bela que atraía homens e propostas de todas as categorias. Propostas sórdidas ou preciosas. De amor ou de profissionalização. Toda sua vida uma proposta. Alfredo também não escapou da sua graça. Lucinha aceitara casar com uma condição: casaria no altar, de véu e grinalda. Fora o único sonho que jamais tivera. O vestido seria o mais bonito, a grinalda, o buquê seriam os mais perfeitos. Não queria muitos convidados, mas a igreja também estaria tão cheia de luzes e de flores que ninguém esqueceria. O casamento teria de ser discreto e inabalável. Queria o vestido de noiva, o esplendor da igreja, as flores, o infinito naquele momento. No dia do casamento Lucinha mais parecia um anjo ou uma flor, uns olhos mágicos. Aquele dia, foi o mais comentado por semanas na cidade. Enquanto estávamos todos - os poucos que foram convidados para o casamento, não passara de trinta pessoas – ali sentados assistindo o padre Osório celebrar aquela união matrimonial, pude avistar à minha esquerda, aquela morena da pele bronzeada, com seus cabelos negros soltos, tão simples e bela, serena, atenta a tudo. Não sabia mais se prestigiava o casamento ou olhava para aquela morena, meus olhos fitados em sua beleza enquanto me pegava sorrindo sozinho em meu lugar. Tenho apenas vagas lembranças da palavra do padre Osório ao celebrar aquele casamento, inevitavelmente minha atenção fora desviada para aquela moça. Nunca soube o seu nome. A verdade é que a cena que se deu naquela manhã friorenta de agosto desde então não saiu mais da minha cabeça. Por onde quer que vá, a sensação é a mesma. Parece que ela me persegue, como a querer dizer algo que eu, na minha nada santa indiferença, com muito esforço, pude compreender... CONTINUA... Thayron Sabino
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 13:49:23 +0000

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