Na altura em que as "rodinhas" vieram para a rua, houve uma que se tornou popular com o nome de Gorbachev. Havia pessoal que ia todos os sábados à discoteca mais na berra no Norte, localizada em Gaia, onde o arrumador mal os via a chegar, acercava-se deles e despacha logo uma ou duas aos mais destrambulhados. Nesse tempo, havia quem gostasse de dançar, curtindo com Gorbachev na cabeça. Conheci Gorbachev de um modo inusitado. Certo dia, logo pela manhãzinha veio ter comigo uma colega de televisão, cheia de ansiedade. porque precidsava duma imagem de "Gorby". O seu rosto mal era conhecido, pois ele acabara naquele preciso momento de tomar o poder na URSS. Nem as nossas fontes de notícias estrangeiras, tinham a cara do homem. - Nós temos. Temos! Temos! Estão no caixote do congresso do PCP no Palácio de Cristal - dizia-me ela, uma das melhores repórteres portuguesas com quem trabalhei, com a voz cada vez mais grave, quase irritante. E eu lá fui à procura do tal caixote e, quando o encontrei, deparei-me com cerca de 50 cassetes cheias de imagens nunca visionadas do tal congresso do Partido Comunista Portugês. Virei-me para a jornalista e atirei: - E agora. Como o reconheço nestes quilómetros de fita! Ela fez uma pausa de segundos e fixou-me nos olhos. E disse segura de si: - Ele discursou lá. É um homem que tem ao centro da testa o mapa da Rússia assinalado por uma rosácea. E foi assim que encontrei Gorbachev pela primeira vez. In "Noites de relampago" 23 agosto 2013
Posted on: Sat, 24 Aug 2013 00:08:03 +0000
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