No Maracanã, a Dilma seria vaiada mais uma vez por brancos! – 4 - TopicsExpress



          

No Maracanã, a Dilma seria vaiada mais uma vez por brancos! – 4 de julho de 2013Publicado em: Étnico-racial, Notícias dilma maracanaPor Fausto Antonio O governo Dilma poderia ter pensado em políticas populares para os jogos da Confederação. São medidas táticas indispensáveis para quem é (apenas) governo. Nesse caso teríamos outro tratamento para os processos de uso das verbas, de construção dos estádios, para a desapropriação e “deslocamento” dos pobres/negros e também para se contrapor à pacificação/militarização dos morros do Rio de Janeiro, etc. Faltou ainda uma política popular para garantir o acesso dos pobres aos jogos da Copa das Confederações. Falhou e ficou, ela e o governo, sem o anteparo popular/negro. Vieram as vaias brancas. A parelha classe/raça nas vozes animadas pela mídia e pelos privilégios de sempre. É um fato. Mas o racismo revela, de modo acabado, a questão central, isto é, o poder (não apenas o nosso governo e os seus erros e acertos, inclusive no tocante à questão racial). Branqueamento e poder Aproveito o preâmbulo acima para “analisar”, é uma constatação da extensão do racismo à brasileira, a ausência de negros/negras e crianças negras no público, nas “arquibancadas”, do Maracanã no jogo Brasil e Espanha. Assisti ao jogo num bar e a TV estava conectada no canal Sport TV. A emissora efetuou, considerando o pré-jogo, a chegada da seleção e o jogo em si, aproximadamente 500 tomadas. Num das tomadas, coisa rara, o locutor apresentou o pai do Fred, centroavante, um dos poucos negros presentes no estádio. Em outras três imagens, nesse total avassalador, outros raros negros apareceram. Mulheres negras em profusão e as crianças, então,só em sonho, só no Reino da Carapinha ou no cotidiano e espaços banais das nossas ruas, periferias, morros, favelas e cidades. No lugar comum, duramente instituído pelo racismo à brasileira, os negros animaram a festa, no Maracanã, na voz de Jorge Ben Jor e na apresentação de uma bateria de escola de samba do Rio de Janeiro, cujo nome não registrei. Os negros eram também maioria na seleção em campo: Daniel Alves, Tiago Silva, Marcelo, Luís Gustavo, Paulinho, Hulk, Fred e Neymar. Futebol e música são,infelizmente, espaços seletivos, quase brechas únicas, para a ascensão do negro no Brasil. A grande imprensa, a exemplo do pensamento hegemônico no país, naturaliza o racismo à brasileira. O público presente no Maracanã reafirmou as bases do sistema racista à brasileira, isto é, a política /ideologia de democracia racial, mesmo sem os negros/índios, de branqueamento como ideal do país (vide imagens e corporeidade e acesso aos bens materiais e culturais) e de silêncio em torno dessa perversa exclusão de teor/conteúdo racista. O episódio permite, sobretudo,a constatação da profundidade de raiz do racismo instituído entre nós. Além de deitar raiz na base estrutural da sociedade brasileira, o racismo está profundamente fossilizado, não apenas cristalizado, no imaginário e caráter nacional. O Maracanã e o Rio de Janeiro, espaços emblemáticos da presença negra (nas favelas, morros,nos genocídios e no cotidiano do samba e do futebol ) se transformaram nas telas, nas arquibancadas e no cerco, no terror cotidiano das “polícias pacificadoras”, na negação da corporeidade negra. Além dessa constatação é preciso, considerando as ruas e o movimento em marcha, que os negr@s organizados do PT e os militantes antirracismo tomem a dianteira e convoquem uma reunião para, em conjunto com os setores do movimento negro brasileiro e negr@s militantes antirracismo organizados no campo de esquerda, discutir o sentido de uma intervenção que equalize, do ponto de vista da correlação de forças, a inquestionável fragilidade no tocante á composição e á política étnico-racial no movimento, que se traduz na irredutibilidade de classe e raça e/ou na transformação radical dos problemas estruturais sedimentados pela parelha classe/raça a partir do território, do lugar e do cotidiano. O Maracanã é apenas uma fotografia do processo, e como tal não revela tudo. Mas o parcial, a serviço de um olhar sistêmico e corajoso, pode dar discas de como o movimento das ruas, de certa forma hegemonizado pela mídia, deve ser visto como uma situação estrutural em movimento e no movimento que a mídia branca anima. Branquitude e poder Os estudos do racismo à brasileira ou das relações étnico-raciais falam, de modo unilateral, quase que exclusivamente de um problema do negro brasileiro. A branquitude, a despeito de ser guardiã e núcleo dos privilégios brancos e do poder, é raramente objeto de análise e de explicitação teórica. O humano universal, ou a sua tradução entre nós, é o branco. Silenciar sobre o branco nas análises do racismo à brasileira, sobre os efeitos da herança branca da escravidão, do modo como se deu o fim do trabalho escravizado e se consolidou a sociedade pós 13 de maio de 1888, é algo natural entre nós. Fato que impede, neste círculo concêntrico, a abordagem da racialização do branco. O que leva a branquitude, é exemplar o público presente no Maracanã no jogo Brasil e Espanha, a não ter de pensar sobre a sua condição étnico-racial e sobre os seus privilégios irredutíveis de classe e raça. As câmeras, num exercício de esquizofrenia para milhões de brasileiros das matrizes raciais negras e indígenas, mostravam o público como uma chave interpretativa de uma sociedade que evita discutir o branco. Nas imagens avassaladoras e reveladoras de um público constituído de modo quase exclusivo por brancos, a branquitude estava explícita e naturalizada. Camaleonicamente, no Brasil, o branco não precisa nomear-se branco. Explicitamente e implicitamente o sistema midiático brasileiro diz isto todos os dias. Razão pela qual as descrições do público presente no Maracanã não podem constituir senão o primeiro passo indispensável na análise do racismo à brasileira e da branquitude que pretenda em seguida pô-las em relação com as desigualdades raciais como fato inserido na história. O Maracanã foi um flash ( de uma certa tendência) do movimento das ruas. A tendência nas ruas pode ser revertida pela participação dos pobres, dos negros, dos trabalhadores, das mulheres, do GLBTT, na medida em que os problemas estruturais forem articulados com os locais. Nesse movimento a mídia branca será engolida e as suas bandeiras gerais contrariadas. Sem tal disposição podemos esclarecer tudo depressa, e mal. Os problemas estruturais, é fato, só aparecem de fora do Maracanã para dentro. A violência da informação e a violência dos privilégios no acesso aos bens materiais, culturais e de toda monta são alicerces da branquitude e promovem um silêncio constrangedor. O silêncio é potencializado na medida em que assistimos a um processo que nega a racialização do branco. É potencializado para a manutenção do poder, mas é paralisante. Para superar o estágio de paralisia é preciso explicitá-lo, isto é, a racialização do branco deve ser objeto do nosso discurso, entendimento, e ao mesmo tempo de uma precisa localização do ponto de vista das estruturas de poder. O Maracanã, nesse sentido, permitiu um flash da realidade étnico-racial brasileira. Desse modo o evento-processo com hora e local marcado revelou, além dos sistemas técnico, esportivo e informacional-midiático instalado no Maracanã, o quadro estrutural do país. Os dados estruturais da sociedade brasileira, no entanto, só são perceptíveis a partir de uma análise ou observação de fora (da sociedade) para dentro (para o Maracanã). Poder e branquitude são sinônimos no Brasil. A parelha classe/raça é o instrumento, a partir do território, do espaço, do lugar e do cotidiano, para compreendê-lo e especialmente contrapô-lo.
Posted on: Mon, 08 Jul 2013 15:39:54 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015