No dia 26.06.2013 vi um ato bem diferente daquela passeata do dia - TopicsExpress



          

No dia 26.06.2013 vi um ato bem diferente daquela passeata do dia 20.06.2013. O ato de ontem era, sem dúvida, diferente; tal como foi diferente a resposta que se lho deu. O branco da pele e o branco das camisas pinceladas de verde-ameralo hoje não eram hegemônicos. A classe de hoje era bem menos hegemônica. Menos ufanismo, menos moralismo, menos alienação, menos carnaval, menos ursinhos carinhosos. Mais partidos, mais movimentos sociais, mais vermelho, mais luta, mais sangue, suor e lágrimas. Sobretudo, mais povo, mais negritude. O clima era mais tenso. O conflito parecia tornar o ar que respirávamos concreto (ou seria o gás lacrimogêneo?). A comunidade sentiu-se contemplada pelos estudantes que marchavam em protesto. Muitos nos acompanharam. Eles e elas, homens, mulheres, meninos e meninas que protestam com razões que nós jamais teremos. Alguns órfãos de pai e mãe; quase todos órfãos de Estado. O Estado que eles têm é o de Polícia. Vai ver foi por isso que a repressão hoje veio tão mais sem cerimônia. O pessoal da comunidade parecia muito habituado à truculência policial, assim como a polícia parecia muito habituada com a violência contra ela. "Bato sempre nestes pivetes, não é hoje que vai ser diferente! E se vier estudante atrapalhar, apanha também! Tudo pela manutenção da lei e da ordem" Mais que lei e que ordem? Lei que é descumprida na porta da Delegacia, na detenção de pessoas sem motivo (nem identificação), nos desmandos de uma delegada? E a ordem... ah! A Ordem! É a ordem que nos organiza e nos aprisiona. É a ordem que massacra uma comunidade acostumada com a truculência da polícia e da vida. A ordem que pára na bala e no gás os estudantes que protestam. Tive medo. Mirei-me em quem era da comunidade. Neste País, pretensamente uma democracia (há quem diga) social e racial, eu sabia exatamente quem eram os estudantes e quem era o povo (infelizmente ainda é possível divisar). O povo parecia-me tão habituado ao confronto que eu, aflito com a situação, considerei que a melhor tática de segurança seria seguir o passo daqueles jovens, em sua maioria negros e que ontem foram meus companheiros. Ontem éramos todos inimigos do Direito Penal; pelas mesmas razões e por razões diferentes também. Um pouco mais vulneráveis, mas também um pouco menos. Contudo, éramos companheiros. Não podíamos, nem queríamos perder ninguém. Mas alguns foram detidos, em sua maioria estudantes, sempre o mesmo caso: deu bobeira e ficou meio só na hora errada. Sim! Porque a Polícia fazia incursões no meio dos manifestantes com motos. Cercava-nos. Ir até a sede provisória do Governo do Estado tinha sido petulância demais na opinião do Chefe da PM, o nosso Governador (virtual candidato à presidência da república, é bom frisar). No Centro de Convenções era um cerco de guerra. Na Cruz Cabugá eram incursões motorizadas de guerra e no caminho para lá foi a guerra em si. Nesse meio tempo e antes e depois, mas sobretudo depois, em Santo Amaro, vieram as detenções. Eles capturavam - é essa a palavra - alguns vulneráveis, tal qual os predadores fazem com presas. Essa é a única explicação. Realização de capturas estratégicas para desmobilizar o movimento. Tanto é assim que a Sra. Delegada de Polícia da DP de Santo Amaro lavrou BO para um estudante com a acusação de dano ao patrimônio público, leia-se uma moto da ROCAM. O policial veio, deu um puxão na bandeira do Brasil que o menino levava, como ele não soltou a moto caiu e quebrou um pedacinho. Spray de pimenta na cara, uma noite na delegacia e 5mil de fiança (a serem pagos, sob pena de descer pro COTEL). Muitas injustiças, muitos desmandos, muitas violações! Eu só lembrava dos gritos de "sem violência" e "sem vandalismo" da passeata dos ursinhos carinhosos. Hoje o negócio foi COM violência e o vândalo era o Estado! Eu, enfim, estou, paradoxalmente, alegre e de luto. Alegre, porque na minha cidade, ontem, o movimento pintou-se um pouco mais de vermelho, de negro e de povo, muito embora as pautas ainda sejam um pouco confusas e as esquerdas continuem tendo dificuldade em se entender. Enlutado, porque diante de um movimento que começa a reivindicar um projeto de sociedade mais verdadeiramente democrático e popular, o Estado nos dá o que ele tem para nos oferecer: violência, injustiça e repressão. Mas eu, diante de todas essas coisas, RESISTIRÉ!
Posted on: Thu, 27 Jun 2013 09:27:12 +0000

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