Nota: Sobre o Terror de Perder a Referência O medo mais fundamental, o medo da morte, tem suas bases em algo sutil: “o temor de perder nossas referências atuais”. Daí, também, provém todos os medos, anseios, obsessões, aflições e sofrimentos variados. Compreender este ponto é libertador: morremos de medo de nos soltar. Também com as pequenas coisas da vida, tememos. Tememos perder o chão, a segurança, as certezas. Tememos nos ver atirados no espaço aberto e desconhecido, sem nenhum objeto de referência ao qual nos agarrar. Às vezes, temos receio de soltar nossas posses; medo de libertar uma pessoa; medo de desprender-nos de um pensamento; medo de abrir mão de uma certeza; medo de seguir e abandonar o passado... É como no mito de Platão: assusta-nos a vastidão e a amplitude do espaço mais à frente, além de nossa pequena caverna escura; tememos soltar e então não saber mais o que fazer. Tememos já não ser mais o que somos. Assim, prendemo-nos a pequenas referências ilusórias e sem grande realidade, como as sombras fugazes que oscilam na parede da prisão. Logo, entramos em pânico quando a vida nos diz: “as sombras estão se movendo, estão desvanecendo, por mais que tente não vai conseguir segurá-las. Caminhe adiante.” E isso nos apavora. Prender-se a sombras sem substância, confinar-se às dimensões escuras e claustrofóbicas de nossa caverna; amedrontar-se diante da amplitude e frescor do ar livre... São coisas que convém soltarmos. Em definitivo, que possamos aprender a soltar - e nos soltar.
Posted on: Wed, 09 Oct 2013 15:26:31 +0000