Nunca tinha ligado a Russell Brand. Sabia que era um comediante inglês de grande sucesso e que fora casado com Kate Perry e pouco mais. Há dias por causa de um comentário do ensaísta Mark Fisher (leiam o seu fantástico livro “Capitalism Realism”) comecei a interessar-me pela figura. Fui investigar. E devo dizer que estou rendido. Aí está um tipo que se move nos meios de comunicação influentes, que circula pelos corredores da cultura popular, que é ouvido por um número imenso de pessoas, e que diz aquilo que, neste momento, não se consegue ouvir (do ponto de vista político, social e económico) nos media dominantes. Dá que pensar. Porque é a partir da suposta radicalidade do que ele diz (está aí em baixo um vídeo onde diz algumas dessas coisas) que deveríamos estar a discutir hoje, em vez de andarmos em círculo. Ao ouvi-lo e ao vê-lo em vídeos onde galvaniza e excita a curiosidade das pessoas, pergunto-me onde andam os intelectuais de esquerda portugueses – talvez a falarem uns com os outros no seu canto – ou os artistas que poderiam criar uma outra narrativa para este momento. Comparar Russel Brand com o pensamento compostinho e sem horizonte dos nossos comentadores ou com o humor beto dos nossos comediantes é confrangedor. Até aqui, no Facebook, onde se poderia ousar, alargar os horizontes da discussão, não vislumbro mais do que a reprodução das ironias, azedumes ou festinhas de ego do todo da sociedade portuguesa. Nunca pensei dizer isto, mas vislumbro em Russell Brand uma genuidade e uma vontade de pensar este momento muito mais emancipada, do que em qualquer outra figura portuguesa que consiga imaginar.
Posted on: Thu, 24 Oct 2013 14:50:53 +0000