Não amoroso, sim cruel! Certa vez ouvi de meu amigo e professor - TopicsExpress



          

Não amoroso, sim cruel! Certa vez ouvi de meu amigo e professor Ivan Corrêa, que está na Especialização da Fazenda Freudiana de Goiânia e PUC neste fim de semana, a seguinte frase: o que um filho espera de um pai é um pai e não um amigo. Na ocasião produzi um seminário com a seguinte alusão à canção da banda O Rappa: pais sem voz não é paz, é medo! Isso reverbera ainda hoje me levando a tentar escrever sobre seus efeitos, os efeitos da palavra que duram muito! O que é um pai? Como uma mãe pode impedir um pai de ser pai? Como uma mãe pode enlouquecer um filho? O significante pai possui um lugar privilegiado na inserção da criança no mundo. Pai é aquela voz suficientemente ativa que anuncie à criança que ela não é o falo da mãe, e que por sua vez diga para a mãe que a criança não lhe completará, não lhe servirá de bengala diante da falta humana, como tampão. Por isso assim dizemos que o pai é a lei, a interdição, o corte, o não. Aquela linha que demarca até onde cada um daqueles três pode ir, ou seja, conferindo lugar simbólico a cada um. A partir daí haja confusão hermenêutica: atividade não é grito! Pai não é necessariamente genitor, filho não é predicado de obediência. Surra não é sinal de corte, muito pelo contrário, bater pode ser início de uma eterna rebelião de quem apanha. Mãe não é sinônimo de passiva herança. A questão se propaga de uma maneira quase sindrômica: o que dar às crianças de hoje em face da infinidade de arranjos parentais? A resposta não é fácil, já que já lhe tiraram boa parte da infância... deixaram-na sem quintal, sem mãe o tempo todo por perto, sem pai algum tempo por perto, sem direito a jogar bola na rua, sem boneca de não faz nada. Sim, as bonecas já vêm com um faz-tudo, são eficientes, bonecas capitalistas! Deixaram a criança de hoje engravatada, enfeitada de miniexecutiva. Agenda espiral, cabelo de gel, toneladas de compromissos que vislumbram uma tal carreira, mas enquanto isso... trancadas em casa, pouco ensolaradas, o que vão inventar? Vão inventar qualquer coisa através do teclar... nossas crianças assistem ao mundo pela tela, por uma pequena janela que não é real! É virtual. Os pais desesperados chamam o especialista: pediatra, nutricionista, psicanalista, dentista, oftalmologista, enfim uma variedade enorme além das cuidadoras que se revezam dioturnamente com o motorista, a professora etc.! Aí é que está, se não temos quantidade de tempo juntos, que tenhamos qualidade de tempo juntos. Que saibamos o que dizer e como dizer na hora do “vamos ver”! O que vale em qualquer relação amorosa é a intensidade, a capacidade de entrega, o olhar no olhar, o beijar no beijar. A relação entre pais e filhos não pode ser diferente, não pode ser protocolar, asséptica, careta, mas também não pode ter as mesmas rédeas de um coleguismo escolar de mesma faixa etária. “O que um filho espera de um pai é um pai”! E pai, além de amigo (aquele que fala aquilo que a gente quer ouvir) deve ser aquela resposta firme e segura, não importa se ela vai ser sim ou não, porque isso depende do momento, muitas vezes um não pode ser saúde psíquica e em outras um sim pode ser cruel. Como pais, não podemos ser condecendentes por demais. Precisamos ser sim, enquanto pais, os maiorais, professores, verdadeiros especialistas seja no que for, que não saibamos quase nada da vida enquanto os educamos é segredo nosso, e disso eles só vão saber depois, depois que o tempo passar e eles forem pais. É como canta hoje Maria Rita a canção de Elis Regina: ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais... ou seja, crianças grandes se perguntando o que é a vida, o que é o homem, o que é a mulher, como é amar, o imperador amor... este ainda não conseguiram exterminar. Criança precisa ser criança, precisa ter a quem endereçar suas milhões de questões embelezadas. Quem a trouxe que a embale de bons nãos e muitos sins! Isabella Castro é psicanalista da Fazenda Freudiana de Goiânia
Posted on: Sun, 25 Aug 2013 22:50:37 +0000

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