Não, eu não saberia te dizer. Mas desconfio que esteja quase bem. Já não acordo no meio da noite. Já não choro sem motivo, tampouco tenho medo de escuro. Ah, você se surpreenderia. Que aquela menina boba que tanto dependia de ti, já nem existe mais. Que aquela pessoa que um dia ousou se sentir perdida sem ti, hoje é até meio blasé. A ferida cicatrizou. A dor se foi. Pra falar a verdade eu já nem me lembro de ti. Quase nunca. Exceto quando a brisa vem. E traz teu cheiro. Ali me encontro no passado, naquele momento em que costumávamos ser um. E congelo. Mas a dor, a dor não vem. Vem o conformismo. Vem a certeza de que foi melhor assim. Um alívio toma conta de mim. E dou graças a Deus por sua partida. A tua lembrança ainda é tão nítida e ao mesmo tempo tão distante. É confuso e ao mesmo tempo tão certo. Que bom que você foi embora. Que bom que você não está mais aqui. Sinto sua falta. Falta da pessoa que você nunca foi. Um lampejo de dor insiste em doer, mas logo se vai. Não existe mais lugar pra ela. Nem pra você. O coração tranquiliza. E adormeço. Te olhei na rua, dias desses. Minto. Ouvi falar, apenas. Por isso lembrei. Deus me livre te ver. Mas lembrei. De tudo que fomos e que poderíamos ter sido. Mas aí me lembrei de quem tu és. Da verdadeira face que teimou em se esconder. E agradeço, agradeço por ter largado tua mão. Queria te contar. Das coisas que fiz, das coisas que vi. Dos lugares pra onde fui, pra onde viajei. Das amizades que fiz, do que estudei, trabalhei e aprendi. Do que tanto conquistei. Queria te contar que de nada disso você fez parte. E desta parte, eu me orgulho. E de que tanto importa te contar? É que me falaram de ti. Aí a brisa veio. E com ela todo sentimento de nostalgia. Como estou? Não, eu não saberia te dizer. Mas desconfio que esteja quase bem.
Posted on: Mon, 26 Aug 2013 18:34:17 +0000
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