Não posso deixar de partilhar! "Ao templo não se vai diretamente". E por causa dele dou comigo a pensar nos caminhos solitários, cheios de curvas e demoras; em estradas que se desdobram no imprevisto, estradas lamacentas, carreiros de montanha, não sinalizados, que surgem à medida que os nossos passos avançam... A vida é sempre mais instável e criativa do que a quadrícula onde idealmente a enclaustramos, e é assim para nosso bem, mesmo que a isso esteja, não raro, o sofrimento. Todos teremos passado por experiências, estudos e perguntado para que isso serviu? Se procurarmos com verdadeira atenção a solução de um problema de geometria e ao fim de uma hora, não estamos mais avançados do que no começo, avançámos, todavia, durante cada minuto dessa hora, numa outra dimensão mais misteriosa. Sem que saibamos, sem que o sintamos, este esforço aparentemente estéril, introduziu mais luz na alma. O fruto encontrar-se-á um dia mais tarde... Encontrar-se-à sem dúvida também, por acréscimo, num qualquer domínio da inteligência, talvez completamente estranho à matemática. Possivelmente um dia, aquele que despendeu este esforço ineficaz será capaz de apreender mais diretamente, por causa desse mesmo esforço, a beleza de um verso... É verdade que ao templo não se vai diretamente! Que as procuras e aquisições fundamentais da vida pedem-nos uma disponibilidade não só para o imediatamente útil mas para o gratuito, para aquilo que fazemos por razões que sabemos e desconhecemos, para o que o presente torna já nítido, mas também para aquilo que o futuro poderá entreabrir e esclarecer. (adaptado da crónica de Tolentino Mendonça)
Posted on: Tue, 25 Jun 2013 22:44:06 +0000
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