Não se pode pronunciar a palavra “câncer” sem que ela evoque - TopicsExpress



          

Não se pode pronunciar a palavra “câncer” sem que ela evoque o medo da morte. Mas o medo nos paralisa. É sua natureza. Quando um animal detecta a presença de um predador, seu sistema nervoso desencadeia um sinal de sideração e o animal fica paralisado no lugar. Quando ouvimos que nossa vida está correndo grave perigo, experimentamos com freqüência essa estranha paralisia. Mas a doença não vai passar ao lado. O medo bloqueia nossa força vital no momento em que mais temos necessidade dela. Aprender a lutar contra o câncer é aprender a nutrir a vida dentro de nós. Mas não é obrigatoriamente uma luta contra a morte. Ter êxito nesse aprendizado é chegar a tocar na essência da vida, encontrar uma completude e uma paz que a tornem mais bela. Pode acontecer de a morte fazer parte desse êxito. Há pessoas que vivem suas vidas sem apreciar o verdadeiro valor. Outras vivem a própria morte com tal plenitude, tal dignidade, que ela parece ser a realização de uma obra extraordinária e dar um sentido a tudo que viveram. Preparando-se para a morte, libera-se a energia ás vezes necessária á vida. Nas semanas que seguiram o diagnostico do meu câncer eu me vi saltando de um exame ao outro. Um dia estava aguardando minha vez em um consultório que a porta envidraçada dava para rua, estava sentada de forma que via as pessoas passando indo e vindo em suas rotinas. Senti que eu não fazia mais parte desse mundo. Elas estavam na vida, tinham compras para fazer, projetos para o futuro. Quanto a mim o meu futuro era a morte. Eu tinha saído do “formigueiro” e sentia medo. No fundo, mesmo elas não sabendo estávamos indo todos para o mesmo lugar. A última parada ira ser a mesma para todos. A única diferença é que os outros não estão pensando nisso, ao passo que eu estou. Como o nascimento, a morte faz parte da vida. Da minha também. Afinal eu não sou uma exceção. Então, por que eu tinha medo? Durante esses meses eu tenho aprendido a conhecer e controlar esse medo. E que uma vez vistos separadamente, esses medos são muito menos esmagadores. O tem me ajudado foi ter me dado conta que não sou a única a ter morrer. ( Já enterrei um filho com 16 anos). Estamos todos no mesmo barco. Todos aqueles que estão seguindo suas rotinas na rua, o apresentador de tevê, o presidente, e você, mesmo você. Isso parece um pouco idiota mas pensar assim me tranquilizá. Por esse destino comum, eu permaneço inteiramente humana e ligada a todos, e a todos os nossos ancestrais e a todos os nossos descendentes. Não perdi minha carteira de sócia. Sou humana!
Posted on: Thu, 20 Jun 2013 18:33:56 +0000

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