Não sei se entendi direito, mas parece que Laís teme que, por - TopicsExpress



          

Não sei se entendi direito, mas parece que Laís teme que, por ter se tornado uma crítica do Fora do Eixo, eu passe a considerar que ela é da minha turma. Fique tranquila, moça! Eu não tenho turma! Zero! Nenhuma! Sou do bloco do “eu sozinho”. Não sou profeta. Não catequizo. Não tento ganhar ninguém para a minha “causa” porque não tenho causa nenhuma — não, ao menos, consubstanciada numa doutrina. Não preciso que ninguém me adule. Todas as pessoas que eu queria que gostassem de mim já gostam. Todas aquelas cujo ódio me regozija já me odeiam. Se eu ganhar novos amigos, Laís, fico contente. Mas também não os procuro porque estou satisfeito com os que tenho. Se eu quisesse companhia, não escreveria certas coisas, não é? Seria mais tendente a buscar o acordo, o meio-termo, o meio do caminho, a média de opiniões. Mas eu gosto, Laís, é do dissenso, do confronto de ideias, do choque. Eu, Laís, gosto mesmo é de coisas fora do eixo, daí a razão por que repudie, por princípio, que alguém crie uma entidade gigantesca para cuidar da suposta cultura alternativa. Ora, que alternativa pode haver, como você experimentou muito bem, num aparelho montado para odiar certas coisas e reverenciar outras? Que alternativa pode haver onde há doutrinação ideológica e moral, para dizer o mínimo? Eu a enojo? Só se for por causa dos valores que vão acima. Não será pelo meu hálito, garanto, tampouco pelo cheiro que exalo — além do banho diário (no mínimo, um), anuncio aqui a descoberta de uma essência deliciosa em minha recente incursão pela Toscana… É claro que você não é seguidora não precisamente das minhas ideias, mas, vá lá, de alguns dos meus valores. Se me lesse com um pouco mais de cuidado, não teria caído na conversa de tipos como Pablo Capilé. Teria percebido a tempo, sem passar pelos óbvios constrangimentos por que passou, que, em que pese a dimensão coletiva da arte, é só no sossego do claustro e no mergulho da própria intimidade que se produz uma obra relevante. Teria, quem sabe?, sido advertida há tempos e a tempo de que tudo aquilo que esmaga a individualidade acaba servindo sempre a um senhor, a um tirano — nem que seja um tirano de almas. Ainda que me solidarize com você, moça — solidariedade que devo a qualquer um que sofre ou que é vítima de uma burla —, não dou destaque a seu depoimento apenas para emprestar relevo à sua história. Espero, isto sim, que ela sirva de advertência a outros tantos jovens vulneráveis ao discurso dos falsos profetas.
Posted on: Sun, 11 Aug 2013 18:06:50 +0000

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