O Bairro de Miragaia Houve em Miragaia um “Largo do - TopicsExpress



          

O Bairro de Miragaia Houve em Miragaia um “Largo do Pelourinho” que, a fazer fé em descrições antigas, ficaria perto da actual igreja paroquial de S. Pedro. Mas que história é essa de um pelourinho em Miragaia? – tem o leitor toda a legitimidade para perguntar. A história conta-se em meia dúzia de linhas até ao ano de 1750 havia uma via pública ao redor da igreja paroquial. E nessa passagem, do lado norte, nas traseiras, portanto, da capela-mor do templo, existia um pequeno logradouro a que se dava o nome de Largo do Pelourinho. Esta denominação vinha muito de trás, no tempo. A mais antiga referência que se conhece data de 1495, e vem numa sentença que dá razão ao provedor do Hospital de Espírito Santo, contra uma intenção do então Bispo do Porto, D. João de Azevedo, que “pretendia assenhorar-se de um rossio pertencente ao referido hospital e que confinava com o Largo do Pelourinho…”. Não encontrei o que procurava, mas descobri a imensa riqueza toponímica do bairro de Miragaia. São esses conhecimentos que quero aqui partilhar com o leitor. O sítio que hoje conhecemos como Miragaia, junto ao rio, começou a ser povoado aí por 1423, logo por meados do século XIII, quando a diocese do Porto era governada pelo bispo D. Pedro Salvadores. Quatro anos depois, quando, na morte daquele prelado, se sentou na cadeira episcopal D. Julião Fernandes, já a actual Miragaia era um próspero povoado de pescadores e de gente com ofícios ligados às fainas marítimas e fluviais. E nas inquirições de 1258 escreveu-se que só na encosta, junto a Monchique, haviam sido construídas setenta e cinco casas e mais algumas se andavam a fazer. Isto para dizer, concretamente, que Miragaia é um dos mais antigos bairros da cidade. A antiguidade de Miragaia está também patente na curiosa origem da sua toponímia. Por exemplo: a rua que na actualidade evoca o patrono de S. Pedro de Miragaia, teve, anteriormente, o nome de Rua do Rio Frio, por debaixo dela, devidamente encanado, correr um rio com aquele nome mas que também aparece identificado como Rio das Virtudes. Era nesta rua, junto da bifurcação com a Rua dos Armazéns, que ficava a “pedra escorregadia”, designação que aparece mencionada em documentos do Cabido do ano de 1422, e noutros de 1555 da Santa Casa da Misericórdia. A Rua Arménia, ou dos Arménios, anda ligada a uma lenda a que me refiro no texto abaixo. Antes de ser esta designação chamou-se Rua de Trás, possivelmente de trás da muralha (fernandina), que passava alí perto, nas Escadas do Caminho Novo, Rua da Barreira “que vai dos muros da cidade até à Fonte do Touro#, que ficava em frente das casas 38 e 40 da Rua Arménia; e Rua Alménia, sem dúvida uma corruptela do actual nome da artéria em causa. A começar no Largo S. Pedro de Miragaia a Rua de Ancira. Julga-se que também este nome ande ligado à lenda atrás referida. Em português antigo, ancira quer dizer âncora. Mas também é um nome de uma cidade da Anatólia, na antiga Turquia asiática, o que leva a fazer ligação aos tais arménios que deram o nome à rua anteriormente citada. A actual Rua de Miragaia, em 1400, chamava-se Rua Nova de Miragaia e corria ao longo da praia que então existia diante das casas construídas sobre arcaria e daí o ter sido designada também, por Rua dos Cobertos. Era a mais importante artéria do bairro. Ao longo dela havia algumas das mais notáveis fontes da cidade, uma das quais chegou até aos nossos dias – a Fonte da Colher, assim chamada por ser nela que se pagava o imposto da “colher”, que se pagava ao bispo: por cada alqueire de nozes, por exemplo, uma colher era para o prelado. Um alqueire tinha 40 colheres. A Rua Francisco da Rocha Soares, que homenageia um importante industrial do século XIX do sector da cerâmica, começou por se chamar Rua dos Cordoeiros, por viverem ali os daquela profissão, que por lá tinham as suas oficinas. Isto aconteceu antes dos cordoeiros se terem mudado para a ainda hoje chamada Cordoaria, junto da antiga Porta do Olival. A antiga Rua dos Cordoeiros, que, após a mudança destes, se passou a chamar Cordoaria Velha, teve também o nome de Rua da Esperança, por ficar perto da capela da invocação de Nossa Senhora da Esperança. Esta artéria compreendia as actuais Escadas do Caminho Novo, que então se denominavam Escadas da Esperança. Mais uma curiosidade: um testamento datado de 1773 menciona a existência de umas casas na freguesia S. Pedo de Miragaia, “ao fundo da Cordoaria Velha, junto ao Beco ou a Cruzinha…”. Onde ficariam estes dois lugares hoje totalmente ignorados?... Texto de Germano Silva Porto Nos Recantos do Passado
Posted on: Mon, 05 Aug 2013 19:09:48 +0000

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