O Brasil que os brasileiros não conhecem Antes de receber a - TopicsExpress



          

O Brasil que os brasileiros não conhecem Antes de receber a proposta para vir trabalhar em Porto Trombetas eu nunca havia ouvido falar daqui. E olha que eu sou daqueles que sabe as capitais dos países, qual país faz divisa com qual, os nomes dos principais rios e montanhas no mundo. Mas nunca tinha pensado que nesta imensidão do noroeste do Pará tivesse mais do que floresta!!! Quando vim pra cá, assim como todos ai do sul e sudeste que aqui chegam, fiquei assustado com a estrutura de Trombetas, um lugar surreal no meio da imensidão de florestas e rios - olhem no mapa, achem Trombetas e imaginem que navios cargueiros transatlânticos entram no Amazonas em Belém e chegam aqui para buscar bauxita - um tapa na cara da minha ignorância! Mas a cada dia fico mais interessado e abismado com a história dos povos recentes da Amazônia. A recentes, refiro-me aos povos não-indígenas, apesar de que há uma miscigenação. São os ribeirinhos, comunidades as vezes antigas, originadas em quilombos que se estabeleciam nos lagos nas beiras dos rios, ou de comunidades extrativistas, algumas derivadas de seringueiros do final do século XIX, que com o declínio do ciclo da borracha por causa das seringueiras roubadas pelos ingleses da região de Santarém e plantadas no sudeste asiático, mas isto é outra história, tiveram que achar outra forma de viver. A solidão que ás vezes vivo em Trombetas ( adoro ) faz-me ficar atento para algumas situações, e elocubrações são naturais nesta situação. Esta noite estava de plantão e recebi um aviso as 21:22h de que um paciente esfaqueado viria de Cachoeira Porteira. Abre-se ai um apêndice. Se Trombetas é distante, Cachoeira Porteira é outro universo!!! Dizem ser lindo! Mas fica no alto Rio Trombetas, próximo, em termos amazônicos de distância, da divisa com o Suriname. Existe lá uma comunidade ribeirinha. Dizem que mais de mil pessoas moram lá. Isoladas. Querendo compartilhar modernidades ( esta semana atendi acidentados de moto de lá ), tem celular quando vem a Trombetas, mas se aqui o sinal é ruim, imagino lá!!! Energia elétrica, só gerador. Vivem de lamparinas!!! Sim, isto ainda existe no Brasil!!! Enfim, o tal paciente esfaqueado após uma briga de bar, por que álcool chega nos cantos mais remotos, teria duas opções, pegar um barquinho com motor de popa que parece aquelas canoas canadenses, a rabeta, que demora cerca de 10h para chegar em Trombetas, ou pegar uma lancha, que demora 6h só, mas fica caro pois gasta mais gasolina. Isto percorrendo um rio enorme, cheio de curvas e desvios, a noite e sem iluminação!!! Ele veio de lancha, com previsão de chegada para as 22:30h. E não é que acabou a gasolina da lancha... Chegaram somente 01:30 da manhã!!! E era sério, tive que fazer uma cirurgia ( foi tudo bem ). Esta semana também atendi um garoto de 14 anos de uma outra comunidade, Samaúma, uma comunidade grande, de mais de 30 casas segundo ele, 6h de barco daqui. Juro que fiquei com dó de dar alta pro garoto por causa do encantamento dele com a televisão do quarto!!! Sei lá pq estou escrevendo isto enquanto me delicio com uma maravilha em forma de tapioca com presunto, queijo e ovo. Talvez seja a privação de sono do plantão... Talvez seja pela necessidade de compartilhar pensamentos... Talvez seja para eu mesmo organizar o conhecimento e passar a dar mais valor a coisas simples... Talvez.... Mas o mais importante é lembrar vcs que o seu Josivaldo, da Cachoeira Porteira, e o menino Ananias, do Sumaúma, são brasileiros. Como eu e você!!! Bom sábado a todos!!!
Posted on: Sat, 02 Nov 2013 11:58:31 +0000

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