O CASO GIANECHINI E O NOVEMBRO AZUL. Resgatando um exemplo de - TopicsExpress



          

O CASO GIANECHINI E O NOVEMBRO AZUL. Resgatando um exemplo de como a prevenção deve ser cuidadosamente analisada e não pode-se fazer OBA-OBA do tipo é melhor prevenir que remediar, prevenir é mais barato. Quando surgem doenças graves em famosos - celebridades, presidentes latino-americanos, etc, um efeito borboleta se espalha pricipalmente entre a classe alta brasileira em busca de cuidados em saúde. Façamos check up para não ficarmos doentes! Se os check-ups resolvessem seriam recomendados por evidências científicas fortes, o que não é o caso. Mas e o Gianechini? Deixo a palavra com grande guru. Por Gustavo Gusso. Sempre quando uma pessoa famosa divulga que tem certa doença a preocupação com a mesma aumenta. Porém linfoma é uma doença muito pouco comum e sem muito impacto na mortalidade geral da população. O Linfoma não Hodgkin é um problema raro e que tem cura na maior parte dos casos, portanto, não é motivo para nenhum alarme. Os principais sintomas são febre, sudorese noturna e gânglios aumentados, PORÉM a maioria das pessoas que tem febre e ganglios aumentados, em especial fibroelasticos (“emborrachados”), menor que 1 cm e de aparecimento recente, provavelmente têm algum problema de saúde corriqueiro como gripe e não necessita biópsia ou outra intervenção. Fazer tomografias ou outros exames sem sintomas para verificar se há nódulos suspeitos é bastante nocivo. O estudo “Patient Self-Referral for Radiologic Screening Tests” (J Am Board Fam Pract 2003; 16: 494-501) demonstra que de cada 1000 pessoas que fazem tomografias computadorizadas do corpo todo, além da alta carga de radiação recebida, 213 tem exames alterados sendo que destes 208 serão falso positivos, ou seja, mostrarão alguma alteração que levará a outros exames ainda mais perigosos para no final demonstrar que na verdade não tinha nenhum significado clinico. Nestes casos o Valor Preditivo Positivo (probabilidade de ter de fato o problema quando o exame der alterado) é de 2%. A maior parte dos poucos que forem realmente positivos não será sério ou perigoso à saúde. Além disso, estudos mostram que em média a cada 2-3 tomografias computadorizadas, a carga de radiação é semelhante a que pacientes sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki que tiveram risco aumentado de câncer experimentaram (Arch Intern Med. 2009; 169:2078-2086, N Engl J Med. 2007; 357:2277-2284 e Ann Emerg Med. 2011 ;58(1):1-7). Desta forma, não faz nenhum sentido tomografias para pacientes assintomáticos ou com sintomas recentes e frequentes pois há maior chance de se expor a risco de câncer do que se prevenir dele. Houve, segundo o DataSus (tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/niuf.def), aproximadamente 10.000 internações por Linfoma não Hodgkin em 2009 ou 5 para 100.000 habitantes . No mesmo período há o registro de 3735 mortes por esta causa (tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10uf.def) dentre mais de 1.103.000 óbitos, ou seja, 0,03% do total de óbitos. Ainda em 2009 houve mais de 138.000 mortes por causa externa (acidente de carro, assassinato, etc..) o que representa 12,5% do total de óbitos (tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/ext10uf.def). Além da mortalidade por causa externa ser muito maior, mais de 85% morrem antes dos 60 anos enquanto que os que morrem por Linfoma não Hodgkin têm na maior parte das vezes mais de 60 anos. Ou seja, não se pode correr o risco de desviar o foco dos assassinatos, acidentes de trânsito e outras causas de morte prematuras relevantes por causa da doença de uma pessoa famosa. Desta forma, quanto ao assunto Linfoma temos que torcer pela recuperação do ator mas não há nada de muito relevante ou diferente sobre este tema, já que grandes gânglios com prolongados períodos de febre devem ser investigados naturalmente. Não há nenhuma recomendação com base científica para as pessoas assintomáticas ficarem palpando axilas e virilhas e menos ainda fazerem exames radiológicos.
Posted on: Sat, 02 Nov 2013 07:15:29 +0000

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