O Caminho de Santiago (o caminho francês) ao passo pola minha - TopicsExpress



          

O Caminho de Santiago (o caminho francês) ao passo pola minha freguesia (Vila Velha), na encosta do Monte Caldeirão, perto da Fonte da Rodela, da qual se abastece a minha aldeia (Vilar). Muita gente associa viver na montanha a mal tempo, quando é o contrário, nas «highlands» das terras seurras temos mais sol do que nas «lowlands» da veiga de Sárria, a maior parte do ano baixo o frio nevoeiro. O nosso microclima é muito variável, daí a enorme riqueza de flora e fauna que temos num espaço geográfico relativamente pequeno. Amiúde, nós vogamos sobre este mar de brêtemas. Ao fundo, essa ilha é a serra do Iríbio. A serra do Iríbio tem apenas 1560m de altitude (na Galiza as montanhas são antiquíssimas e muito erosionadas, daí as suas curvas suaves e pouca altitude), mas dela bebe na cara norte o rio do mesmo nome, num vale fluvial que no seu passo pola vila de Triacastela está a 650 m de altitude. Isto é, nos 900 m de diferença daí ao cume do monte há concentrada uma quantidade espectacular de hábitats num espaço muito pequeno. Só observando as flores da serra do Iríbio, podemos ver que desde março a julho cada mês é uma primavera diferente, pois as plantas das partes mais altas ainda andam a acordar do inverno quando outras já passaram o seu verão. A riqueza biológica é brutal, pouco tem que invejar à selva tropical, pois a selva é homogênea durante km e km, porém aqui andas 200m e já mudas de mundo, ou melhor dito, de micro-mundo. A terra é o suporte da vida, que se equilibra em hábitats. O ser humano só é mais uma espécie no hábitat. Toda a nossa cultura nasce da compreensão desse equilíbrio, e da adaptação harmoniosa ao hábitat. Toda a incultura que agora nos destrói nasce da não compreensão disto. A cultura é um processo coletivo de acumulação de conhecimento, geração após geração, um processo dinâmico que até a chegada da barbárie capitalista sempre tendeu a eliminar os erros e conservar o positivo. Cada geração vinha fazendo sua achega, seu contributo à sua comunidade, procurando sempre deixar um legado aos que virão depois. Cultura vem de cultivar, é um significado figurativo para a arte de enriquecer a terra fazendo-a mais fértil, semeando e cuidando para depois apanhar o fruto, o culto à vida nascido da compreensão da vida.. A barbárie atual da incultura induzida polo capitalismo é tudo o contrário, é o empobrecimento e destruição, o desprezo pola vida, e em definitiva, a morte. É uma doença terminal na qual o doente só se importa por prolongar um bocadinho mais a sua agonia, não por curar. A cultura é um facto humano, mas nasce irremediavelmente da terra, do hábitat no qual se desenvolve o ser humano. É a sua forma de interatuar com o mundo que o rodeia e com os outros membros da sociedade, porque o ser humano é um animal social. Cada sociedade adapta-se ao seu hábitat, e com a ajuda mútua estabelece relações de simbiose. Eis o segredo da sua rápida evolução. Também o capitalismo destrói isto, isolando o indivíduo do mundo, levando-o do mundo real para um mundo virtual, um espetáculo do fictício, e trocando as relações de simbiose por relações de concorrência, de dominação e depredação. A incultura capitalista é a destruição do ser humano e da sua cultura. Sem comunidade, sem partilhar com outros indivíduos, só no individualismo não existe cultura, pois a cultura só existe como facto coletivo, como interrelacionamento entre indivíduos. Cada hábitat humano gera a sua própria cultura. Só temos que olhar para a língua: é preciso denominar as plantas, animais e cousas do hábitat, as atividades que se fazem nesse hábitat, já forem as artes, ofícios ou lazeres. Por isso nós temos palavras «autóctones» deste hábitat. Nas Rias Baixas não precisam de palavras como trouso (espécie de duna que faz o vento com a neve), nem piornal (bosque de piornos), nem carriço (pássaro), nem quenço (caniço para secar castanhas), nem os cadelos (lousas de remate no cume do lousado). E vice-versa. Do hábitat nasce a gastronomia (botelo com cachelos, grelos e chofres), a arquitetura, o artesanato, a música, os contos, as lendas, os refrães, etc. Todo um universo gerado dum micro-universo, que se cruza com outros universos e se torna ainda mais universal. Eu sou desta terra. Pertenço a ela, e sem ela não sou nada. A minha «mania» de defendé-la é puro instinto de supervivência. A morte da terra é a minha morte, a vida da terra é a minha vida. Se alguém acredita que isto não é assim, está errado, pois de lembraças, de mundos virtuais não se vive, em mundos virtuais não se existe, pois a existência é real, não fictícia. Bom, deixo aqui o meu arroto existencial produto duma foto. Saúde e Terra!
Posted on: Tue, 02 Jul 2013 19:22:15 +0000

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