O Cânon da Bíblia e sua evolução histórica Cânon ou - TopicsExpress



          

O Cânon da Bíblia e sua evolução histórica Cânon ou Escrituras canônicas é a coleção completa dos livros divinamente inspirados, que constituem a Bíblia. Cânon é palavra grega, e significa, literalmente, vara reta de medir, assim como uma régua de carpinteiro. No Antigo Testamento, o termo aparece no original em passagens como Ezequiel 40.5: Vi um muro exterior que rodeava toda a casa e, na mão do homem, uma cana de medir, de seis côvados, cada um dos quais tinha um côvado e um palmo; ele mediu a largura do edifício, uma cana, e a altura, uma cana. No sentido religioso, cânon não significa aquilo que mede, mas aquilo que serve de norma, regra. Com este sentido, a palavra cânon aparece no original em vários lugares do Novo Testamento: E a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus (Gl 6.16). Nós, porém, não nos gloriaremos sem medida, mas respeitamos o limite da esfera de ação que Deus nos demarcou e que se estende até vós (2 Co 10.13). Não nos gloriando fora de medida nos trabalhos alheios, e tendo esperança de que, crescendo a vossa fé, seremos sobremaneira engrandecidos entre vós, dentro da nossa esfera de ação (2 Co 10.15). Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos (Fp 3.16). A Bíblia, como o cânon sagrado, é a nossa norma ou regra de fé e prática. Diz-se dos livros da Bíblia que são canônicos para diferençá-los dos apócrifos. O emprego do termo cânon foi primeiramente aplicado aos livros da Bíblia por Orígenes (185-254 d.C.) I. O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO Na época patriarcal, a revelação divina era transmitida escrita e oralmente. A escrita já era conhecida na Palestina séculos antes de Moisés; a Arqueologia tem provado isto, inclusive tem encontrado inúmeras inscrições, placas, sinetes e documentos antediluvianos. O Cânon do Antigo Testamento, como o temos atualmente, ficou completo desde o tempo de Esdras, após 445 a.C. Entre os judeus, tem ele três divisões, as quais Jesus citou em Lucas 24.44 LEI, PROFETAS, ESCRITOS. A divisão dos livros no cânon hebraico é diferente da nossa. Consiste em .24 livros em vez dos nossos 39, isto porque são considerados um só livro, cada grupo dos seguintes: -Os dois de Samuel....................................................... 1 -Os dois de Reis............................................................ 1 -Os dois de Crônicas..................................................... 1 -Os dois de Esdras e Neemias....................................... 1 -Os doze Profetas Menores........................................... 1 -Os demais livros do Antigo Testamento.................... 19 Total..........24 A disposição ou ordem dos livros no cânon hebraico é também diferente da nossa. Damos a seguir essa disposição dentro da tríplice divisão do cânon, já mencionada (Lei, Profetas, Escritos). 1. LEI__________5 livros________Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. 2. PROFETAS _ 8 livros________Divididos em: Primeiros Profetas: Josué, Juizes, Samuel, Reis. Ültimos Profetas: Isaías, Jeremias, Eze-quiel e os doze Profetas Menores. 3. ESCRITOS _ 11 livros________Divididos em: Livros Poéticos: Salmos, Provérbios, Jó. Os Cinco Rolos: Can-tares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester. Livros Históricos: Daniel, Esdras-Neemias, Crônicas. Os Cinco Rolos eram assim chamados por serem separados, lidos anualmente em festas distintas: - CANTARES, na Páscoa, em alusão ao Êxodo. - RUTE, no Pentecoste, na celebração da colheita, em seu início. - ESTER, na festa do Purim, comemorando o livramento de Israel da mão do mau Hamã. - ECLESIASTES, na Festa dos Tabernáculos - festa de gratidão pela colheita. - LAMENTAÇÕES, no mês de Abibe, relembrando a destruição de Jerusalém pelos babilônicos. No cânon hebraico também os livros não estão em ordem cronológica. Os judeus não se preocupavam com um sistema cronológico. Também pode haver nisto um plano divino. A nossa divisão em 39 livros vem da Septuaginta, através da Vulgata Latina. A Septuaginta foi a primeira tradução das Escrituras, feita do hebraico para o grego, cerca de 285 a.C. Também a ordem dos livros por assuntos, nas nossas Bíblias, vem dessa famosa tradução. Nas palavras de Jesus, em Lucas 24.44, Ele chamou Salmos à última divisão do cânon hebraico, certamente porque esse livro era o primeiro dessa divisão (ver a página anterior). Segundo a nossa divisão, o Antigo Testamento começa com Gênesis e termina em Malaquias, porém, segundo a divisão do cânon hebraico, o primeiro livro é Gênesis e o último é Crônicas. Isto é visto claramente nas palavras de Jesus em Mateus 23.35 - o caso de Abel está em Gênesis e o do filho de Baraquias está em Crônicas. A Formação do Cânon do Antigo Testamento O Cânon do Antigo Testamento foi formado num espaço de mais de mil anos (+ - 1046 anos) - de Moisés a Esdras. Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco por volta de 1491 a.C. Esdras entrou em cena em 445 a.C. Esdras não foi o último escritor na formação do cânon do Antigo Testamento; os últimos foram Neemias e Malaquias, porém, de acordo com os escritos históricos, foi ele que, na qualidade de escriba e sacerdote, reuniu os rolos canônicos, ficando também o cânon encerrado em seu tempo. A chamada Alta Crítica tem feito uma devastação com seu modernismo e suas contradições no que concerne à formação, fontes de autenticidade do cânon, especialmente o do Antigo Testamento, mutilando quase todos os seus livros. Em resumo, a Alta Crítica é a discussão das datas e da autoria dos livros. Ela estuda a Bíblia do lado de fora, externamente, baseada apenas em fontes do conhecimento humano. Por sua vez, a Crítica Textual, também conhecida por Baixa Crítica, estuda o texto bíblico, e este somente, e, ao lado da Arqueologia, vem alcançando um progresso valioso, posto à disposição do estudante das Escrituras. Por exemplo, a teoria de que a escrita era desconhecida nos dias de Moisés já foi destruída. E de ano para ano aumentam os achados nas terras bíblicas, evidenciando e comprovando as narrativas e fatos do Antigo Testamento. Mediante tais provas irrefutáveis, os homens estão tendo mais respeito pelo Livro Sagrado! Toda a Bíblia vem sendo confirmada pela pá do arqueólogo e pelos eruditos em antiguidades bíblicas. Coisas que pareciam as mais incríveis são hoje aceitas por todos, sem objeções. O estudante das Escrituras deve estar prevenido contra a Alta Crítica. A formação do cânon foi gradual. Houve, originalmente, a transmissão oral, como se vê em Jó 15.18. Jó é tido como o livro mais antigo da Bíblia. Daremos em seguida a seqüência da formação gradual do cânon do Antigo Testamento. Convém ter em mente aqui que toda cronologia bíblica é apenas aproximada. Já no Novo Testamento, há precisão de muitos casos. Essa cronologia vai sendo atualizada à medida em que os estudos avançam e a Arqueologia fornece informes oficiais: 1. Moisés, cerca de 1491 a.C, começou a escrever o Pentateuco, concluindo-o por volta de 1451 a.C. (Números 33.2). Mais textos relacionados com Moisés e sua escrita do Pentateuco: Êxodo 17.14; 24.4,7; 34.27. As partes do Pentateuco anteriores a Moisés, como o relato da Criação, todo o livro de Gênesis e parte de Êxodo, ele escreveu, ou lançando mão de fontes existentes (ver 2.4; 5.1), ou por revelação divina. Gênesis 26.5 dá a entender que nesse tempo já havia mandamentos, preceitos e estatutos escritos. Há, é certo, passagens do Pentateuco que foram acrescentadas posteriormente, como: Êxodo 11.3; 16.35; Deutero-nômio 34.1-12. 2. Josué, sucessor de Moisés (1443 a.C), escreveu uma obra que colocou perante o Senhor (Js 24.26). 3. Samuel (1095 a.C), o último juiz e também profeta do Senhor, escreveu, pondo seus escritos perante o Senhor (1 Sm 10.25). Certamente perante o Senhor significa que seus escritos foram depositados na Arca do Concerto com os demais escritos sagrados lá depositados (Êx 25.21; Hb 9.4). 4. Isaías (770 a.C.) fala do livro do Senhor (Is 34.16), e palavras do livro (Is 29.18). São referências às Escrituras na sua formação. 5. Em 726 a.C, os Salmos já eram cantados (2 Cr 29.30). O fato aí registrado teve lugar nesse tempo. 6. Jeremias, cuja chamada deu-se em 626 a.C, registrou a revelação divina (Jr 30.1,2). Tal livro foi queimado pelo mau rei Jeoaquim, em 607 a.C, porém Deus ordenou que Jeremias preparasse novo rolo, o que foi feito mediante seu amanuense Baruque (Jr 36.1,2,28,32; 45.1). 7. No tempo do rei Josias (621 a.C), Hilquias achou o Livro da Lei (2 Rs 22.8-10). 8. Daniel (553 a.C.) refere-se aos livros (Dn 9.2). Eram os rolos sagrados das Escrituras de então. 9. Zacarias (520 a.C.) declara que os profetas que o precederam falaram da parte do Espírito Santo (7.12). Não há aqui referência direta a escritos, mas há inferência. Zacarias foi o penúltimo profeta do Antigo Testamento, isto é, profeta literário. 10. Neemias, nos seus dias (445 a.C), achou o livro das genealogias dos judeus que já haviam regressado do exílio (7.5); certamente havia outros livros. 11. Nos dias de Ester, o Livro Sagrado estava sendo escrito (Et 9.32). 12. Esdras, contemporâneo de Neemias, foi hábil escri-ba da lei de Moisés, e leu o livro do Senhor para os judeus já estabelecidos na Palestina, de regresso do cativeiro babilônico (Ne 8.1-5). Conforme 2 Macabeus e outros escritos judaicos, Esdras presidiu a chamada Grande Sinagoga, que selecionou e preservou os rolos sagrados, determinando, dessa maneira, o cânon das Escrituras do Antigo Testamento. (Ver Esdras 7.10,14.) Essa Grande Sinagoga era um conselho composto de 120 membros que se diz ter sido organizado por Neemias, cerca de 410 a.C, sob a presidência de Esdras. Foi essa entidade que reorganizou a vida religiosa nacional dos repatriados e, mais tarde, deu origem ao Sinédrio, cerca de 275 a.C. A Esdras é atribuída a tríplice divisão do cânon, já estudada. Foi nesse tempo, isto é, no tempo de Esdras, que os samaritanos foram expulsos da comunidade judaica (Ne 13) levando consigo o Pentateuco, que é até hoje a Bíblia dos samaritanos. Isto prova que o Pentateuco era escrito canônico. 13. Encontramos profeta citando outro profeta, do que se infere haver mensagem escrita. (Comparar Miquéias 4.1-3 com Isaías 2.2-4.) 14. Filo, escritor de Alexandria (30 a.C. - 50 d.C) possuía todo o cânon do Antigo Testamento. Em seus escritos ele cita quase todo o Antigo Testamento. 15. Josefo, o historiador judeu (37-100 d.C), contemporâneo de Paulo, diz, escrevendo aos judeus, no livro Contra Appion: Nós temos apenas 22 livros, contando a história de todo o tempo; livros em que nós cremos, ou segundo geralmente se diz, livros aceitos como divinos. Desde os dias de Artaxerxes ninguém se aventurou a acrescentar, tirar ou alterar uma única sílaba. Faz parte de cada judeu, desde que nasce, considerar estas Escrituras como ensinos de Deus. Josefo foi homem culto e judeu ortodoxo de linhagem sacerdotal. Foi governador da Galiléia e comandante militar nas guerras contra Roma. Presenciou a queda de Jerusalém. Foi levado a Roma onde se dedicou a escritos literários. Ora, o Artaxerxes que ele menciona é o chamado Longí-mano, que reinou de 465-424 a.C. Isso coincide com o tempo de Esdras e confirma as declarações de outras peças da literatura judaica que ensinam ter Esdras presidido a Grande Sinagoga que selecionou e preservou os rolos sagrados para a posterioridade. Josefo conta os livros do Antigo Testamento como 22 porque considera Juizes e Rute como 1 (um) livro; Jeremias e Lamentações também. Isto, para coincidir com o número de letras do alfabeto hebraico: 22. 16. Nos dias do Senhor Jesus, esse livro chamava-se Escrituras (Mt 26.54; Lc 24.27,45; Jo 5.39), com as suas três conhecidas divisões: Lei, Profetas, Salmos (Lc 24.44). Era também chamado A Palavra de Deus (Mc 7.13; Jo 10.34,35). Note bem este título aplicado pelo próprio Senhor Jesus! Outro fato notável é a citação feita por Jesus em Mateus 23.35 que autentica todo o Antigo Testamento! 17. Os escritores do Novo Testamento reconhecem como canônicos os livros do Antigo Testamento, pois este é a miúdo citado naquele, havendo cerca de 300 referências diretas e indiretas. Os escritores do Novo Testamento referem-se ao cânon do Antigo Testamento como sendo oráculos divinos. (Compare Romanos 3.2; 2 Timóteo 3.16; Hebreus 5.12). Cremos que, começando por Moisés, à proporção que os livros iam sendo escritos, eram postos no tabernáculo, junto ao grupo de livros sagrados. Esdras, como já dissemos, após a volta do cativeiro, reuniu os diversos livros e os colocou em ordem, como coleção completa. Destes originais eram feitas cópias para as sinagogas largamente disseminadas. Data do reconhecimento e fixação do cânon do Antigo Testamento Em 90 d.C. Em Jâmnia, perto da moderna Jope, em Israel, os rabinos, num concilio sob a presidência de Johanan Ben Zakai, reconheceram e fixaram o cânon do Antigo Testamento. Houve muitos debates acerca da aprovação de certos livros, especialmente dos Escritos. Note-se porém que o trabalho desse concilio foi apenas ratificar aquilo que já era aceito por todos os judeus através de séculos. Jâmnia, após a destruição de Jerusalém (70 d.C.) tornou-se a sede do Sinédrio - o supremo tribunal dos judeus. Livros desaparecidos, citados no texto do Antigo Testamento É digno de nota que a Bíblia faz referência a livros até agora desaparecidos. (Veja Números 21.14; Josué 10.13 com 2 Samuel 1.18; 1 Reis 11.41; 1 Crônicas 27.24; 29.29; 2 Crônicas 9.29; 12.15; 13.22; 26.22; 33.19.) São casos cujo segredo só Deus conhece. Talvez um dia eles venham à luz como o MSS de Qümram, Mar Morto, em 1947. II. O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO Como no Antigo Testamento, homens inspirados por Deus escreveram aos poucos os livros que compõem o cânon do Novo Testamento. Sua formação levou apenas duas gerações: quase 100 anos. Em 100 d.C. todos os livros do Novo Testamento estavam escritos. O que demorou foi o reconhecimento canônico, isto motivado pelo cuidado e escrúpulo das igrejas de então, que exigiam provas concludentes da inspiração divina de cada um desses livros. Outra coisa que motivou a demora na canonização foi o surgimento de escritos heréticos e espúrios com pretensão de autoridade apostólica. Trata-se dos livros apócrifos do Novo Testamento, fato idêntico ao acontecido nos tempos do encerramento do cânon do Antigo Testamento. A ordem dos 27 livros do Novo Testamento, como temos atualmente em nossas Bíblias, vem da Vulgata, e não leva em conta a seqüência cronológica. 58 Livros desaparecidos, citados no Novo Testamento. Há também livros mencionados no Novo Testamento até agora desaparecidos (1 Co 5.9; Cl 4.16). a. Ás Epístolas de Paulo. Foram os primeiros escritos do Novo Testamento. São 13: de Romanos a Filemom. Foram escritas entre 52 e 67 d.C. Pela ordem cronológica, o primeiro livro do Novo Testamento é 1 Tessalonicenses, escrito em 52 d.C. 2 Timóteo foi escrita em 67 d.C, pouco antes do martírio do apóstolo Paulo em Roma. Esses livros foram também os primeiros aceitos como canônicos. Pedro chama os escritos de Paulo de Escrituras - título aplicado somente à Palavra inspirada de Deus! (2 Pe 3.15,16). b. Os Atos dos Apóstolos. Escrito em 63 d.C, no fim dos dois anos da primeira prisão de Paulo em Roma (At 28.30). c. Os Evangelhos. Estes, a princípio, foram propagados oralmente. Não havia perigo de enganos e esquecimento porque era o Espírito Santo quem lembrava tudo e Ele é infalível (Jo 14.26). Os Sinóticos foram escritos entre 60 a 65 d.C. Marcos, em 65. Em 1 Timóteo 5.18, Paulo, escrevendo em 65 d.C, cita Mateus 10.10. João foi escrito em 85. Entre Lucas e João foram escritas quase todas as epístolas. Note-se que Paulo chama Mateus e Lucas de Escrituras ao citá-los em 1 Timóteo 5.18; o original dessa citação está em Mateus 10.10 e Lucas 10.7. d. As Epístolas, de Hebreus a Judas, foram escritas entre 68 e 90 d.C. Quanto à autoria de Hebreus, só Deus sabe de fato. Agostinho (354-430 d.C), bispo de Hipona, África do Norte, afirma que seu autor é Paulo. As igrejas orientais atribuíram-na a Paulo, mas as ocidentais, até o IV século recusaram-se a admitir isto. A opinião ainda hoje é a favor de Paulo. Orígenes (185-254) - o homem mais ilustre da igreja antiga, e, anterior a Agostinho - afirma: Quem a escreveu só Deus sabe com certeza. e. O Apocalipse. Escrito em 96 d.C, durante o reinado do imperador Domiciano. Muitos livros antes de serem finalmente reconhecidos como canônicos foram duramente debatidos. Houve muita relutância quanto às epístolas de Pedro, João e Judas bem como quanto ao Apocalipse. Tudo isto tão-somente revela o cuidado da Igreja e também a responsabilidade que envolvia a canonização. Antes do ano 400 d.C, todos os livros estavam aceitos. Em 367, Atanásio, patriarca de Alexandria, publicou uma lista dos 27 livros canônicos, os mesmos que hoje possuímos; essa lista foi aceita pelo Concilio de Hipona (África) em 393. Data do reconhecimento e fixação do cânon do Novo Testamento Isso ocorreu no III Concilio de Cartago, em 397 d.C. Nessa ocasião, foi definitivamente reconhecido e fixado o cânon do Novo Testamento. Como se vê, houve um amadurecimento de 400 anos. A necessidade da mensagem escrita do Novo Testamento A mensagem da Nova Aliança precisava ter forma escrita como a da Antiga. Após a ascensão do Senhor Jesus, os apóstolos pregaram por toda parte sem haver nada escrito. Sua Bíblia era o Antigo Testamento. Com o correr do tempo, o grupo de apóstolos diminuiu. O Evangelho espalhou-se. Surgiu a necessidade de reduzi-lo à forma escrita, para ser transmitido às gerações futuras. Era o plano de Deus em marcha. Muitas igrejas e indivíduos pediam explicações acerca de casos difíceis surgidos por perturbações, falsas doutrinas, problemas internos, etc. (Ver 1 Coríntios 1.11; 5.1; 7.1.) Os judeus cumpriram sua missão de transmitir ao mundo os oráculos divinos (Rm 3.2). A Igreja também cumpriu sua parte, transmitindo as palavras e ensinos do Senhor Jesus, bem como as que Ele, pelo Espírito Santo inspirou aos escritores sacros. Ele mesmo disse: Tenho muito que vos dizer... mas o Espírito de verdade... dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir (Jo 16.12,13). Dão testemunho da existência de livros do Novo Testamento, em seu tempo, os seguintes cristãos primitivos, cujas vidas coincidiram com a dos apóstolos ou com os discípulos destes: Clemente de Roma, na sua carta aos Coríntios, em 95 d.C. cita vários livros do Novo Testamento. Policarpo, na sua carta aos Filipenses, cerca de 110 d.C, cita diversas epístolas de Paulo. Inácio, por volta de 110, cita grande número de livros em seus escritos. Justino Mártir, nascido no ano da morte de João, escrevendo em 140 d.C, cita diversos livros do Novo Testamento. Irineu (130-200 d.C), cita a maioria dos livros do Novo Testamento, chamando-os Escrituras. Orígenes (185-254 d.C), homem erudito, piedoso e viajado, dedicou sua vida ao estudo das Escrituras. Em seu tempo, os 27 livros já estavam completos; ele os aceitou, embora com dúvida sobre alguns (Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João). III. DATAS E PERÍODOS SOBRE O CÂNON EM GERAL O Antigo Testamento foi escrito no espaço de mais ou menos 1.046 anos; de 1491 a 445 a.C, isto é, de Moisés a Esdras. A data 445 é apenas um ponto geral de referência cronológica quanto ao encerramento do cânon do Antigo Testamento. Se entrarmos em detalhes sobre o último livro do Antigo Testamento em ordem cronológica - Mala-quias, teremos uma variação de espaço de tempo como veremos a seguir. O Pentateuco, como já vimos, foi iniciado cerca de 1491 a.C. Malaquias, o último livro do Antigo Testamento por ordem cronológica, foi escrito após 445, no final do governo de Neemias e do sacerdócio de Esdras. Ora, isto foi a partir de 432, quando Neemias regressou a Jerusalém, procedente da Pérsia, para onde tinha ido em 434, a fim de renovar sua licença (Ne 13.6). É a partir desse ano que Malaquias entra em cena. Quando ele escreveu, talvez Neemias não estivesse mais na Palestina, porque não o menciona em seu livro, como fazem Ageu e Zacarias, profetas seus antecessores, os quais mencionam Zorobabel e Josué, respectivamente, governador e sacerdote dos repatriados. (Ver Zacarias capítulos 3 e 4 e Ageu 1.1.) Malaquias não menciona nominalmente Neemias, apenas menciona o Governador (Ml 1.9). O próprio livro de Malaquias apresenta outras evidências internas que o colocam de 432 em diante, como passamos a mostrar: a. Em Malaquias 2.10-16, vê-se que os casamentos ilícitos que Esdras corrigira antes de Neemias, em 516 (Ed 9 e 10), estavam ocorrendo outra vez. Isto coincide com o estado descrito em Neemias 13, acontecido em 432. b. Em Malaquias 3.6-12, havia pobreza no tesouro do templo. Situação idêntica à de Neemias 13, reinante em 432. c. As referências de Malaquias 1.13; 2.17; 3.14, indicam que o culto levítico já havia sido restaurado há bastante tempo. Essa restauração temo-la ampliada em Neemias 12.44 ss. Portanto, Malaquias deve ter sido escrito cerca de 432 a.C. Repetimos o que dissemos há pouco: a data 445 é apenas um ponto geral de referência quanto ao encerramento do cânon do Antigo Testamento. Foi esse o ano em que Esdras iniciou seu grande ministério entre os repatriados de Israel. Se descermos a detalhes quanto ao livro de Malaquias, partiremos de 432. Malaquias é o último livro do Antigo Testamento, quanto à ordem cronológica. Quanto à disposição dos livros no corpo do cânon hebraico, o último livro é 2 Crônicas, como já mostramos. O Novo Testamento foi completado em menos de 100 anos, pois seu último livro, o Apocalipse, foi escrito cerca de 96 d.C. Isto é, dá um total de 1.142 anos para a formação de ambos os Testamentos (1.046 + 96). (Leve-se em conta que a cronologia bíblica é sempre aproximada, pois os povos orientais não tinham um sistema fixo de computação de datas.) Quando se fala do espaço total de tempo, que vai da escrita do Pentateuco ao Apocalipse, é preciso intercalar os 400 anos do Período Interbíblico ocorrido entre os Testamentos, o que dará um total de 1.542 anos (1.046 + 96 + 400). Por isso se diz que a Bíblia foi escrita no espaço de 16 séculos. Este é o período no qual o cânon foi completado. Noutras palavras: o cânon abrange na História um total de 1542 anos, porém foi escrito em 1.142 anos, aproximadamente. IV. OS LIVROS APÓCRIFOS Nas Bíblias de edição da Igreja Romana, o total de livros é 73, porque essa igreja, desde o Concilio de Trento, em 1546, incluiu no cânon do Antigo Testamento 7 livros apócrifos, além de 4 acréscimos ou apêndices a livros canônicos, acrescentando, assim, ao todo, 11 escritos apócrifos. A palavra apócrifo significa, literalmente, escondido, oculto, isto em referência a livros que tratavam de coisas secretas, misteriosas, ocultas. No sentido religioso, o termo significa não genuíno, espúrio, desde sua aplicação por Jerônimo. Os apócrifos foram escritos entre Malaquias e Mateus, ou seja, entre o Antigo e o Novo Testamento, numa época em que cessara por completo a revelação divina; isto basta para tirar-lhes qualquer pretensão de canonicidade. Josefo rejeitou-os totalmente. Nunca foram reconhecidos pelos judeus como parte do cânon hebraico. Jamais foram citados por Jesus nem foram reconhecidos pela igreja primitiva. Jerônimo, Agostinho, Atanásio, Júlio Africano e outros homens de valor dos primitivos cristãos, opuseram-se a eles na qualidade de livros inspirados. Apareceram a primeira vez na Septuaginta, a tradução do Antigo Testamento feita do hebraico para o grego. Quando a Bíblia foi traduzida para o latim, em 170 d.C, seu Antigo Testamento foi traduzido do grego da Septuaginta e não do hebraico. Quando Jerônimo traduziu a Vulgata, no início do Século V (405 d.C), incluiu os apócrifos oriundos da Septuaginta, através da Antiga Versão Latina, de 170, porque isso lhe foi ordenado, mas recomendou que esses livros não poderiam servir como base doutrinária. São 14 os escritos apócrifos: 10 livros e 4 acréscimos a livros. Antes do Concilio de Trento, a Igreja Romana aceitava todo, mas depois passou a aceitar apenas 11: 7 livros e os 4 acréscimos. A Igreja Ortodoxa Grega mantém os 14 até hoje. Os 7 livros apócrifos constantes das Bíblias de edição católico-romana são: 1) TOBIAS (Após o livro canônico de Esdras) 2) JUDITE (após o livro de Tobias) 3) SABEDORIA DE SALOMÃO (após o livro canônico 4) ECLESIÁSTICO (após o livro de Sabedoria) 5) BARUQUE (após o livro canônico de Jeremias) 6) 1 MACABEU 7) 2 MACABEU (ambos, após o livro canônico de Ma-laquias) Os 4 acréscimos ou apêndices são: 1) ESTER (a Ester, 10.4 - 16.24) 2) CÂNTICO DOS TRÊS SANTOS FILHOS (a Daniel, 3.24-90) 3) HISTÓRIA DE SUZANA (a Daniel, cap. 13) e 4) BEL E O DRAGÃO (a Daniel, cap. 14) Como já foi dito, dos 14 apócrifos, a Igreja Romana aceita 11 e rejeita 3, isto, após 1546 d.C. Os livros rejeitados são: 1) 3 ESDRAS 2) 4 ESDRAS E 3) A ORAÇÃO DE MANASSES Os livros apócrifos de 3 e 4 Esdras são assim chamados porque nas Bíblias de edição católico-romana o livro de ESDRAS é chamado 1 ESDRAS; o de NEEMIAS, de 2 ESDRAS. A Igreja Romana aprovou os apócrifos em 18 de abril de 1546, para combater o movimento da Reforma Protestante, então recente. Nessa época, os protestantes combatiam violentamente as novas doutrinas romanistas: do Purgatório, da oração pelos mortos, da salvação mediante obras, etc. A Igreja Romana via nos apócrifos bases para essas doutrinas, e, apelou para eles, aprovando-os como canônicos. Houve prós e contras dentro da própria Igreja de Roma. Nesse tempo os jesuítas exerciam muita influência no clero. Os debates sobre os apócrifos motivaram ataques dos dominicanos contra os franciscanos. O cardeal Pallavacini, em sua História Eclesiástica, declara que em pleno concilio, 40 bispos, dos 49 presentes, travaram luta corporal, agarrados às barbas e batinas uns dos outros... Foi nesse ambiente espiritual que os apócrifos foram aprovados! A primeira edição da Bíblia romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do Papa Clemente VIII. Os reformadores protestantes publicaram a Bíblia com os apócrifos colocando-se entre o Antigo e Novo Testamento; não como livros inspirados, mas bons para a leitura e de valor literário e histórico. Isto continuou até 1629. A famosa versão inglesa de King James,de 1611, ainda os conservou. Após 1629, os evangélicos os omitiram de vez nas Bíblias editadas, para evitar confusão entre o povo simples que nem sempre sabe discernir entre um livro canônico e um apócrifo. A aprovação dos apócrifos pela Igreja Romana foi uma intromissão dos católicos em assuntos judaicos, porque, quanto ao cânon do Antigo Testamento, o direito é dos judeus e não de outros. Além disso, o cânon do Antigo Testamento estava completo e fixado há muitos séculos. Entre os católicos corre a versão de que as Bíblias de edição protestante são falsas. Quem, contudo, comparar a Bíblia editada pelos evangélicos com a editada pelos católicos há de concordar em que as duas são iguais, exceto na linguagem e estilo, que são peculiares a cada tradução. O que alegam contra a nossa Bíblia é que lhe faltam livros e partes de outros, mas essa falta é de livros e de parte de livros apócrifos, como mencionamos. OUTROS LIVROS APÓCRIFOS Há ainda outros escritos espúrios relacionados tanto com o Antigo como com o Novo Testamento. São chamados pseudo-epigráficos. Os do Antigo Testamento pertencem à última parte do período inter bíblico. Todos os livros dessa classe apresentam-se como tendo sido escritos por santos de ambos os Testamentos, daí seu título: pseudo-epigráficos. São na maioria, de natureza Apocalíptica. Nunca foram reconhecidos por nenhuma igreja. Os principais do Antigo Testamento chegam a 26. Os referentes ao período do Novo Testamento também nunca foram reconhecidos por ninguém como tendo canonicidade. São cheios de histórias ridículas e até indignas de Cristo e seus apóstolos. Essas histórias são muito exploradas pela gente simplória e crédula. Desse período há de tudo: evangelhos, epístolas, apocalipse, etc. Os principais somam 24. Os que estudam a Bíblia devem estar acautelados do seguinte, concernente aos livros canônicos e apócrifos em geral: • Aos nossos 39 livros canônicos do Antigo Testamento, os católicos os chamam de protocanônicos. • Os 7 livros, que chamamos de apócrifos, os católicos os chamam de deuterocanônicos. • Os livros que chamamos de pseudo-epigráficos, eles os chamam de apócrifos.
Posted on: Wed, 20 Nov 2013 03:15:39 +0000

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