O Fora do Eixo, o Midia Ninja e a pressa que grassa nas redes - TopicsExpress



          

O Fora do Eixo, o Midia Ninja e a pressa que grassa nas redes sociais... Desde segunda-feira (05/08), quando dois representantes do Mídia Ninja estiveram no programa Roda Viva, tenho visto as pessoas se lançarem a análises terminativas sobre tanto o Mídia Ninja quanto sobre o Fora do Eixo, iniciativa que lhe deu origem. Vejo as pessoas afoitas por chegarem a conclusões antes mesmo de se darem o tempo devido para compreender melhor o assunto. Só fui assistir a entrevista na madrugada de segunda para terça, mas antes de vê-la já tinha lido inúmeros comentários aqui no feicibuque sobre o desempenho dos “garotos”. De um modo geral, as pessoas pareciam embevecidas pela eloqüência dos “meninos”. De fato, eles tiveram um bom desempenho. O programa deixou explícita a incapacidade dos que fazem essa mídia tradicional e decadente (hegemônica até hoje, mas não mais por muito tempo) de apreender esse fato novo, que é o midiativismo (nem tão novo assim). Os entrevistadores não souberam sequer conduzir o programa. Ficaram atônitos. Deixaram de fazer perguntas que poderiam atingir melhor a essência do assunto para orbitarem apenas em torno de temas como financiamento e preferências político-partidárias dos que tocam o projeto. O contraste entre a perplexidade dos entrevistadores e a fluência dos entrevistados escancarou a defasagem do pensamento formatado pela lógica capitalista de produção que ainda dita as regras de funcionamento nas empresas de comunicação. Acho que foi por isso que tanta gente sentiu um encantamento precipitado pelos dois “meninos” do Mídia Ninja. O curioso é que pessoas que, no primeiro segundo após o fim do Roda Viva, exultaram o desempenho dos entrevistados, agora já estão esculachando com os dois. Sinceramente, não havia até agora escrito uma linha sequer sobre o Fora do Eixo, nem sobre o Mídia Ninja mais especificamente, porque ainda preciso de tempo para formular melhor minhas impressões e organizar melhor minhas idéias e opiniões. Mas, desde já, arrisco dizer que o Mídia Ninja não é um inimigo dos movimentos de esquerda. Tenho sentido, da parte de alguns, uma sanha inquisitória e acusatória muito grande em relação ao Mídia Ninja. Parece que muitos de nós, que militamos por justiça social e pela democratização dos meios de comunicação, temos incorrido no mesmo equívoco dos entrevistadores do Roda Vida e, com isso, talvez, estejamos também evidenciando nossa defasagem e incompreensão diante do que está colocado. Não acho que os questionamentos NECESSÁRIOS a serem dirigidos ao Mídia Ninja, ou ao Fora do Eixo, devam fazer eco ao mimimi dos matusaléns da velha imprensa. Não sei se seria sobre o montante de recursos que o Mídia Ninja movimenta que deveriam se concentrar nossas especulações. Fomento às mídias alternativas deve ser uma política de Estado, não só de governo. É legítimo sim que projetos que contribuam de alguma maneira para desconcentrar a produção e a circulação de conteúdos recebam apoio estatal porque responde a um interesse público premente, que é a democratização dos meios de comunicação e a promoção da liberdade de expressão. Se a forma como o Mídia Ninja, dentro desse contexto mais amplo do Fora do Eixo, vem atuando pode significar um desserviço a essas aspirações, aí já são outros quinhentos. Mas não é em razão dos resultados finais que iremos desautorizar a proposta inicial. Não vejo também no Mídia Ninja todo esse potencial ameaçador, detectado por alguns, no que se refere ao uso conservador que essa forma de organização e atuação que se promete revolucionária pode favorecer. Entre os ufanistas e os apocalípticos, eu prefiro ainda reunir mais elementos para conhecer melhor essa organização, essa marca registrada, essa “seita” ou seja lá o que venha a ser esse Fora do Eixo e sua cria, o Mídia Ninja. Acho que tudo o que se disse contra o Fora do Eixo ao longo dessa semana é bastante sério, mas também acho que é preciso ouvir as respostas que virão. Não dá pra tirarmos conclusões sem ouvirmos os dois lados. Sobre as questões internas do Fora do Eixo, sobre sua organização e estruturação, não tenho muito interesse em comentar. Se há irregularidades relativas à legislação trabalhistas, que os prejudicados reclamem seus direitos. Até mesmo as deficiências relacionadas à transparência da administração dos recursos financeiros que sustentam esse programa, a meu ver, não deveriam ser usadas apenas como mais um pretexto para colocarmos o Fora do Eixo sob mais suspeição ainda, mas sim como uma evidenciação da necessidade de se discutir melhor uma revisão geral do incentivo à cultura no Brasil. Desde 1991, a partir da Lei Rouanet, que boa parte dos investimentos públicos em cultura se fazem por meio de renúncia fiscal. Ora, esse modelo significa a privatização da promoção cultural no Brasil. As empresas, em geral, preferem vincular sua marca a eventos que acontecem nas grandes cidades (dentro do eixo, portanto) e que possuam maior apelo de público. No final das contas, o que ocorre é uma maior concentração de recursos em atividades e localidades específicas. O investimento que é público, afinal se dá por meio de renúncia fiscal, isto é, dinheiro que o Estado deixa de arrecadar, acaba sendo arbitrado pelo interesse privado. Esse é um ponto. É preciso discutir o incentivo à cultura no país como uma questão de Estado, que não envolve apenas aspectos orçamentários ou tributários. Eu acho que é daí que devemos tentar entender a economia e a ecologia (em seus sentidos lato, evidentemente) do Fora do Eixo, como um fato social e cultural, com seus inevitáveis desdobramentos políticos e suas naturais contradições ideológicas. Sobre a figura pessoal do Pablo Capilé, que também tem sido muito atacado nesses dias, eu não posso dizer absolutamente nada. Apenas confesso que o raciocínio dele e a maneira como ele o expõe têm me parecido excessivamente barroco. Talvez seja uma estratégia para, a um só tempo, confundir o interlocutor e fascinar a platéia. Pode ser que tenham saído daí tanto o espanto dos entrevistadores do Roda Viva, quanto a euforia dos telespectadores do programa durante a entrevista e nos primeiros instantes após o término dela. Seja como for, mais do que embarcar nos questionamentos furados e ultrapassados que os matusaléns da velha mídia querem impor, acho que o interessante nesse momento é confrontar o Fora do Eixo, e sua Mídia Ninja, a partir desse mesmo discurso barroco que o apresenta, e que nos seduz tanto pela forma que nos faz esquecer do conteúdo. Palavras novas, expressões novas podem encantar e iludir por sugerir um frescor de idéias que não necessariamente se confirmam na prática. Acho que é esse o filão para tentarmos entender o Fora do Eixo, questioná-lo e contribuir não necessariamente com o programa/marca/“seita”, mas com a essência da proposta. Se o Pablo Capilé é um charlatão, um aproveitador, um espertalhão, um explorador do trabalho e da criatividade alheia, eu não sei. Não sei se ele se acha um messias. Quem sabe um Antônio Conselheiro da sociedade digital? Não sei. E não acho que seja esse o “x” da questão. Pra mim, o “x” da questão e que deveria ocupar nossas atenções é precisamente aquilo que de materialmente histórico pode estar sendo construído por esse discurso barroco. Que “monumentos” históricos podem estar sendo erigidos pela mobilização humana de todos esses “ornamentos” de linguagem empregados por essa liderança que atende pelo nome de Pablo Capilé? Acho que muito mais importante do que saber se Capilé é petista ou peessedebista, ou se ele recebe ou não um salário e de quanto seria esse salário, seria sondarmos os significados reais, simbólicos e imaginários do seu discurso. O que é essa sociedade interligada por redes de colaboração? Como se processa esse caldo humano e cultural? Quais são as bases de sustentação dessa organização “pós-fordista”, “pós-capitalista”, “pós-moderna”, “pós-contemporânea”, “pós-pós-pós”? Como se resolvem os conflitos de interesse entre o particular/pessoal e o coletivo? A individualidade deve se anular em prol da coletividade? (Um artista não pode assinar sua criação porque ela já nasce apropriada pela marca registrada do Fora do Eixo? Essa pergunta é especialmente delicada porque a História não costuma contar coisas muito boas sobre movimentos assim tão centralizados. E, por falar em centralidade, emerge uma contradição crucial que é a incongruência entre essa prática e o discurso da “horizontalidade” ou “multiplicidade de lideranças” ou ainda (haja barroquismo!) “mosaico de parcialidades”, que o líder/messias Pablo Capilé sempre apresenta). Como superar as contradições entre a retórica do “coletivo”, do “desprendimento”, do “co-colaborativo”, do “jovens artistas e ativistas que se identificam com determinadas causas e reúnem seus esforços e talentos em defesa dessas causas”, em suma, a retórica da “fraternidade e solidariedade”, com a realidade de uma entidade/empresa organicamente estruturada e que precariza relações de trabalho? Nega-se, aqui fora, as relações de poder e contradições e conflitos de classe para reproduzi-las no interior das casas que abrigam o exército de “colaboradores” só que com uma roupagem romantizada e estetizada? Enfim, eu não tenho quase nada a afirmar sobre o Fora do Eixo e sua Mídia Ninja, mas tenho muitas perguntas e muitas dúvidas. Acho que mais do que uma rejeição ou um deslumbramento precipitados, precisamos é nos interessar por conhecer melhor esse movimento/empresa/“seita” e seus participantes/gestores/“gurus”. Que venham as próximas declarações. Eu ainda vou me dar mais tempo.
Posted on: Sat, 10 Aug 2013 12:13:42 +0000

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