O PARAÍSO DAS ILUSÕES - CAPÍTULO 1 - Olá! Quero terminar - TopicsExpress



          

O PARAÍSO DAS ILUSÕES - CAPÍTULO 1 - Olá! Quero terminar como iniciámos. - Olá. A nossa história foi apenas mais uma nos anais de outras tantas histórias contadas por outros. O que te disse quando te conheci serviu de requiem quando te perdi, ou quando partiste, ou teria sido eu a partir? Não sei… o que sei é que pelo meio ficou a voluptuosidade de acontecimentos dóceis e ácidos que hoje ainda amargam a boca com o fel deixado ao longo da estrada. Vivemos de tantos desencontros que as esquinas não foram bastantes para marcarem as nossas sombras nalguma angular pedra nem para guardarem na puída calçada a dor calcorreada pelos pés cansados de tanto nos procurarmos. Foi assim que nos arrastámos pelo tempo como dois répteis conscientes de nada terem construído, vivendo ilusórias vidas paralelas onde os monstros da alucinação retalhavam a carne mais que feriam o coração. Nem quando te perguntei o porquê da nossa relação vazia à mesa daquela friorenta esplanada exposta à chuva foi o bastante para que pensasses e concluísses que dali em diante nada mais havia a tentar. A clareza dos meus esclarecimentos face à mudez da tua resposta sujeitava de mérito as dúvidas e aconteceu como acontecem todos os vazios: De nada! - Eu amo-te. – Disseste. Depois sorriste. Quando vi espelhado no teu rosto o cinismo de quem pretende protelar a visão corrompida de uma história sem nexo senti vontade de sair daquela mesa de café e partir de trouxa ao ombro pelo mundo afora à descoberta de qualquer tesouro que acreditava, e acredito, estava guardado para mim e me faria feliz. Porém, estupidamente, não o fiz… Fiquei, não por ti, mas por mim. O final da banalidade da nossa relação era a expectativa que aguardava acontecesse como quem espera algo mais do passado. Compunha o fato da desilusão sobre os ombros, apertava a gravata da lágrima ao pescoço e erguia-me como quem se afunda num olho-de-boi sem fim e crê que a claridade vampírica prevalece para além do sufoco do lodo. Fui levado a responder com um “também eu”… mas a falta de veracidade era de tal forma doentia que recolhi as palavras e atirei-as no primeiro balde do lixo que encontrei por me ter arrependido de as ter dito ou imaginar que as dissera. A falsidade de tudo quanto era falso saltitava de chávena em chávena e o café que bebíamos assemelhava-se a um veneno Cleópatro que o organismo rejeitava de tão mal disfarçado e amargo. Limitei-me ao silêncio enquanto fitava o teu olhar cúmplice da minha dor e perguntava como teria deixado escapar pelas pontas dos dedos o véu de uma alegria que quis compusesse a mesa da boda da união e que agora compunha a mesa farta do funeral de nós. Para quê responder se a hesitação era falsa crença e a verdade a fera deixada ao abandono no mato? Havia por acaso resposta possível? - Não sou feliz, como tal não consigo fazer-te feliz, nem acredito que sejas feliz junto de mim. – Foi a única ladainha que meus lábios repetiram numa sequência de brechas e buracos negros de interrogações. Se algo mais havia a dizer eram palavras que saltitavam fugazes pela voluptuosidade do espaço cénico que preenchia o tampo da mesa onde assentavam os cafés e como um arpão enlaçava ambos os intervenientes. Ligava-nos um fio invisível de arrepios onde o abandono se encrostava à pele e fazia mais que temer, tremer. Que coragem nos assistia para que nos revelássemos? Revelarmos o quê? A unicidade da nossa história era a multiplicação de inúmeros factos separados que nos conduziam a bifurcações onde as linhas inicialmente paralelas se afastavam a uma velocidade alucinante e sem que déssemos por isso todos os abismos do mundo nos dividiam. A única coisa em comum era sermos dois seres vivos! O mais tinha sido corrompido pela indiferença e pela frieza das acções. Adiantava erguer a tampa do alçapão da imundice onde naufragámos para termos o prazer de atirarmos pedras um ao outro? Já o fizéramos durante tanto tempo que não acredito houvesse em nós algum pedaço de derme que não estivesse magoada de nódulos negros ou carne viva. Não houve revelações. O estendal manteve-se vazio à espera da roupa mal lavada. A conspurcação estava guardada para o final envolta numa rodilha rasgada que ambos desconhecíamos... Ou que eu desconhecia…! A sensação de que o tampo do alguidar se romperia e lançaria todo o lixo pelo ribeiro fora entontecia-me. Muito mais do que imaginava! Afinal, revendo agora tempos idos, tenho a plena consciência de que quando acreditei no que me recusei a acreditar e escondi da dor a verdade até que ela se tornasse tão transparente e luminosa que me cegasse pude constatar que o sonho florido transformara-se num pesadelo sem definição. Não queria verdades! Saber que existiam era motivo de sofrimento. Ninguém nasce para sofrer! Paupérrima fantasia onde me atulhava… O brilho do teu olhar resvalava para a inaptidão do reconhecimento do meu sofrimento, qual déspota, sem que isso importasse ou fosse relevante. António Casado
Posted on: Tue, 29 Oct 2013 15:21:21 +0000

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