O PETRÓLEO NÃO PRECISA SER SÓ NOSSO, MAS TEM QUE TRABALHAR - TopicsExpress



          

O PETRÓLEO NÃO PRECISA SER SÓ NOSSO, MAS TEM QUE TRABALHAR PELO BRASIL Luiz Roberto Saviani Rey (Publicado no Portal jornaldecampinas.br) A novidade de certo noticiário desses dias, quase despercebida da maioria, foi a declaração de que as reservas do campo petrolífero de Libra são estratégicas e o estado brasileiro deveria ter contratado a Petrobras, que as descobriu, para operá-las em 100%, contrariando o leilão realizado. Declaração disparada por Guilherme Estrella, considerado o pai do Pré-Sal. Geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, foi ele o responsável pelo mapeamento da megarreserva que poderia representar, a depender de sua forma de gestão, a redenção brasileira nos campos do desenvolvimento econômico, da educação e da independência de mercados externos nessa área. Enfim, uma emancipação real e esperada depois de mais de 500 anos de descoberta e fundamentação do país. Estrella tece críticas ferozes ao leilão realizado há uma semana e alerta para problemas no interior do consórcio que vai extrair o petróleo (Petrobras, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e duas estatais chinesas). Problemas que, fatalmente, poderão resultar, entre outras coisas, na dispersão de lucros e na perda de investimentos no plano interno brasileiro. Sem querer ser nacionalista ou pregar que o petróleo é nosso, penso que há razão nessa assertiva. Afinal, as reservas naturais, historicamente, têm sido a fonte do enriquecimento, fortalecimento e emancipação das nações livres que conhecemos no Ocidente. O solo e seus produtos e subprodutos pertencem exclusivamente a países dominantes, que se dão ao direito de interferir nos solos, nos quintais, dos outros, para auferir lucros maiores e ter o controle e o domínio político de regiões globais. É a Globalização mítica para nós, abaixo da linha do Equador, é o pós-modernismo e seu capitalismo tardio. É para isto, afinal, que espionam a todos nós! O setor petrolífero é complexo, carregado de periculosidades jurídicas, cheio de percalços contratuais e extremamente controlado pelas grandes petroleiras, a maioria regida pelo capital norte-americano. Haja vista que a crise provocada pelos árabes em 1973 - com a elevação dos preços dos barris de petróleo em quatro vezes, no período de três meses - não mereceu reações iradas do governo Richard Nixon e nem de seu sucessor, tampouco foi considerada uma revolução econômica que ameaçasse a soberania dos Estados Unidos. Pelo contrário, sabidamente, permitiu parcerias que enriqueceram ainda mais os americanos. A crise somente foi vivida de forma crucial por países em desenvolvimento na época, como o Brasil militarizado, que trabalhou mal a crise e não soube tirar proveitos dela, sacrificando o povo sem perdão. É tão relevante a exploração que nos anos da ditadura, existia um “Contrato de Risco” da Petrobrás, sob segredo de generais, constituído por uma folha em branco, assinada pelas empresas, que eram surpreendidas no meio da operação por cláusulas que desconheciam. Tive a honra de trabalhar ao lado do jornalista José Roberto Alencar, ex-Gazeta Mercantil, Folha de São Paulo, e à época diretor do Diário do Povo de Campinas, quando conseguimos, em um furo de reportagem internacional, publicar em uma edição especial a íntegra desse contrato tão temido pelos estrangeiros. Sou grato ao saudoso Alencar por relatar o episódio em seu livro “Sorte e Arte” e mencionar meu nome nesse capítulo. Enfim, as Guerras dos Golfos, de Bush pai e Bush filho, somente expressaram os interesses de exploração da imensa bacia do Iraque, sob o patrocínio dos texanos. Onde há bacia do óleo, lá estão os tubarões de barbatana branca e dentes de diamantes, prontos a furar e a auferir grandes somas de dinheiro. Portanto, sendo o Pré-sal uma espécie de medicamento para o desenvolvimento e a promoção da educação em nosso país, justo seria que permanecesse sob a administração exclusiva da Petrobrás. Sempre temi que esta e outras reservas relevantes do solo e do subsolo brasileiros viessem a cair em mãos estrangeiras ávidas por lucro particular, sem subdivisões e distribuição. Isto já ocorre no Brasil em vários segmentos, no campo da agricultura, de plantas medicinais, no próprio campo fundiário. O petróleo que jorrará do Pré-sal, não precisa ser exclusivamente nosso, como em campanhas nacionalistas do passado, de certo modo ufanistas e até errôneas. Mas tem que trabalhar pelo Brasil, pelo engrandecimento das futuras gerações, em primeiro lugar, porque Nação se faz, antes de tudo, com gente. E para essa gente voltam-se as obras de infraestrutura e os benefícios das arrecadações. O Brasil ainda vive o tempo da Derrama e sua classe média transpira sangue e lágrimas, anualmente, para sustentar um estado gigantesco, sem alívio, sem água, sem o arreglo de medidas que possam desonerar sua carga tributária pesada, cobrando, minimamente, de setores ricos e de produção que quase nada recolhem. Sem retornos, o que é pior! Da forma com o Pré-sal será trabalhado, temo que no futuro, nossos filhos e netos se surpreendam tendo que pagar contas monumentais – como a da Guerra do Paraguai - a bancos Rotschild da vida, em dívidas contraídas pela exploração de nossos próprios recursos naturais, como resultado de um leilão esquisito, samba do crioulo doido, gestão múltipla e confusa, interesseira, rasteira, o que não seria, propriamente, um futuro, mas um furturo. E aí, voltaríamos ao círculo vicioso que vem desde o colonialismo: teríamos de esperar outro bonde de Santa Tereza para irmos a país nenhum... (Luiz Roberto Saviani Rey é jornalista e professor da Faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
Posted on: Thu, 31 Oct 2013 11:33:59 +0000

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