O POETA DA LUA - capítulo 1 (parte 11) - Mãe, eu posso - TopicsExpress



          

O POETA DA LUA - capítulo 1 (parte 11) - Mãe, eu posso fazer as coisas ao mesmo tempo. Sinto-me mais útil assim... Quero ser independente. Repara, não é só contribuir para as despesas de casa mas juntar dinheiro para realizar os meus planos. Maria dos Anjos anuiu encolhendo os ombros e abriu a porta da gaiola para que ele se evadisse por onde quisesse rumo ao futuro que tanto ansiava. Salientava, no entanto, que estabelecia o ensino como prioridade. Em Setembro recebeu um telegrama duma empresa. A primeira entrevista laboral. Ficou emocionado. Ficou emocionado e assustado. A hipótese de lançar mão dos projectos estava agora ao seu alcance. O anúncio pedia jovens com o quinto ano e com ambição para trabalharem na região. Preenchia todos os requisitos. Além disso o escritório ficava junto à escola. Naquela manhã acordou mais cedo. Aprontou-se o melhor que pôde com a ajuda da mãe e saiu para a rua a fim de gozar os últimos dias de um quente e profícuo Verão. O sol nas árvores brincava com as folhas enquanto uma aragem húmida fazia pender gotículas de orvalho, translúcidas e brilhantes. Acendeu um cigarro. As pessoas corriam para as paragens do autocarro apressadas, inquietas. Pelo caminho cumprimentavam-se. Nos cafés, durante o pequeno almoço, falavam das férias quando não existiam horários e a preocupação era o que fazer com o restante dia. Alguns cães corriam pelo jardim, contentes. As crianças dormiam ainda... Passo a passo dirigiu-se à morada indicada. Oito e trinta. Era demasiado cedo. Entrou num café e pediu uma bica. Uma senhora de meia-idade serviu-o. - Hoje está uma manhã magnífica! Acenou afirmativamente com a cabeça e continuou a saborear o café com o olhar preso à montra. Dali podia ver o enorme edifício de sete andares com várias janelas rectangulares. No primeiro nadar desenrolar-se-ia o seu futuro dali a instantes. A ansiedade respirava pelos poros do nervosismo. quando entrou pela porta do edifício o porteiro, depois de ter lido o telegrama, indicou-lhe o elevador. Subiu. A porta encontrava-se fechada. Decidiu esperar ali mesmo. Pouco tempo depois surgiu outro jovem. Exibia na mão um telegrama igual ao seu. Ficou apreensivo. Se havia concorrência tinha de demonstrar uma maior capacidade e para isso confiava nos propósitos que o levaram até ali. Para além de um "bom dia" nada mais disseram. Sentiam-se rivais e para além disso não tinham assuntos em comum. O entrevistador chegou, apresentou-se, pediu que entrassem para uma pequena sala muito limpa e pouco mobilada e que o aguardassem. Alex não conseguia deixar de olhar de soslaio para aquele jovem. Alguma coisa nele o atraía e lamentava as circunstâncias em que se conheceram. Praticamente da sua altura, magro, idade semelhante, cabelo castanho muito claro e brilhante e uns olhos verdes que o fascinavam. Reparou que para o moço também não passara despercebido. Abanou a cabeça e tentou afastar todos os pensamentos. Pouco tempo depois o entrevistador chamou-o. Nervoso, esforçou-se por aparentar alguma calma e confiança. Viu-se diante daquele homem também novo, rondando os trinta e cinco anos, trajando fato e gravata, de olhos claros muito transparente, dedos compridos e unhas arranjadas. - É o senhor... Alexandre. - Disse depois de consultar a ficha que se encontrava sobre a secretária. - Sim... - Respondeu timidamente. - Nós somos uma grande empresa ligada à restauração. Trabalhamos nos refeitórios de grandes empresas. O que necessitamos neste momento é de formar cozinheiros. Seleccionámos alguns candidatos para a entrevista e destes vamos escolher dois. Damos preferência a quem procura o primeiro emprego. A idade para se iniciar neste sector é a ideal. Gostaria de saber se lhe interessa para já a profissão de cozinheiro... - Claro! - Respondeu Alex de rompante. - Não percebo nada de cozinha mas gostava.... - Eu sei. Por isso a formação inicial será de dois anos, patrocinada pelo centro de Emprego. À medida que o desempenho for melhorando as equivalências profissionais farão com que se aproximem dos outros funcionários. O lugar de destaque nesta área é o de chefe de cozinha. Os nossos diplomas garantem a carteira profissional. É o que temos para oferecer de momento. Além disso garantimos transporte para o local de trabalho e regresso. O horário será das nove da manhã às dezasseis horas com almoço incluído e pago pela empresa. Terá direito a férias e subsídio bem como ao décimo terceiro mês. O trabalho funciona por turnos embora os tirocinantes cumpram apenas o horário diurno. Terá dois dias de folga por semana que poderão, ou não, coincidir com os fins de semana. Está disposto a começar? - Quando? O homem vendo o interesse estampado no rosto de Alex escreveu umas notas numa ficha e entregou-lhe um documento. - O senhor vai ser consultado pelo nosso médico que o mandará fazer uns exames de rotina. Depois voltará aqui com o relatório. Nessa altura falaremos de outros pormenores. Estendeu a mão e passou-lhe um cartão com a morada do médico. Levantou-se, despediu-se e apertou a mão àquele simpático sujeito. A felicidade estava latente nas estrelas irradiadas pelo olhar. Aquilo era mais do que esperava. Um contrato de trabalho! Ele falara-lhe num contrato de trabalho! Agora tinha de contar à mãe e ao Leonardo. Certamente ficariam felizes por si. O primeiro grande passo estava dado. Que mais poderia querer um jovem da sua idade a caminha para os dezassete anos que a possibilidade de aprender uma profissão, ser remunerado, ter tempo disponível... Tudo! Quando chegou à rua pulou de contente. apetecia-lhe saltar para o colo dos que passavam, beijá-los, expandir a energética euforia que nascia no estômago e brotava pelas pontas dos dedos. Olhou repetidas vezes para a morada do médico. Nem parecia longe dali! Assim que chegou a casa apressou-se a contar as novidades à mãe. páginas - 34, 35, 36, 37 Livro - O POETA DA LUA autor - António Casado editora - Chiado Editora
Posted on: Wed, 14 Aug 2013 20:42:32 +0000

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