O QUE SERÁ QUE VAI SER ALI? Crônica em defesa da paisagem urbana de Santa Isabel. Precisei chegar aos 80 anos, 50 de Santa Isabel, para presenciar um dos maiores absurdos que se pode perpetrar contra a paisagem da cidade e ao patrimônio histórico, turístico e cultural da cidade. A ideia inicial desta crônica era falar das construções antigas que rápida e sorrateiramente são postas abaixo. Quando a gente se dá conta, já eram, e assim a cidade vai sendo descaracterizada, perdendo o charme, ficando mais pobre e mais feia. Botam abaixo sem que antes haja um projeto viável e aprovado pela prefeitura para o local. Ia tomar como motivo, a demolição de um bangalô que havia na Rua 9 de Julho, ao lado do Colégio Major, a dois passos da Praça da Bandeira. Uma chacrinha que, minha veleidade de ex-presidente do Comtur, via como perfeito para ali se construir um hotel turístico, fora do burburinho da praça. Nas minhas ideias de arquiteto, o bangalô não seria posto abaixo. Nele funcionaria a recepção e a parte administrativa. Os apartamentos de hospedes seriam construído no seu entorno, mantenho o jardim e as arvores. , as acomodações seriam construídas no entorno. O mundo está cheio de exemplos assim. Tudo foi arrasado e corre o risco de virar estacionamento. Não sei há quanto tempo fala-se do Plano Diretor, mas enquanto não se decide, a derrubada continua. Achei que com a eleição de dois arquitetos para o legislativo, sem falar de outros vereadores bem intencionados, ele sairia, mas já estamos entrando no oitavo mês, vamos esperar, pode ser que em setembro, ele nasça. A derrubada a esmo é antiga. O mesmo destino do citado bangalô teve uma casa antiga, estilo anos 20, que hoje teria quase cem anos, que havia nos 13, esquina da Maximiano com a Fernandes Cardoso. Herança de três irmãs que, segundo soube, não se entendiam até concordarem vender o imóvel. Foi derrubada da noite pro dia. Quem a comprou tinha ideia de construir ali um posto de serviço. Ideia vetada em respeito ao ribeirão que passa no fundo, na Marginal, mas nessa altura a casa já não existia. O terrenão está lá, parece que hoje foi comprado pela prefeitura. Confirmada essa posse, para maior conforto e segurança, através dele podia haver o embarque e desembarque dos alunos da escola municipal vizinha e desse modo desafogar o transito e evitar acidentes. Caso também antigo e triste, foi o que fizeram com a Capela de São Lazaro, que, segundo consta, na época tinha 80 anos e fazia parte da historia da cidade. Não vou dizer que era um primor arquitetônico, pois Santa Isabel não é nenhuma Ouro Preto ou mesmo uma Santana do Parnaíba, mas vamos combinar, ornava mais com a nossa do que esse horror erguido no seu lugar. O mesmo aconteceu com o antigo prédio do armazém do seu Joel de Souza na Rua João Pessoa, onde, em outros tempos podia se comprar pregos, parafusos, macarrão, arroz, feijão e até carretel de linha. Deixaram o telhado ruir e a fachada, descaracterizada, virou muro de estacionamento. Outros exemplos não faltam. Um dos mais notórios é a Igreja do Rosário (1723), que, daqui a 10 anos completará 3 séculos, 300 anos, e que eu saiba, jamais passou por uma restauração séria, apenas reformas em cima de reformas. Eu mesmo, através de relacionamento profissional, nos anos 80, quando era trocado o antigo telhado, escrevi para o Boni da TvGlobo pedindo que intercedesse junto à Fundação Roberto Marinho. Na verdade, pedia um patrocínio para a restauração da igreja que não veio. Hoje o que se vê é um desrespeito, vitrôs basculantes de ferro em suas paredes coloniais. Esta crônica ia falar dessa falta de planejamento e de amor pela nossa cidade. Estava já escrita, quando um horror maior se apresentou: acabar com o Mirante do Cafundó localizado aqui nas Chácaras Boa Vista. Lugar de vista privilegiada, que apesar de não ser o ponto mais elevado do município, pode-se ver toda a terra isabelense até além das suas divisas mais distantes. Lugar histórico, pois segundo consta, era um dos caminhos que os tropeiros faziam para chegar em Santa Isabel a caminho de Minas. Apesar disso, a prefeitura tinha ideia é fazer ali o transbordo do lixo compactado da cidade e deixar que o chorume escorresse pelas nossas ruas de terra e morro abaixo, onde, quem quiser pode ver, há nascentes de boa água. Isto sem falar que o local está a 100 metros de residências e escolas municipal e estadual.. Nem sei quantas vezes já escrevi neste jornal e também no O Ouvidor sobre a conveniência de se ter ali uma das atrações turísticas desta nossa cidade que se diz turístico, pois é um dos poucos lugares onde se pode chegar de carro, de ônibus, e até de carro de boi. Um passeio magnífico a quase 1000 metros de altitude. O Mirante do Cafundó sempre esteve à espera de melhor destino, e agora fui surpreendido pela mesma administração que apesar de ter fechado o Centro de Recepção a Turista – CRT, da praça Fernando Lopes, teve peito e coragem de criar uma secretaria especifica para cuidar dos negócios turísticos do município, porem quando achei que a coisa ia melhorar, chegou a bomba. Caminhões já tinham levado lixo até o local, outros não conseguiram, foram barrados por moradores indignados. Fui até lá e vi, com estes olhos que a terra há de comer, tinha cara de lixo de cemitério. Queria aproveitar a formação de padre do nosso atual prefeito, e por que não? também do nosso vice como pastor evangélico, que mesmo não pertencendo à mesma igreja, souberam se unir para ganhar votos nas eleições, e lembrar aqui de uma das recomendações do Papa Francisco: “A igreja precisa sair às ruas.” A meu ver, a prefeitura deveria fazer o mesmo. Não sou ingênuo. Lixo existe, é problema, não dá pra ser escondido sob o tapete, mas convenhamos, não precisa ser colocado numa das salas de visitas mais bonitas da cidade. Tenham dó do Cafundó e de Santa Isabel. Em tempo. Numa audiência no dia 1/8, o sr. Prefeito usando de bom senso, e com certeza diante da beleza do lugar, prometeu buscar outro lugar para o problema e, quem sabe, cobrar do turismo melhor aproveitamento do lugar
Posted on: Mon, 05 Aug 2013 14:09:29 +0000
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