O contato de Carl Sagan Há 12 anos o mundo da divulgação - TopicsExpress



          

O contato de Carl Sagan Há 12 anos o mundo da divulgação científica perdia uma de suas estrelas de maior magnitude. Carl Edward Sagan, formado em Astronomia Planetária pela “University of Chicago” e doutor em Biologia pela “Harvard University”, dedicou sua vida à pesquisa e a divulgação da Astronomia, principalmente na área da exobiologia, que estuda a possibilidade de existência de formas de vida, fora da Terra. É considerado por muitos como o maior divulgador de ciência da história, graças à visibilidade que recebeu através de sua série de televisão “Cosmos”, veiculada em 1980. Gravado em parceria com sua esposa Ann Druyan, durante 3 anos visitou 12 países, produzindo 13 episódios abordando assuntos como história da ciência e da Astronomia, Exobiologia, além dos feitos alcançados pela Astronáutica. Tendo mais de 500 milhões de espectadores em todo mundo, seu carisma garantiu um prêmio Emmy e o título de maior série científica da história da TV. Sua versão em livro alcançou o best seller da divulgação científica. Foi consultor e conselheiro da agência espacial NASA, chefiando as missões Mariner, Viking, Voyager e Galileo, que explorou todos os planetas do Sistema Solar, sendo condecorado pelos resultados obtidos. Também foi co-fundador da “The Planetary Society”, congregando membros do mundo inteiro em prol da exploração pacífica do espaço e a pesquisa da vida extraterrestre. Carl Sagan foi autor de 20 livros e dezenas de artigos científicos. O seu livro “Os Dragões do Éden”, sobre biologia evolucionária e antropologia, recebeu o prêmio Pulitzer de literatura. Sua última obra, “O mundo assombrado pelos demônios”, expressa sua forte preocupação com a divulgação de pseudociências em nossa sociedade atual e estimulando o pensamento crítico e racional, além de abordar temas polêmicos como o aborto e o aumento preocupante da militarização da humanidade. Morreu aos 62 anos, em 20 de dezembro de 1996, vítima de complicações da mielodisplasia, uma rara doença da medula óssea. Durante sua vida, Carl Sagan escreveu apenas um único romance de ficção-científica, o "Contato" (Companhia das Estrelas: Tradução de Donaldson M. Garschagen, 1997, 416 páginas), que narra de uma forma envolvente o que poderia ser o primeiro contato da humanidade com uma inteligência extraterrestre. A narração inicia com a infância de Ellie Arroway e os seus primeiros passos em direção à ciência, graças sua curiosidade por aparelhos de rádio e pelas belezas do céu noturno. Ambiciosa e sonhadora, sempre com apoio e incentivo de seus pais, suas paixões de infância e a facilidade com matemática, física e engenharia, acabaram levando a protagonista para a faculdade, e uma formação em Radioastronomia, especializada em estudos das emissões e reflexões de radiações eletromagnéticas por corpos celestes. Durante sua vida acadêmica, na “California Institute of Technology”, Ellie tem o contato com o pesquisador Peter Valerian, um radioastronomo respeitado na instituição, mas que tinha um fascínio ligeiramente desabonador, pela possibilidade de existir inteligências extraterrestres. Peter se tornaria seu amigo, e quanto mais Ellie o conhecia, mais ela era envolvida com o seu fascínio, a ponto de Ellie começar a divagar se com radiotelescópios não seria possível contatar civilizações extraterrestres avançadas pelo Universo. Após conquistar seu doutorado, Ellie é nomeada auxiliar de pesquisa no Radiobservatório de Arecibo, em Porto Rico, o maior radiotelescópio do planeta, sendo, portanto, o mais disputado por radioastronomos. Durante seus curtos períodos disponíveis para utilizar o radiotelescópio, Ellie dedicava-se às primeiras pesquisas buscando emissões de rádio de estrelas que poderiam abrigar sistemas planetários com formas de vida, na esperança de encontrar uma civilização avançada que tivesse a intenção de comunicar-se conosco. Sua pesquisa ganha reconhecimento e recebe o convite para direção do Projeto Argus, contando com 131 radiotelescópios móveis e controlados por computador, que dentre outras pesquisas recebia financiamento para a pesquisa de busca por vida extraterrestre inteligente. Desacreditada por muitos, depois de anos sem alcançar algum resultado mensurável, ela acaba sendo estimulada a deixar a pesquisa por estar gastando dinheiro e tempo precioso em radiotelescópios, numa busca cega por extraterrestres. Até que numa determinada madrugada, Ellie é surpreendida pelo alarme de monitoramento automático de freqüências, ao receber uma série de pulsos eletromagnéticos e repetitivos, que codificados apresentaram-se como uma seqüência de números primos. Entrelaçado com esse sinal, estão desenhos esquemáticos de uma cápsula no formato de dodecaedro, envolta por um grande aparelho, capaz de abrigar 5 pessoas. Desconfiados mas seduzidos a construir o artefato, governos do mundo inteiro se unem, e após anos e trilhões de dólares gastos, a máquina está pronta para ser utilizada. A máquina consegue gerar uma espécie de portal bidimensional que os leva a uma série de complexos “buracos de minhoca” que possibilita vencerem em segundos as longas distâncias no espaço. A viagem acaba levando os seus cinco ocupantes a uma viagem ao centro da nossa galáxia e o contato com os seres extraterrestres responsáveis pela mensagem. O livro virou um filme homônimo com a personagem principal sendo representada pela atriz Judie Foster. Adaptado pelo diretor Robert Zemeckis em 1997, Carl Sagan não viveu o suficiente para ver sua obra nos cinemas. Tanto no livro quanto no filme, apesar de não declarado, é apresentado uma estreita relação do projeto Argus com o projeto na vida real idealizado pelo Instituto SETI, que busca sinais de radio emitido por civilizações inteligentes em nossa galáxia. O seu fundador, o astrônomo Frank Drake, conhecido pela sua “fórmula Drake”, calculou através das leis da probabilidade que atualmente somente em nossa galáxia poderia existir, na melhor das hipóteses, 10.000 civilizações alienígenas num ponto tecnológico similar ou mais avançado que o nosso, e que os mesmos poderiam estar tentando se comunicar entre si através de emissões radiotelescópicas. É nessa cifra que o projeto se apóia e tem as mesmas dificuldades apresentada no livro, tanto na busca por financiamento assim como hora disponível em radiotelescópios, para pesquisa. O projeto já existe há 40 anos e computadores já analisaram dezenas de milhões de emissões de rádio em diferentes partes do céu, e apesar de alguns sinais intrigantes, até o momento nenhum sinal foi identificado como de proveniência extraterrestre. O grande problema tem sido qual freqüência especifica devemos buscar, em qual momento e em para qual porção do céu deve apontar nossas antenas. Um outro ponto desanimador nessa busca são as longas distâncias no espaço e as dificuldades num contato interativo inter-civilizações. No livro, o sinal extraterrestre é proveniente da estrela Vega, que apesar de ser uma estrela bastante próxima da Terra, existe um atraso de 26 anos para que uma mensagem seja emitida no nosso planeta percorra todo o espaço, até alcançar a estrela. Carl Sagan foi feliz em utilizar a teoria dos “buracos de minhoca” para permitir que os 5 astronautas pudessem viajar até o centro da galáxia. Apesar de ainda estar na linha da física teórica, talvez seja uma alternativa para futuras e longas viagens através do Universo. Outro ponto abordado no decorrer da obra são os embates entre ciência e a religião que uma mensagem dessas provocaria, numa sociedade que 95% das pessoas acreditam em alguma divindade. Marca de Carl Sagan, que expunha publicamente seu ceticismo e agnosticismo, a protagonista Ellie era avessa às religiões, seguindo uma inclinação de seu pai, que opinava que a Bíblia seria uma coleção de "histórias bárbaras misturadas com contos de fadas". Entre longos debates por todo o livro, perguntada sobre a proveniência da mensagem não seria de origem divina, Ellie respondeu num dos pontos altos da trama: “Naturalmente, não é um símbolo cristão, ou um símbolo de qualquer uma das grandes religiões atuais. Não imagino que o senhor quisesse argumentar que os deuses só falassem com os gregos antigos. O que estou dizendo é que, se Deus desejasse enviar-nos uma mensagem, e se os textos antigos fossem a única maneira que ele imaginasse para fazer isso, poderia ter realizado um trabalho mais bem-feito. E de maneira alguma ele teria de se limitar aos textos escritos. Por que não existe um imenso crucifixo em órbita ao redor da Terra? Por que na superfície da Lua não estão gravados os Dez Mandamentos? Por que Deus haveria de ser tão claro na Bíblia e tão obscuro no mundo?" Se Deus existe ou é apenas uma parte de um mito coletivo de nossa sociedade, o romance de Carl Sagan responde com um alto e sonoro “não” a inquietante pergunta que aflige a humanidade desde suas primeiras divagações: Estaríamos sós no Universo?
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 01:56:49 +0000

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