O drama de Édipo nos tempos “modernos”? Inspirado a ler - TopicsExpress



          

O drama de Édipo nos tempos “modernos”? Inspirado a ler Milan Kundera, encontrei, em Tomas um dilema cuja resolução nos liberta ou nos condena. Ora, Tomas, personagem fictícia, a certo momento da sua vida, decide concorrer com um artigo de opinião contrário à corrente politica da época. Através deste artigo, em que a sua opinião vai no sentido da culpabilização do actual sistema político, é forçado a corrigir os seus pensamentos, sob pena de perder o seu emprego enquanto médico cirurgião. Como é que a resolução deste dilema nos liberta ou nos condena? Antes de mais, nenhum destes termos é particularmente feliz. A decisão, nesta fase metafórica, liberta-nos ou condena-nos perante o quê e perante quem? Isso poderá depender da leveza do nosso ser. A libertação, num caso destes, não será mais que inversamente proporcional à dita leveza. Ora vejamos, quem, de leve ser, não hesitaria em renunciar à sua consciência, facilmente se libertaria deste e de qualquer outro dilema. Contudo, uma vez livre face à sua moral, passaria a ser, não mais que, um prisioneiro de quem outrora o libertara. Ao invés, quem, de pesado ser, opta pela fidelidade (não a terceiros, porque a leveza destes é sempre questionável) à sua eterna consciência passará a ser prisioneiro desta, restando saber se livre do resto. Como se trata de ficção, escusado seria dizer que a consciência ganhou. Édipo, personagem da mitologia grega foi o tema do artigo. Édipo, resumidamente, matou seu próprio pai e casou com sua mãe, de quem teve quatro filhos. Contudo, este acaso não fora premeditado, ou seja, Édipo, apesar de saber da maldição, sempre pensou que os seus pais verdadeiros seriam os que o adoptaram em criança, sempre julgou ter o controlo sobre esta. Ao saber que a maldição se concretizara, Édipo furou os olhos por estes não terem reconhecido sua mãe. Auto-infligiu um castigo por não aguentar a dor e sofrimento que havia causado a tanta gente e nunca se perdoou, apesar de ter cometido o “pecado” inocentemente. A sua consciência era pesada. Como pode alguém desculpar-se das consequências dos seus actos, alegando inocência ou desconhecimento, manter o seu ser leve e seu sentido de moralidade alto? Tal como na “ficção” (este termo, ficção, daria tema para conversas intermináveis), em que Kundera critica, através de Tomas, os agentes políticos que, agora categoricamente errados, se desculpam através da inocência e do desconhecimento de factores que os levaram a agir daquele modo (restaria saber o que fariam caso soubessem exactamente o que estariam a “fazer”). Numa altura em que a crise se confunde com o nosso modo de viver (ou seja, o que é viver sem crise?), sabemos que o presente não é mais que a consequência de erros passados (mais ou menos “inocentes”). Curioso que a inocência continue a servir de desculpa, ainda hoje em dia. Poderão, “líderes” políticos, afirmar categoricamente que as consequências dos seus actos passados tiveram como base o desconhecimento de causa? Questionar este tema é quase como a abordar a questão do “Ovo de Colombo”. Ou seja, parece óbvio mas, apenas depois de demonstrado. Existem os ilustres que defendem que não se podem culpabilizar os políticos, apenas por serem políticos. Não será mais justo defender que se lhes seja exigido, através do seu livre arbítrio, que furem, voluntária e figurativamente, os olhos?
Posted on: Fri, 06 Sep 2013 12:05:49 +0000

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