O mercado da fé, o fanatismo teológico e a intolerância - TopicsExpress



          

O mercado da fé, o fanatismo teológico e a intolerância religiosa 21 de setembro de 2013 às 13:26 Sebastião Soares O fenômeno da alienação religiosa é responsável por deformações humanas monstruosas, no percurso da história mundial. Desde as suas primeiras manifestações, nas sociedades tribais, a prática de exorcizar, condenar e sacrificar pagãos, hereges e profanos esparramou rios de sangue sobre a terra. No interesse do poder dos reis, para atender a vontade comercial dos dominantes, instrumento político de dominação social nos estados teológicos ou apenas contrafação putrefata da miséria material e espiritual, no recorte de pastores oportunistas e criminosos que manipulam multidões em prol de enriquecimento pessoal, o fenômeno da intolerância religiosa escreve densos e longos capítulos de perseguição e sofrimentos mais cruéis do que o inferno de Dante. Nunca foram santas, por exemplo, as relações incestuosas do Vaticano com os governos, os bancos e o seu submundo da violência da Inquisição contra hereges e infiéis. O mesmo se aplica às cúpulas das grandes igrejas cujo exercício teológico volta-se para a garantia da ordem e da preservação do sistema de exploração da população pobre e miserável. A religião, enquanto fenômeno social, é de natureza individual e integra o conjunto dos direitos fundamentais básicos. Todo ser humano tem a faculdade de escolher o credo religioso ao qual se vincula, da mesma forma que as pessoas não são obrigadas a terem qualquer religião. Este é um fundamento inscrito na base do alicerce das sociedades democráticas, demarcando a liberdade de consciência inerente aos marcos civilizatórios do mundo moderno. A erupção fanática dos fundamentalismos religiosos, de várias ordens, solapa essa conquista, apontando para a conformação de blocos de poder - político, econômico, cultural e espiritual, que investem na demolição dos princípios das liberdades civis, construídas ao longo de processos históricos nem sempre pacíficos, na verdade erguidas sobre pântanos de sangue e sofrimento, imolando vidas inocentes ao longo do percurso sinuoso da sociabilidade humana. No Brasil, nos últimos anos, algumas correntes evangélicas têm disseminado a prática da intolerância religiosa como arma de manipulação comercial, política e eleitoral. A estumação profética e pretensamente bíblica dos diferentes e divergentes, condenados sem perdão às fogueiras do demônio, torna-se fato recorrente nos cultos, nas igrejas e nos programas de rádio, televisão e nas redes sociais. As promessas de cura, a garantia de milagres, a solução imediata para todos os problemas terrenos vêm envoltas nas mais terríveis ameaças de sofrimento, angústia e expiação para todas as demais pessoas que não seguirem, rigorosamente, a determinação de um tipo de preceito bíblico que só eles, os eleitos e ungidos pela verdade divina, têm acesso. Bispos, apóstolos, missionários e uma súcia de mercadores da fé inundam o imaginário popular com as terríveis imagens de um inferno no qual serão atirados, desde que não contribuam com o sagrado dízimo que alimenta e engorda o patrimônio pessoal dos donos dessas igrejas, que, por sinal, se transformou em um negócio altamente lucrativo. E os que ousam apontar a degeneração pecaminosa dos empresários da fé são, irremediavelmente, sentenciados como porta vozes da corte de Lucífer e integrantes da legião dos anjos do mal, decaídos e corrompidos pelos pecados mundanos. A única expiação possível é o aceitamento submisso às imposições e às “verdades” absolutas e definitivas professadas pelos senhores da fé. Não existe nenhum conteúdo de promoção social nesse tipo de prática evangélica, apenas manipulação interessada em lucro e acúmulo de riqueza pessoal. Há, de fato, religiosos de várias igrejas cuja missão pastoral se complementa com a busca de mudanças na estrutura social, articulada com a comunhão universal da fé no sentido da solidariedade e da fraternidade. Estes se distinguem dos donos das arapucas montadas para aprisionar incautos. As regressões que ocorrem no Brasil, com a emergência cada vez mais saliente da espada afiada do fanatismo religioso praticado por correntes teológicas intolerantes, são ameaças reais à democracia e à convivência civilizada, na interação entre o diverso e o diferente. O outro, que não concorda comigo e não se submete à minha verdade, é o inferno. Ao aspirar o pó do fanatismo religioso, essas perversões se perdem em viagens alucinógenas da intolerância e da perseguição, atacadas por delírios bíblicos que exigem a exterminação e a vingança com o sacrifício dos infiéis. O ópio da ideologia teológica é capaz de transformar seres humanos até então pacíficos em hordas de animais com dentes arreganhados que investem contra pessoas inocentes, apenas em decorrência da não adesão submissa ao que eles pregam como palavra última e definitiva do Senhor. Condenam-se a ciência e a cultura como coisas do demônio, obrigam-se aos doentes a abandonarem a prescrição médica em favor da cura milagrosa, afastam-se crianças e jovens da própria família, desde que esta não se entregue à imposição bíblica e à obrigação do dízimo. Todo e qualquer fenômeno, natural – vulcões, terremotos, tsunamis etc. – ou social – fome, guerras, miséria –, é profetizado como manifestação de uma ira irracional do poder divino, demonstrada na bíblia. O rebanho, dócil e domesticado, é conduzido de acordo com os interesses profanos e mercantis dos vendilhões do templo, em grande parte, no Brasil, respondendo a processos criminais em várias instâncias da justiça brasileira. E, assim “la nave va”, na proliferação de seitas que, graças ao poder da comunicação do rádio e da televisão, avançam sobre a consciência de uma grande multidão de fanáticos, entorpecida pela alienação religiosa, sem capacidade crítica ou reflexiva, apenas rebanho que se usa e se manipula nas tenebrosas transações da fé. Educador, Filósofo e Jornalista ComentarCompartilhar Escreva um comentário...
Posted on: Sat, 21 Sep 2013 16:30:21 +0000

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