O nome papal sempre teve um forte significado, pois geralmente - TopicsExpress



          

O nome papal sempre teve um forte significado, pois geralmente indica a figura papal em quem se quer inspirar. Por isso, foi grande a surpresa quando Jorge Mario Bergoglio indicou como o seu nome Francisco: um santo, não um papa. A opinião é do historiador italiano Giuseppe Galasso, professor da Universidade Federico II, de Nápoles, e membro da Accademia dei Lincei, a principal academia científica da Itália. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 10-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Eis o texto. O nome dos papas, desde que surgiu o costume de assumir um nome diferente do próprio, sempre teve um forte significado. Geralmente indica a figura papal em quem se quer inspirar. Por isso, foi grande a surpresa quando o Papa Bergoglio indicou como o seu nome Francisco: um santo, não um papa. Na realidade, ele não fez nada mais do que seguir o caminho dos últimos papas. De fato, foi João XXIII que rompeu a tradição onomástica. Sucedendo Pio XII, assumiu um nome-símbolo, que era uma ideia-força, sem referência a nenhum antecessor, embora houvesse muitos com esse nome. João, o Batista, batizara Jesus e anunciara o Evangelho. Entendeu-se que Roncalli, depois de uma série de papas focados nos problemas políticos e sociais, considerava necessária uma nova evangelização, que trouxesse novamente para o centro os problemas da fé. Nesse caminho, João XXIII começou anunciando o Concílio Vaticano II e saindo da fortaleza de uma tradição que levava ao fechamento de muitos horizontes e a uma progressiva perda de contato com a realidade de um mundo em transformação. E o Concílio, justamente, tentou fazer isso, até mesmo para além, talvez, do que o Papa João XXIII queria, já que, bem cedo, começou-se a se perguntar como e quando era melhor fechá-lo. Quem o fechou foi o seu sucessor, Montini. O seu nome, Paulo VI, assim como o de João XXIII, estava há muito tempo em desuso e também tinha um sentido programático. Se João havia sido o arauto do Verbo, Paulo tinha dado à nova religião a teologia cristológica da Redenção e a antropologia do homem espiritual conforme os valores dessa teologia. O Papa Luciani captou bem, por isso, o espírito das escolhas dos seus dois antecessores, decidindo chamar-se João Paulo: a primeira vez de um papa com nome duplo. Muito breve o pontificado de Luciani, para dele tirar outras ilações. Para João Paulo II, as ilações são, ao invés, óbvias. O seu nome era, de fato, uma homenagem ao papa recém-falecido, mas não envolvia a intenção de continuar a linha joanina-paulina. Ele marchou, ao contrário, rumo a um populismo devocional, acentuando a dimensão carismática e milagrosa na vivência cristã. Onde ele chegaria por esse caminho? Muitos se perguntavam isso. Mesmo aceitando a sua linha, era difícil segui-la sem renovar o prodígio carismático da sua figura. A eleição do sucessor, Ratzinger, foi rápida, e mais uma vez a escolha do nome foi reveladora. O último que o assumira foi Bento XV, o papa da mensagem sobre o inútil massacre devido à Primeira Guerra Mundial, enquanto Bento XIV, nos tempos do Iluminismo, havia sido um papa humano e tolerante. Eram expectativas certamente presentes em Bento XVI: paz em um tempo sem conflitos mundiais, mas não sem guerras; cuidado da doutrina diante de uma globalização que potencializava a longa onda da secularização. E, talvez, a ele também sorria a ideia do bíblico benedictus qui venit in nomine Domini. Bento XVI, depois, abdicou, por razões que permaneceram obscuras para muitos. O seu esforço, ao invés, parece certamente voltado a restaurar uma linha doutrinária mais precisa, conforme às suas ideias de teólogo com uma clara visão da relação entre fé e razão. Girando ao redor do binômio Jesus-Maria, ele visou a endereçar o impulso carismático e milagroso do seu antecessor em um caminho que salvaguardasse o seu enorme valor moral, mas que impedisse uma declinação sua em total antítese com o mundo contemporâneo. Depois dele, o sucessor quis marcar, já com a escolha do nome, um momento de ruptura com a condição em que se encontravam a Igreja, a Cúria Romana e o mundo católico. Francisco é um nome pontifício novo, que parece dizer: Igreja dos pobres; fausto, pompas e insígnias relativas reduzidas a menos do que o mínimo; prática da fé e das obras mais do que graças e milagres; confiança erga omnes, segundo um princípio ainda de João XXIII, ou seja, a distinção entre o erro e o errante, intransigível o primeiro, sempre criatura humana o segundo (razão pela qual ele se pergunta: Quem sou eu para julgar?). Porém, talvez haja ainda uma razão. Em uma época de efervescência religiosa e herética, São Francisco quis permanecer na Igreja e receber dela, com o reconhecimento pontifício, a autenticação dos seus ideais. E, mesmo que depois, no testamento, ele distinga entre a norma cristã do Evangelho, que é substância, e a da Igreja, que é forma, entende-se que, para ele, essa forma também tinha um valor de substância. Francisco, em suma, também é um símbolo de unidade da Igreja no rastro de Roma e da possibilidade de inserir nesse rastro os ventos de novidade e de elevação cristã. fonte: IHU
Posted on: Wed, 16 Oct 2013 02:37:05 +0000

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