O texto de Sírio Possenti critica o bababa, e conservador, - TopicsExpress



          

O texto de Sírio Possenti critica o bababa, e conservador, Alexandre Garcia que mesmo sem conhecer linguística (e fazer um uso meio trôpego da língua) se mete a dar palpites em decisões do MEC e fazer correçõs do uso do português sem ter competência para tal: NE SUTOR ULTRACREPIDAM O ditado tem diferentes versões. Algumas adotam ordem diferente, o que, em latim, é trivial. Outras acrescentam um verbo, “iudicaret”. Outra versão põe “sutor” no vocativo. Ao pé da letra, quer dizer “não (julgue) o sapateiro além das sandálias”. Em tradução corrente, “Não vá o sapateiro além dos chinelos / das sandálias / dos sapatos”. Em versão mais pedestre, ‘não dê palpites quando não conhece o assunto’. Não menciono o dito latino por causa dos “relinchos e dejetos”, mas a propósito de uma intervenção de Alexandre Garcia no usual jornal da manhã da Globo, no dia 06/09/2013. Comentava a divulgação do “caderno” do INEP que fornece critérios de correção das redações do ENEM. Disse o de sempre sobre a importância da boa escrita etc. Mandou ler, ler, ler, como se uma competência se transmitisse automaticamente para a outra. Mas, intercaladas ao discurso mais ou menos óbvio e sobre o qual há total unanimidade, expressou estranhas opiniões. A propósito da admissão de eventuais (devidamente qualificados) “erros”, sem prejuízo para a nota (falta de acento, p. ex.. para citar um caso mencionado pela Folha de S. Paulo), disse que a admissão de erros é até inconstitucional, porque a Constituição diz que o português é a língua oficial. Ora, a Constituição não vai ao ponto de exigir que se fale segundo as regras da norma culta ou que se escreva de acordo com as leis ortográficas para que não haja delito. O português, mesmo para gramáticos os mais tradicionais, inclui traços populares, regionais, gírias etc. Tais aspectos são ou não admitidos em determinados contextos, são ou não avaliados como problemas conforme as circunstâncias. Mas ninguém, até hoje, tinha dito que errar a grafia de uma palavra é uma violação da Constituição. No máximo, viola uma portaria. Ninguém, que se saiba, ameaçou com processo o autor de uma placa com erros ou de uma carta com peculiaridades sintáticas. Mas ele disse mais, tentando ocupar o terreno dos filósofos que discutem se há ou não linguagem interna, se, por exemplo, podemos pensar sem valer-nos de uma língua específica. Muitos acham que o pensamento é independente da língua, que só o expressa, torna-o público. Mas há os que dizem que o pensamento é dependente da língua e é condicionado por ela (Sapir –Whorf; Benveniste falando das categorias da língua e da filosofia gregas, p. ex.). Mas ninguém (ninguém que saiba fazer sandálias, quero dizer) disse jamais que alguma particularidade ou variante linguística, como uma regência ou concordância, impeça de pensar. Segundo Garcia, o erro impede de pensar. E ele estava falando (misturando, na verdade) dos erros de grafia e de concordância. Anote-se que dificilmente a mídia vai além disso. Nunca li nem ouvi nenhum “deles” analisando incoerências, por exemplo, mesmo se dependem de aspectos sintáticos. É certamente relevante especular sobre a relação que existe entre falar de uma certa forma ou uma determinada língua e o tipo de pensamento que isso implica, inibe, propicia. Mas é preciso, para começar, ter algum conhecimento da coisa, das teses correntes, dos argumentos. Não creio que ocorreria a alguém (mesmo que só use sandálias) que, por exemplo, “assisti o jogo” ou “tomou dois gol” indique pensamento obscuro ou expressão pouco clara de um juízo. Alexandre Garcia foi bem além das sandálias. *** s.
Posted on: Fri, 20 Sep 2013 11:25:03 +0000

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