OCORRÊNCIAS DE ONTEM NO RIO DE JANEIRO Quem tem um mínimo de inteligência e discernimento político não se surpreendeu nem um pouco com a atuação da Polícia do Rio de Janeiro durante os protestos de ontem. Esse "endurecimento" da ação repressora, que, na verdade, trata-se do retorno ao velho modo de operar da polícia, após um brevíssimo lapso de "suavidade", estava mais do que anunciado com as declarações das autoridades após a "mise-en-scène" dos acontecimentos do Leblon na semana passada. Volto a frisar que não estou aqui a defender ações de vândalos nem de criminosos infiltrados nas manifestações. É preciso separar as coisas. O recrudescimento da repressão é a única resposta que se pode esperar de autoridades descoladas dos verdadeiros sentimentos do povo e de uma polícia a serviço de interesses estabelecidos e que historicamente sempre os defendeu, além de ser treinada para ver as ruas como campo de batalha, atos públicos como ações de guerra e manifestantes como inimigos. Notem que me referi aos sentimentos "do povo" e não "das ruas", como dizem alguns analistas, pois não confundo o povo com que se encontra nas ruas nestes tempos de confusão, manipulação e golpe. Por isso mesmo, é preciso muita responsabilidade nas ações. Não temos o direito de ser inocentes úteis, deixando-nos levar por incitadores vãos, com interesses outros. A repressão é a resposta (a única) que governos como o de Cabral e Alkmin sabem dar ao povo que ouse questioná-los. E, em função dos interesses em jogo, contam com a certeza do respaldo da mídia corporativa "formadora" da "opinião publicada", difundida pelos analistas de sempre. Basta ver o noticiário sobre os acontecimentos de ontem, em que o tempo todo se justifica a repressão, com a insistência no fato de que partiu dos manifestantes o "ataque aos policiais com o coquetéis molotov". Abaixo, reproduzo o que publiquei na semana passada, após ouvir as declarações das autoridades sobre os eventos do Leblon, sua repercussão e os "comentários" dos "analistas". ======================== A VOLTA ANUNCIADA DA REPRESSÃO: pesos e medidas da nossa sociedade e seus governos É deveras alarmante e motivo de revolta o fato de - em tão pouco tempo -, sociedade, mídia e governantes simplesmente esquecerem a importância e o valor da vida de cada um dos dez mortos da Maré e passarem a demonstrar tanta indignação diante dos danos materiais resultantes das manifestações da última quarta-feira nos bairros do Leblon e Ipanema, no Rio de Janeiro. Não estou aqui defendendo ações de vandalismo, nem fazendo apologia da violência. Sempre me posicionei muito claramente contra essas formas atuação política. Mas, isso mostra, de forma inequívoca, a inversão de valores de uma sociedade que privilegia o consumo e a propriedade ao humano. Inversão que se acentuou fortemente nas últimas décadas, com a ascensão do neoliberalismo econômico e a transnacionalização da economia. Além desse aspecto fundamental, devemos atentar e nos preocuparmos seriamente ante a mudança de discurso das autoridades. Na verdade, um retorno ao discurso duro - anterior à onda de manifestações de junho -, de criminalização dos movimentos sociais e de defesa de sua repressão violenta por parte dos órgãos de segurança. Com todos os holofotes e ampla repercussão por parte da mídia.
Posted on: Tue, 23 Jul 2013 13:59:36 +0000