Ohun gbogbo li adiyele, sugbón kò si eniti o mò iye ara eje ara - TopicsExpress



          

Ohun gbogbo li adiyele, sugbón kò si eniti o mò iye ara eje ara eni; eje kò fi oju rere jade. Tudo tem seu preço, mas quem pode dar um preço ao sangue? Sangue é um bem que não deixa o corpo por vontade própria. A questão do sacrificar/reservar para substituir e/ou prevenir algo compete ao ebo, ou seja o ato de oferecer propriamente dito. Sejam essas oferendas de grãos, tecidos, objetos e materiais inanimados ou “secos”. Normalmente se utiliza o termo sacrifício designar o ato de morte ritual no contexto Iorúba. Mas essa escolha acarreta uma problemática. Isso porque a palavra iorúba que designa o ato no qual o animal é imolado é pa (matar) e não ebo (oferenda). É inegável o fato que o assassinato soleniza qualquer situação a um nível muito profundo. Essa parece ser uma motivação válida para a matança num ritual, conferir uma atmosfera de seriedade máxima ao mesmo. A um nível mais pragmático a matança de animais é algo inevitável e básico numa sociedade comum. É igualmente comum o desprezo das vísceras e do sangue para consumo alimentício. Esse desprezo, num contexto Iorúba, constituiria uma contradição filosófica. Ora, se o sangue é tão precioso a ponto de ser inavaliável, como o mesmo poderia ser tratado como um dejeto? Reservar o sangue e as víceras às divindades é como uma forma de reconhecer a dignidade da vida em sua totalidade. Já que descartar o sangue seria um desperdício, então melhor destiná-lo à uma fonte retornável: a espiritualidade. À parte de seu caráter líquido, fluido, que lhe confere a qualidade de transportar virtudes, uma outra característica do sangue, que lhe confere por si só o dom de ser admirável, é sua cor vívida e chamativa. Remeter à vida e à notoriedade, tão desejáveis, torna essa cor muito significativa na espiritualidade tradicional Iorúba. Emblemática dessa importância é a pena vermelha da cauda do papagaio cinzento africano (ìkóóde, ou ìkódide). Se o vermelho do fogo é levado pela água, e o vermelho do sangue engolido pelo solo, a ikodide é o vermelho duradouro, é vida e atenção perpetuadas que não podem ser apagadas pela água ou tragadas pela terra. É o vermelho resistente e dinâmico (a habilidade de voar da ave). Para muitos profanos a matança é inadmissível, e para muitos iniciados ela é indispensável. Mas eu arrisco dizer que é possível sim cultuar Orixá sem eje. Desde que, obviamente, a pessoa ou sociedade cultuadora abstenha-se do derramamento do mesmo inclusive fora do contexto religioso. Tão importante quanto a vida, é a significação da mesma, pois é a significação (codificação do entendimento) que confere à cultura a noção de valor sobre a vida. É uma conta simples: quem respeita mais a vida, o que tem cuidado de significar morte ou o que não se preocupa com nada contanto que seu prato esteja cheio? A morte faz parte da Vida, e não tem problema se for preciso matar um galo, um carneiro, ou um homem contanto que seja para dignificar o significado da vida, se for assim isso nunca será comparável à atual situação da cultura Ocidental onde o assassinato aparece espetacular e insignificantemente. Para finalizar eu relembro a existência de uma história de Ifa (Odu Irete Meji) que narra o marco da abolição da matança de seres humanos no contexto religioso Iorúba.Nela Orunmila, com sua lógica impecável, conclui que sacrificar pessoas é inadmissível porque somos todos parentes (alegoricamente é uma filha perdida de Orunmila que seria sacrificada). Em outras palavras essa Itan de Irete-Meji me diz: um dia foi preciso tomar a vida de um homem para mobilizar uma sociedade. Outro dia é preciso que a vida de outro animal seja tirada. Amanhã talvez o consumo de carne caia em desuso e a moda seja soja como fonte de proteína. Nenhuma dessas convençoes é importante ao ponto de ser imutável, o que importa mesmo é a cor vermelha e o reconhecimento daquelas virtudes inerentes ao sangue.
Posted on: Wed, 21 Aug 2013 20:29:30 +0000

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