Ontem conheci Seu Murilo. Ambos estávamos em um ônibus apinhado - TopicsExpress



          

Ontem conheci Seu Murilo. Ambos estávamos em um ônibus apinhado com um único destino: a estação de metrô Siqueira Campos, em Copacabana. Eu lia um livro em pé e encostado em um vidro que, junto com a catraca, separa os que já pagaram dos que ainda não. No meio de uma pausa, fui abordado por um senhor octogenário, sentado do outro lado do vidro: - Você ama arte? - Pode se dizer que sim. - O que está lendo? Eu mostrei meu livro e ele, como em um duelo, mostrou o seu. Uma biografia chamada “Napoleão”, obviamente sobre aquele comandante baixinho conquistador da Europa. E, como a me inquirir sobre suas paixões, começou a perguntar: - Rembrandt? Van Gogh? Picasso? Da Vinci? Eu lhe afirmei saber de quem falava. Então, entusiasmado pela recíproca, atacou: - E os italianos do cinema? Luchino Visconti? De Sica? Fellini? Ah, esses sim eram gênios da alma. A cada nome proferido, cada lembrança desenhada em sua mente, o octogenário, cego de um olho e de fala gaga e truncada, me lançava um semblante flamejante. Ao chegar o ônibus no ponto final, levantou e disse: - Te encontro lá em baixo para continuarmos! Nunca o encontrei. Talvez tenha desistido. Talvez tenha esquecido. Jamais saberei. E jamais o encontrarei novamente. Mas, quanto mais vivo essa vida cotidiana e rasteira mais agradeço, e agora faço em nome do Seu Murilo, àqueles que dedicam suas vidas a criar Beleza, a se desvencilhar da vida rasteira e engendrar nos seres humanos o que há de mais lírico e onírico neles e no mundo. E agradeço ao Seu Murilo, senhor comandante dos sonhos cinematográficos.
Posted on: Fri, 23 Aug 2013 13:27:11 +0000

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