Operação Papagaio Em 21 de abril de 1972, os militares - TopicsExpress



          

Operação Papagaio Em 21 de abril de 1972, os militares começaram a entrar na região, entre Marabá e Xambioá, primeiro com uma pequena equipe de cinco homens, um grupo de batedores do CIEx chefiado pelo major Lício Maciel - que trazia consigo como prisioneiro Pedro Albuquerque5 :102 - e logo em seguida com um batalhão de 400 homens acantonado em cada cidade. Bases foram sendo instaladas no interior e em agosto o total chegava a 1500 homens. Mascarando suas intenções reais, a notícia espalhada era que se tratava de uma manobra do IV Exército, cuja sede ficava em Recife, a 1600 km dali. Dentro dessa massa de soldados da infantaria regular, estavam homens do CIEx e paraquedistas, cuja missão era destruir a guerrilha. Era o início da primeira das três fases da campanha militar, a Operação Papagaio6 :414-415, com três pequenas operações de coleta de informação e levantamento da área em seu bojo antes da chegada do grosso da tropa: "Peixe", "Ouriço" e "Olho Vivo".9 Postos de controle foram montados na Transamazônica e na Belém-Brasília e uma base aérea aberta em Xambioá. O posto de comando foi instalado numa casa de telhado azul, às margens do rio Itacaiúnas. Os primeiros ataques a bases da guerrilha não conseguiram capturar ninguém, foram achados apenas materiais usados pelos guerrilheiros. Com a presença do exército, a guerrilha sumiu na floresta. Para muitos deles, o sentimento era de que "havia chegado a hora".6 :416 No mapa, em amarelo, a região do Araguaia. No círculo, a área de enfrentamento entre guerrilha e exército (1972-74). A "hora", no entanto, pegou o PCdoB de surpresa, destruindo o capital inicial de qualquer força de combate de guerrilha, que é pegar seu adversário de surpresa. Contando com 71 homens e mulheres, espalhados em três destacamentos na mata (A, B e C), a unidade era mal armada. Cada um deles possuía um revólver com quarenta balas e o total do armamento se limitava a 25 fuzis, quatro submetralhadoras - duas de fabricação artesanal - trinta espingardas e quatro carabinas de caça, num total de 63 armas longas para 71 guerrilheiros.6 :416 Contra isso havia quase dois mil homens com fuzis FAL e submetralhadoras. Além disso, o arsenal da guerrilha não era de boa qualidade e muitas armas emperravam. Uma das guerrilheiras, depois de capturada, testemunharia que para acertar um alvo com seu fuzil numa árvore, precisava mirar três árvores adiante.6 :416 Apesar da vantagem, a Operação Papagaio começou mal para os militares. Na tarde de 5 de maio houve o primeiro confronto entre as duas forças. Uma pequena patrulha em busca de informações foi emboscada próxima a um riacho. A guerrilha atacou dispersando a tropa, ferindo um tenente, um sargento e matando o cabo Odílio Cruz Rosa, da 5ª Companhia de Guardas de Belém. Seu corpo ficou uma semana no mato, sendo recolhido já em estado de decomposição, porque a guerrilha — destacamento C, comandado por Osvaldão — impedia o pequeno efetivo militar disponível na área de chegar ao local.5 :114. Em 1973-74, na terceira e última campanha, por esse motivo os militares passariam a adotar a mesma prática, deixando insepultos na mata os corpos de guerrilheiros abatidos.5 :114 Num novo choque, mais um soldado morto e um sargento ferido. Vendo o que acontecia, o guia "China", caboclo da região arregimentado pelo Exército, temendo a represália posterior entrou no mato, se escondeu por dois dias e desapareceu do Araguaia: "Resolvi cair fora daquela guerra. Se eu não morresse ali iam me matar depois. Os soldados não entendiam nadinha de mato".6 :416 Mateiros e guias locais não-simpatizantes dos guerrilheiros eram citados em relatórios da Aeronáutica explicando o porque das dificuldades das tropas regulares na floresta: "fazem muito barulho, deixam muitas pistas, só se deslocam em estradas e picadas e usam muito helicóptero, fazendo com que a guerrilha saiba de antemão de sua aproximação".5 :126 A maior vitória inicial, entretanto, não foi notada. Com o ataque e o cerco do exército, ele manteve fora do Araguaia o comandante-em-chefe João Amazonas ("Cid") e Elza Monnerat ("Dona Maria"), organizadora geral da estrutura da guerrilha, que chegando de São Paulo com novas instruções e novos militantes — uma delas, Rioko Kayano, presa em Marabá, conheceria na cadeia e viria a ser a mulher de José Genoíno, com quem é casada até hoje10 — foram obrigados a retornar da rodoviária pela vigilância e pressão do exército em toda área, sem conseguir entrar na mata.6 :418 Nesta primeira operação, o exército conseguiu localizar e infligir danos a apenas um dos destacamentos, o C, 25% do total de combatentes. A soma de mil cruzeiros era oferecida aos caboclos por informação sobre os "paulistas" na época, dinheiro suficiente para comprar um bom terreno. Vários foram assim localizados, presos ou mortos. O primeiro a cair foi "Jorge", denunciado por um mateiro. Bergson Gurjão Farias era um ex-estudante de química na Universidade Federal do Ceará e viria a ser o primeiro desaparecido no Araguaia. Emboscado por uma patrulha de paraquedistas, foi metralhado. Seu corpo foi pendurado numa árvore de cabeça para baixo e sua cabeça chutada pelos soldados.5 :117 Mais dois seguiram o mesmo caminho, Kleber Lemos da Silva, o economista "Carlito" e "Maria", a única mulher entre os irmãos Petit, Maria Lúcia Petit da Silva, ex-professora de 22 anos, morta em tocaia com um tiro no peito pelo camponês a serviço dos militares, João Coioió.6 :420 Foi enterrada em Xambioá em sepultura anônima, envolta num paraquedas e com a cabeça coberta com um plástico (Sua ossada, descoberta em 1991, foi identificada por peritos da Unicamp em 1996. É um dos dois únicos guerrilheiros mortos cujo corpo foi encontrado e identificado.)11 A colaboração dos caboclos da região não veio, porém, apenas do oferecimento de dinheiro. As Forças Armadas entraram na área como uma força de ocupação.6 :418 Comerciantes, mascates e vendeiros acusados de comercializar com a guerrilha foram presos, junto com um padre que incomodava o prefeito e um lutador de circo, este porque tinha cabelos grandes. Um fazendeiro capixaba que chegava no Araguaia para tomar posse de uma terra recém-comprada foi preso e jogado por três dias num buraco na terra coberto com uma tampa de madeira, dentro de um acampamento cercado com arame farpado onde já encontravam vários moradores do lugar.6 :418-419. Um barqueiro da região, Lourival Paulino, 55 anos, que costumava transportar os guerrilheiros pelo rio, foi preso no fim de maio, enfiado na cadeia de Xambioá de onde saiu morto, com um atestado de óbito de suicídio por enforcamento.6 :419 Um lavrador que havia dado comida a Osvaldão teve a roça incendiada e nunca mais foi visto.6 :40512 Cabo Odilio Cruz Rosa, o primeiro morto na Guerrilha do Araguaia. Entre junho e agosto a ofensiva militar estancou e retraiu-se. Em quatro meses o exército tinha apenas conseguido prender ou matar menos de uma dúzia de militantes, localizar e isolar a área do Destacamento C sem chegar a nenhum de seus refúgios, ter informações desconexas sobre o B, e nunca teve conhecimento do A. Diante disso, retomou a ofensiva em setembro com um efetivo de 3.000 homens e de maneira diferente, tentando conquistar o povo da região e dissociando-se da atitude policialesca da primeira investida. Desembarcaram 2,5 toneladas de medicamentos, médicos e dentistas em Marabá, panfletaram toda a região com mensagens de guerrilheiros já capturados e obrigaram fazendeiros a reconhecerem direitos trabalhistas de seus empregados.6 :422-423 Duas vitórias importantes foram conseguidas neste mês, com a morte de João Carlos Haas Sobrinho, o "Dr. Juca", comandante-médico da guerrilha, morto em combate, e Helenira Resende, integrante do destacamento C, procurada em todo país e jurada de morte em São Paulo pelo delegado Sérgio Fleury,13 executada após captura.6 :424 A segunda investida, entretanto, teve resultados gerais ainda piores que a primeira. Programada para durar vinte dias durou apenas dez. No período, a guerrilha atacou uma base do 2º Batalhão de Infantaria da Selva e matou o sargento Mário Abrahim da Silva.14 :431-438 A ajuda dos mateiros pagos não produziu nenhuma emboscada de vulto. A FAB jogou bombas incendiárias numa serra careca onde jamais os guerrilheiros tinham pisado. Três áreas da mata sofreram bombardeio com napalm.15 Uma guerrilheira começava a criar fama no campo. Dinalva Oliveira Teixeira, a "Dina", ex-geóloga baiana que tinha virado parteira na região, sobrevivera a três combates, enfrentara sozinha um grupo de soldados, escapara ferida no pescoço e acertara no ombro o capitão paraquedista Álvaro Pinheiro, filho do comandante da Escola Nacional de Informações, general Ênio Pinheiro.6 :425 Os militares tinham especial determinação em achá-la, considerando-a uma ameaça à ação militar na região, no intuito de destruir o mito criado entre o povo do Araguaia para desmoralizar a guerrilha.5 :67 O disfarce da operação em manobra militar de rotina mais prejudicou mais do que ajudou. O governo impedia a publicação de manifestos do PCdoB mas o partido distribuía panfletos por todo o Araguaia, que chegaram até o sul. Em 24 de setembro, o jornal O Estado de São Paulo publicava longa matéria - driblando a censura para notícias de movimentação de tropas - sobre as manobras militares. Dois dias depois a guerrilha brasileira era noticiada no The New York Times.6 :428 Em outubro de 1972, as tropas retiraram-se. Para a guerrilha, mesmo que ainda operativa, as baixas foram significativas. Entre abril e outubro ela perdeu dezenove combatentes, oito mortos em combate, quatro assassinados depois da captura e sete presos e transferidos para Brasília.6 :424 O Exército nunca declarou seu número oficial de mortos e feridos. O general Viana Moog deixou a região falando em vitória e declarando que "o êxito da manobra excedeu as expectativas deste comandante".6 :425. Porém, o estrategista da campanha militar, general Antônio Bandeira, foi transferido da tropa para a direção da Polícia Federal, em Brasília. O capitão Pinheiro, ferido por "Dina", 23 anos depois já como coronel da reserva, listou as deficiências da operação: a) concepção equivocada nos níveis operacional e tático b) falta de unidade de comando c) informações deficientes sobre o terreno e o inimigo d) falta de continuidade nas operações e) grande diversidade de unidades empregadas e deficiências no treinamento.6 :426 Com relação ao último tópico assinalado pelo militar, a grande maioria dos soldados empregados no combate à guerrilha nesta operação, foi, na verdade, de recrutas cumprindo o serviço militar obrigatório, garotos de 18-19 anos sem nenhuma experiência.14 :430 Dona Domingas, uma moradora de São Geraldo do Araguaia, resumiu o quadro: "Eles passaram tudo por aqui chorando, tudo recruta na boléia do caminhão cheio, chorando".6 :427 A Operação Papagaio havia terminado. O Exército havia feito a maior mobilização de tropas da sua história desde a campanha da FEB na Itália, maior que três das quatro expedições contra Canudos,6 :400 usara um efetivo humano na proporção de 50 para 1,5 :126 e a guerrilha do Araguaia continuava onde sempre esteve. Mas o governo do general Emílio Garrastazu Médici estava determinado a extingui-la. Em 1973, entrariam em cena os soldados profissionais da elite das Forças Armadas. Ia começar a Operação Sucuri.6 :433
Posted on: Wed, 05 Jun 2013 02:29:03 +0000

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