Opinião: Sobre Manaus na Copa do Mundo e Tóquio na Olimpíada - TopicsExpress



          

Opinião: Sobre Manaus na Copa do Mundo e Tóquio na Olimpíada 2020: Impressões Na mesma semana em que o COI definiu a sede dos Jogos Olímpicos depois do Rio 2016, estar em Manaus, pré-Copa 2014, permite refletir sobre a crise do modelo dos megaeventos brasileiros e sobre alguns desdobramentos já perceptíveis. Anderson Gurgel, de São Paulo | 11/09/2013 Diferentemente do que venho fazendo neste espaço, hoje vou abordar dois assuntos, para não perder a oportunidade de deixar aqui alguns comentários e impressões sobre os principais megaeventos esportivos que teremos no Brasil nos próximos anos. Não é mais novidade para ninguém, mas estou falando da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Sobre a Copa do Mundo do ano que vem, quero abordar a questão da cidade-sede Manaus, mas sobre outra perspectiva. Há muito tempo especialistas em esporte estão criticando a escolha dessa cidade e também de Cuiabá, Brasília e Natal para sediar os jogos do Mundial. O Problema, na visão deles, é que os gastos com estádios são altos em locais em que a demanda futebolística não é compatível – os times locais e as torcidas são pequenos, há baixa movimentação de público, etc. Em resumo, eles apontam a questão do risco de termos alguns “elefantes brancos” nessas cidades.Meu objetivo aqui não é discordar disso. Há realmente esse risco e, se pegarmos exemplos recentes, vamos ver países como Portugal, que sediou a Eurocopa de 2004 e passa por problemas parecidos: lá se cogita derrubar estádios em regiões de pouca demanda, pois os custos de manutenção não são compatíveis com a capacidade das arenas em gerar caixa. Ou seja, a conta não fecha é, na visão deles, derrubar pode ser melhor que gerenciar.Por mais que o assunto acima seja importantíssimo e, inclusive, alerte para a discrepância entre a visão gerencial e a visão sustentável, não é esse o foco que quero abordar sobre Manaus. Estive na cidade, na primeira semana de setembro, participando do Congresso de Comunicação Intercom 2013, no campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Confesso que era um sonho meu conhecer Manaus, ter um contato, ainda que superficial, com a floresta amazônica. Mas, em muitos momentos, na minha experiência de turista-congressista, o sonho quase virou pesadelo. A sensação que tenho, dias após a volta, é que a cidade não tem condições de receber um evento desse porte. Nem falo do aeroporto, que está em obras aceleradas, mas longe do fim, mas da cidade mesmo: alugar um carro e dirigir na cidade manauara é uma experiência para se esquecer. A sinalização é péssima, quando há. Conexões de internet, telefonia e GPS são intermitentes e, com isso, perder-se e até querer devolver o carro antes do fim da reserva é regra por lá. Além disso, a cidade tem problema graves de planejamento urbano, com muito lixo nas ruas. O meu choque final foi quando, durante a minha apresentação no congresso, faltou luz e tive que terminar a minha fala no escuro e sem os recursos de datashow que estava usando. Agora, se um evento com menos de cinco mil pessoas não é suportado, temo por jogos de Copa do Mundo...É claro que temos o outro lado: uma natureza exuberante e um povo acolhedor, simpático e sempre disposto a ajudar e acolher bem, mas parece isso não basta. E, pelo visto, até mesmo para os cartolas do COI esse sinal já acendeu. E aproveito para fazer um link com a definição da escola da sede dos Jogos Olímpicos de 2020. Foi amplamente divulgado na mídia que Tóquio, no Japão, venceu Istambul, na Turquia, e Madri, na Espanha, na disputa. Após a escolha do Rio de Janeiro para 2016, os votantes do COI resolveram não ousar: com os atrasos nas obras, problemas de planejamento e com os crescentes protestos dos brasileiros, eles optaram pela escolha “segura” de uma sede que, do ponto de vista do discurso de legado, teria pouco a acrescentar, já que grande parte das arenas está pronta ou exigirá pouca adequação.A escolha do COI pelo Japão e pela volta aos países desenvolvidos é um sinal, no campo dos megaeventos, de um novo momento nos fluxos de investimento e busca de “bons negócios” pelo mundo em desenvolvimento. É um símbolo também da perda de confiança nos Brics e nas nações em franca expansão econômica. Talvez para esses players capitalistas até mesmo o risco nos investimentos já tenha passado de um limite aceitável. (Isso dá o que pensar e podemos voltar a isso em outra oportunidade, para discutir melhor o que é o esporte no mundo de hoje.)Entre o abismo de uma cidade como Manaus, com tudo por fazer e com prazos absurdamente apertados, e de uma cidade como Tóquio, com a infraestrutura já estabelecida e, pela lógica básica da teoria do legado, com poucos impactos a ser gerados, temos um novo jogo de xadrez posto para os megaeventos. O jogo que se joga no tabuleiro dos negócios e da (geo)política do esporte, às vezes, é até mais interessante e revelador que as partidas desportivas que são disputadas nesses megaeventos.
Posted on: Thu, 12 Sep 2013 01:14:13 +0000

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