Os 16 bilhões de reais em investimentos para a Copa de 2014 e as - TopicsExpress



          

Os 16 bilhões de reais em investimentos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 transformaram o Rio de Janeiro em um imenso canteiro de obras. Para os planejadores públicos, os projetos vão reduzir desigualdades, integrar regiões e recuperar o brilho da mais bela capital brasileira. Para especialistas independentes, essa montanha de dinheiro só vai reforçar os problemas históricos e apressar os impasses do desenvolvimento. Esse debate é o mote da reportagem de capa da CartaCapital desta semana, já nas bancas. Apesar de as principais obras de mobilidade reforçarem o investimento na Barra da Tijuca, o prefeito Eduardo Paes refuta a tese de que as intervenções possam aprofundar as disparidades sociais, econômicas e territoriais. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista. CartaCapital: Alguns urbanistas criticam a concentração de investimentos na zona sul e na Barra da Tijuca. Eduardo Paes: Não é verdade. As instalações olímpicas estão em Jacarepaguá. E as intervenções de mobilidade espalhadas por toda a cidade. Estou falando do que a prefeitura está fazendo. CC: Os projetos de mobilidade contemplam a população mais pobre da cidade? EP: Todos os BRTs estão na zona norte ou na zona oeste, não passam nem perto de áreas nobres. De fato, eles vão até a Barra. Mas em geral, quem mora lá não usa ônibus. Também vamos revitalizar a zona portuária, que não é exatamente uma região rica. É o centro do Rio. Você pode dizer que prefere metrô a BRT, eu também. Mas o custo é 20 vezes maior. E a dona Maria, de Santa Cruz, não pode mais esperar pelas estações de metrô feitas historicamente nas áreas mais nobres da cidade. CC: O primeiro projeto olímpico da cidade, Rio 2004, tinha outro eixo. As competições ocorreriam na Ilha do Fundão, e os projetos de mobilidade poderiam ajudar a destravar o trânsito da zona norte, que concentra dois terços dos deslocamentos da cidade, inclusive dos trabalhadores que moram na Baixada Fluminense ou em São Gonçalo e Niterói. Por que mudou o eixo? EP: Vamos lá. O Rio de Janeiro não precisa de mais estádio. Isso temos até demais. O Parque Olímpico, na verdade, é quase uma ficção. A estrutura será completamente desmontada após as Olimpíadas. O fato de estar numa região valorizada permitiu que os estádios fossem construídos com dinheiro privado. De que outra maneira poderia atrair os investidores para uma Parceria Público Privada (PPP)? Mas as instalações esportivas são, na minha opinião, a coisa menos importante. O que vale numa Olimpíada é investir em transporte e revitalizar áreas degradadas. CC: Houve preocupação com a integração metropolitana? EP: Trabalho nos limites da minha cidade. O meu BRT vai parar em Santa Cruz, na zona oeste. O outro vai até Deodoro. A Transcarioca vai até a Ilha do Governador. Outro cruza a Avenida Brasil. Mas não posso invadir Caxias. Em vez disso, faço um terminal no Trevo das Margaridas, no entroncamento da Dutra com a Avenida Brasil. O pessoal que vem da Baixada pode descer no terminal e pegar um BRT. Em vez de ficar preso duas horas do trânsito da Avenida Brasil, fará o trajeto em 30 minutos. CC: Outra crítica diz respeito ao desenvolvimento da Barra da Tijuca como uma nova centralidade da capital. EP: Nosso foco é a zona portuária. O Rio de Janeiro sempre fugiu dos seus problemas indo para o oeste. O centro está degradado? Vamos para Copacabana. Não dá mais, seguimos para Ipanema, depois para o Leblon. Aí inventam a Barra da Tijuca, e pela primeira vez na história, tem um governo disposto a voltar ao centro, a revitalizar uma área de 5 milhões de metros quadrados. CC: Os BRTs na zona oeste não podem justamente induzir a ocupação de áreas hoje desabitadas? EP: Alguns urbanistas criticam a TransOeste pela possibilidade de expandir a ocupação de uma área mais virgem, como Guaratiba. Mas o que faço com o morador de Santa Cruz ou Campo Grande? Deixo ele lá, sem transporte? Dois quintos da população da cidade moram na zona oeste. A gente precisava atender o pobre coitado que mora em Santa Cruz e demorava 3 horas para chegar ao trabalho na Barra. Veja as intervenções conforme a geografia do Rio de Janeiro. O maciço da Tijuca, que engloba a zona sul, Corcovado, centro e a própria Tijuca, é cortado por 13 túneis. Todos os túneis da cidade estão lá. No maciço da Pedra Branca, que abriga dois quintos dos moradores e corresponde à metade do território da cidade, não havia um único túnel. Fizemos um agora com a TransOeste. Estamos perfurando outro, para ligar a região de Jacarepaguá com Deodoro, Magalhães Bastos, Bangu, Realengo. Era como um muro de Berlim, ou melhor, da Palestina, que impedia a integração da cidade. É a primeira vez que um governo faz um túnel ali. CC: A prefeitura admite o risco de acabar induzindo a ocupação da zona oeste, áreas como Guaratiba e Recreio? EP: Não tenha dúvidas. Embora a ocupação do Recreio já fosse uma realidade. Estava nos planos do Lúcio Costa. CC: A população da cidade cresce menos de 0,8% ao ano, mas a zona oeste não para de crescer, enquanto bairros da zona norte, da zona sul estão encolhendo... EP: A zona sul não cresce porque há uma restrição urbanística tremenda. Esses mesmos arquitetos e urbanistas que criticam a expansão da zona oeste são os que não querem nenhum tipo de adensamento na zona sul. Sabe aquela festa que eu estou dentro, mas não quero que ninguém mais entre? Nos últimos 30 anos, a única fronteira de negócios imobiliários tem sido a Barra da Tijuca. É a expansão da classe média. Estamos tentando reverter essa lógica. O primeiro passo é a revitalização da zona portuária. CC: Mas os programas de habitação popular também estão concentrados na Zona Oeste, que não para de crescer. EP: Assinei um decreto um ano atrás para impedir novos empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida na região. De fato, o custo da terra na zona oeste é muito mais barato. Mas optamos por definir áreas próximas dos trens ou BRTs e começamos a comprar terrenos para esta finalidade. O grande exemplo é o Bairro Carioca, em Triagem. Está em frente ao metrô, perto do Maracanã, próximo do centro. São mais de duas mil unidades. CC: Há também uma valorização imobiliária muito forte, mesmo dentro das favelas mais próximas do centro ou na zona sul, o que leva a um processo de expulsão dos mais pobres para a periferia. EP: Mas não há nenhuma instalação olímpica ali. A zona sul é um caso à parte, não é um processo tão recente assim. Há uma forte restrição urbanística. Multiplicaram-se as Áreas de Proteção do Ambiente Cultural (APACs). Está tudo tombado. Não posso liberar mais um único prédio no Leblon. Haveria um impeachment. Aí os preços disparam, sobretudo com as pacificação das favelas antes controladas pelo tráfico. A saída é encontrar novas fronteiras, por isso criamos o Porto Maravilha. CC: O metrô carioca é responsabilidade do estado. Mas a linha 4, estimada em 8,5 bilhões de reais, percorre justamente os bairros da zona sul até chegar à Barra. EP: Também é uma obra importante. Por anos, o Rio inaugurou uma estação a cada gestão. Cada governador fazia uma estação para chamar de sua, botava uma plaquinha lá. Finalmente está sendo feita uma ligação metroviária digna desse nome. CC: Mas e a população de baixa renda que sofre pressão imobiliária mesmo dentro da favela? EP: A vida como ela é, não é mesmo? Sobe o Chapéu Mangueira, olha a vista do Vidigal. Os estrangeiros adoram, ainda mais agora que está tudo pacificado. Se o cara mais pobre quer vender seu barraco, o que eu faço? Amarro o sujeito lá? CC: Não é possível criar áreas de interesse social, habitação popular dentro das próprias comunidades? EP: Essas áreas já existem. Mas o que eu faço? Derrubo a casa dele e faço um prédio? O Brasil ainda é uma economia de livre mercado. Não posso proibir as pessoas de negociarem. Aí chega um bacana e oferece 500 mil reais para um pobre coitado vender sua casa, eu vou dizer o quê? “Não vende, não. Você é obrigado a continuar morando num barraco”. CC: É um valor exagerado, não? EP: Mas existe esse tipo de coisa. Todas as casas que dão de frente para o Parque Madureira não valiam 50 mil reais cada. Hoje, custam 500 mil. Se os sujeitos querem vender... CC: Mas aí o trabalhador passa a morar em áreas mais afastadas, o que compromete ainda mais o trânsito. EP: Sem dúvida. Mas abrimos uma nova fronteira imobiliária no Centro. Quando a TransCarioca ficar pronta, haverá na zona norte um corredor de transporte de alta capacidade. Isso valoriza bairros como Jacarepaguá, Campinho, Madureira, Vicente de Carvalho, Olaria, Penha. Abre-se uma nova fronteira por ali também. CC: As famílias removidas para obras da Copa e Olimpíadas receberam propostas de moradia nas áreas mais periféricas... EP: Primeiro, é uma grande mentira que essas famílias estão sendo removidas por causa dos eventos esportivos. Você realmente acha que algum cartola da CBF ou do Comitê Olímpico vai andar de BRT? Os atletas vão para as competições em ônibus coletivo? São obras para a população carioca. CC: Mas que estão na matriz de responsabilidades do governo para sediar a Copa e as Olimpíadas... EP: Tudo bem, mas isso é uma grande desculpa para investir em infraestrutura na cidade. Além disso, a maior parte das remoções são desapropriações formais, em áreas de classe média, classe média baixa. As remoções em favelas, normalmente, ocorrem em áreas de risco. A gente oferece aluguel social de 400 reais, indenizações ou uma unidade do Minha Casa, Minha Vida. É verdade, boa parte dos apartamentos fica na zona oeste. Mas a pessoa pode optar. Dizem que o valor do aluguel é baixo, mas eu tenho 9 mil famílias inscritas no programa. Se ele não concorda com o valor da indenização, pode recorrer à Justiça. Aliás, as indenizações que oferecemos estão superfaturadas, mas como é por uma boa causa ninguém reclama. Hoje, a prefeitura do Rio tem o maior nível de investimentos do Brasil. Em valor absoluto, só perde para o governo federal e o Estado de São Paulo.
Posted on: Sun, 09 Jun 2013 16:25:39 +0000

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