PERCEPÇÕES Temos uma grande dificuldade em aceitar que uma pessoa que temos em elevada conta comporte-se à altura da lama. Diante de um marido que nunca traiu e agora o fez, perguntamos: ele sempre foi assim e apenas não soubemos? Diante de um idealista político que lutou, correndo todos os riscos, pela pátria, mas que acabou flagrado como um reles corrupto, demoramos a reconhecer seus pés de barro. Diante de um filantropo cujos gestos anônimos salvaram muitas pessoas, tendemos a perdoá-lo de antemão quando é flagrado num deslize, que nosso cérebro deleta. Diante de um juiz implacável na aplicação da justiça, ficamos confusos quando o vemos se afundando na mesquinhez da vaidade. O marido fiel sempre será fiel. O idealista nunca tirará proveito próprio da ideologia. O filantropo nunca privilegiará seus próprios interesses. Um juiz correto será necessariamente humilde. Temos necessidade de idealizar as pessoas. Parece que nossa mente funciona melhor quando os bons são sempre bons e os maus são sempre maus. Nossos retratos da realidade nem sempre correspondem à referida realidade. Nós nos decepcionaríamos menos se não ignorássemos a natureza humana. Não decepcionaríamos aos outros se nos lembrássemos que nós mesmos podemos ser infiéis, mercantilistas, egoístas e vaidosos. Cabe-nos cuidar de nós mesmos.
Posted on: Wed, 31 Jul 2013 17:03:07 +0000