PLANO DE FUGA Eu tenho um velho amigo e, por isto mesmo, um amigo - TopicsExpress



          

PLANO DE FUGA Eu tenho um velho amigo e, por isto mesmo, um amigo velho, proprietário de uma personalidade um pouco puxada para a esquizofrenia, mas diante dos tempos modernos da vivência em agrupamentos de milhões de pessoas, e em espaços cada vez mais apertados, quem não tem um pezinho no menu de loucuras da psiquiatria? Pois então, a regra de ouro dele é estar preparado para o pior! Simples assim. E quando ele fala no tal pior é quase um atalho na tela da desgraça completa. Clicou ali, o programa começa a rodar oferecendo todas as opções e até abre espaço para que você mesmo crie as suas. Fascinante, não é? Ele acha, eu, nem tanto, mas o cara tem lá a sua razão nesta história. Ah, tem sim! Veja só, diz ele que toda pessoa deveria ter sempre à mão uma pequena bolsa ou mochila, de fácil transporte, com todos os seus documentos, uma pequena reserva de dinheiro para deslocamentos que se fizerem necessários, conforme a ocasião, um estojo com os remédios básicos do cotidiano de cada um, especialmente aqueles de uso continuado, um pequeno estoque de alimentos não perecíveis, que permitam a alimentação, ainda que frugal, mas com alguma dignidade, isto é, sem a prática de pequenos furtos premida pela fome, pra ser bem claro. Ele ainda adiciona alguns itens que considero opcionais, uma faca, uma pequena vasilha de metal, um fogareiro que funciona com álcool sólido, fósforos (pra quem fuma é desnecessário, o isqueiro está sempre por perto), um pouco de sal e açúcar, pra não citar as ferramentas básicas (alicate, chaves de fenda, Allen, Philiphs...), que também fazem parte do kit “fui”! Sei que você acha que meu amigo está sendo procurado pela polícia, mas não é nada disto, ele sempre espera o pior, eu já disse antes. E esta é apenas uma precaução básica que ele tem, por que sempre está esperando uma coisa mais impactante! Um colapso na energia elétrica, coisa de apagão e meio, mais ou menos, duração de dias nesta condição. Já imaginou as conseqüências? E o que dizer da sua catástrofe preferida? Falta de combustível e, em razão disto, desabastecimento! Prateleiras de supermercados vazias! Nada pra comer, por dias! Nem a água potável, que hoje compramos em galões, seria encontrada. Ele adora esta possibilidade, por que suspeita que o caos estaria garantido. Saques, crimes de toda sorte, pipocando pela cidade. Ficar em casa seria uma opção perigosíssima, melhor ter um plano de fuga muito bem planejado e, nos primeiros sintomas da crise, pô-lo em prática. Pois ele acha que depois disso, nem vale à pena botar o nariz pra fora de casa, isto se você mora em uma casa, onde o risco é milhares de vezes maior, segundo ele. Apartamentos têm a vantagem de só ter uma entrada, a portaria, portanto, uma cidadela defensável com poucos recursos. Nem vou me estender muito nas convicções do meu amigo sobre o que é pior ou melhor numa crise inesperada. E a permacultura? Seria a solução, de acordo com ambientalistas e ex-ecochatos para evitar o “inchaço” das grandes cidades. Eles são adeptos das eco vilas, e demais soluções que passam por pequenas extensões de terra cultivadas para consumo próprio, conforme foi no início da civilização, sem agrotóxicos e sem matar o solo de exaustão. Realmente, um projeto belíssimo, mas inviável na sua essência. Qual é o latifundiário que abrirá mão de sua propriedade para loteá-la em pequenos terrenos, normalmente para quem entende pouco ou nada sobre cultivo de subsistência? E como pagar por estas terras? Uma das máximas no campo é que terra sem água não produz. Teremos que implantar projetos de irrigação para atender os lotes? Não há terra para todos, mesmo na produção e moradia consorciada. Não há fonte de renda possível nestas condições e o motivo é bem evidente. É cultura de sobrevivência onde os excedentes serão utilizados no escambo, na troca por outros excedentes, de outras vilas, diferentes daqueles produzidos pela primeira. Então, do que falamos aqui? O sujeito sai das grandes cidades e vai para o campo, constrói sua casa com o material que a natureza fornecer e passa viver do seu trabalho diário na terra. Não há consumo pelo consumo, não há supérfluos, mas também não há individualidade, só o coletivo, como numa colméia. E se já não temos atendimento de saúde nos grandes centros, que dirá em lugares distantes da ajuda mínima, necessário em alguns casos. A fitoterapia poderá até ajudar em situações simples, mas numa cirurgia de emergência, por exemplo, é impensável um deslocamento por estradas até achar ajuda. Acredito que um retorno às origens da sociedade agrária é uma utopia desnecessária num mundo globalizado com mais de 7 bilhões de almas. E isto dá o que pensar... Qual deve ser a nossa escolha? A individualidade ou a coletividade? E o meu amigo, vai fugir das suas catástrofes esperadas para onde? Rio, 28 de junho de 2013
Posted on: Fri, 28 Jun 2013 20:53:59 +0000

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