Papa em Lampedusa Durante a celebração Eucarística, o Santo - TopicsExpress



          

Papa em Lampedusa Durante a celebração Eucarística, o Santo Padre utilizou um báculo pastoral, em forma de cruz, feito com a madeira das embarcações naufragadas dos imigrantes. No braço horizontal da cruz, estão entalhados dois peixes; e no vertical, cinco pães, recordando a passagem evangélica da multiplicação dos pães: “Dai-lhes, vós mesmos, de comer”. Nestas palavras, podemos reler o gesto significativo da partilha, daquele pouco que a comunidade de Lampedusa tem, colocado à disposição nos momentos mais difíceis da acolhida dos irmãos imigrantes. A incisão do coração, de cor vermelha, entre os dois braços da cruz do báculo pastoral, significa a caridade, que deve estar sempre ao centro da assistência dos refugiados da comunidade cristã. Outro objeto utilizado na Missa foi o Cálice de madeira, com revestimento interno em prata, segundo as normas litúrgicas. À base do cálice foi colocado um cravo transversal, que relembra a Paixão de Cristo. A madeira também foi utilizada de embarcações dos naufrágios de imigrantes. Tanto o báculo pastoral como cálice são obra de um artesão da ilha de Lampedusa, que tanto trabalhou, sobretudo nos dias de maior emergência, para socorrer os irmãos refugiados. O ponto alto da visita do Papa Francisco a Lampedusa foi a celebração Eucarística, no campo esportivo de Arena. O formulário da Missa foi o da “remissão dos pecados, pelas necessidades particulares", previsto pelo Missal Romano. Os textos da Liturgia da Palavra, como o acontecimento de Caim e Abel, a matança dos inocentes e o salmo do Miserere nobis, como a cor roxa dos paramentos litúrgicos, são consoantes ao aspecto penitencial e à sobriedade da Missa. Papa Francisco iniciou sua homilia com as seguintes palavras: “Os imigrados mortos no mar eram trazidos por embarcações, que ao invés de serem meios de esperança os conduziram à morte”! Ao saber destas notícias, que se repetiram numerosas vezes, disse o Papa, “meu coração ficou transpassado, como por um espinho, causando-me tanto sofrimento”. Eis porque, disse o Papa Francisco, “decidi fazer esta visita aqui, para rezar e realizar um gesto de solidariedade, a fim de despertar as consciências para que tais tragédias não se repitam mais. Depois, o Papa expressou seus agradecimentos ao arcebispo Montenegro, por sua cordial saudação, mas, sobretudo, às associações, voluntários e forças de segurança, que dispensaram e dispensam atenção e acolhida às pessoas em viagem rumo à esperança e a uma vida melhor. “Vocês, disse, são uma pequena realidade, mas oferecem um grande exemplo de solidariedade!” Aqui, o Pontífice dirigiu uma palavra também aos queridos imigrados muçulmanos, que estão iniciando o jejum de Ramadã, desejando-lhes abundantes frutos espirituais. A Igreja, afirmou, acompanha vocês e suas famílias na busca de uma vida mais digna. Partindo da Liturgia do dia, o Santo Padre propôs algumas reflexões para mover a consciência de todos e levar a tomar atitudes concretas para uma mudança radical da realidade. Neste sentido, meditando as palavras da Liturgia, o Papa perguntou: “Adão, onde você está”? Adão é um homem desorientado, que perdeu o seu lugar na criação, porque queria se tornar poderoso e dominar tudo, como um deus. Mas, a harmonia se rompeu e o homem errou. E o Santo Padre fez uma segunda pergunta: “Caim, onde está seu irmão”? O sonho de poder, de ser grande como Deus, ou melhor, de ser outro deus, leva a uma cadeia de erros: a cadeia da morte e ao derramamento de sangue do irmão! Estas duas questões ressoam hoje, com toda a sua força. E o Papa explicou: “Muitos de nós, eu inclusive, somos desorientados, não damos mais atenção ao mundo em que vivemos, não temos cuidado com ele, não zelamos por aquilo que Deus criou para todos e não somos mais capazes nem de cuidar uns dos outros. Quando esta desorientação assume dimensões, grandes como o mundo, acontecem tragédias como aquelas que assistimos”. A pergunta “onde está seu irmão” não é feita apenas a Caim, mas a mim, a você e a cada um de nós. Muitos dos nossos irmãos e irmãs procuravam e procuram fugir de situações difíceis, para encontrar um pouco de serenidade e de paz; buscam um lugar melhor para si e suas famílias; mas, quantas vezes não encontram compreensão, acolhida, solidariedade! O Papa perguntou ainda: “Onde está seu irmão”? Quem é o responsável pelo derramamento de sangue de tantos irmãos e irmãs? E disse: “Ninguém”, respondemos nós: “Não fui eu; foram outros”... E acrescentou: “Hoje, ninguém se sente responsável por isso; perdemos o sentido da responsabilidade fraterna; repetimos a atitude hipócrita do sacerdote e do servidor do altar, da qual Jesus fala na parábola do Bom Samaritano: olhamos o irmão meio morto à margem da estrada e, talvez, dizemos “coitadinho”, e continuamos a caminhar, pensando: “Esta tarefa não é minha”... e vivemos tranqüilos”! A cultura do bem-estar, comentou o Pontífice, nos leva a pensar só em nós mesmos, nos torna insensíveis ao grito de socorro dos outros, nos tornam como bolhas de sabão e nos deixam na indiferença, na ilusão. Estamos acostumados a ver os outros sofrerem. Mas, isto não nos interessa, não é problema nosso: somos responsáveis anônimos e sem rosto. Porém, o Papa acrescentou uma terceira pergunta à sua reflexão: “Quem chorou pela morte desses irmãos e irmãs que estavam nas embarcações? E pelas jovens mães que traziam seus filhos? E por aqueles jovens que buscavam um futuro melhor para suas famílias? O Papa respondeu dizendo: “Somos uma sociedade que não sabe mais chorar. Eis a globalização da indiferença! E concluiu com uma exortação: “Peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, pela crueldade que reina no mundo, em nós e também naqueles que tomam decisões sócio-econômicas, que abrem a estrada para dramas como estes. Peçamos perdão pela indiferença com tantos irmãos e irmãs; perdão pelos acomodados, fechados em seus corações anestesiados; perdão por aqueles que, por causa das suas decisões, em nível mundial, criaram situações que se concluem com estes dramas”. Papa Francisco concluiu sua comovente homilia, repetindo as perguntas: “Adão, onde você está”? “Onde está o sangue do seu irmão”? E, antes da dar a bênção final aos numerosos fiéis presentes, fez uma oração diante da imagem da Virgem Maria, Estrela do Mar e Refúgio dos Pecadores, implorando sua proteção e socorro para a comunidade de Lampedusa e seus imigrantes. Ao término da celebração Eucarística, o Pontífice dirigiu-se de jipinho à paróquia de São Gerlando, para uma breve visita. A seguir, transferiu-se ao aeroporto de Lampedusa, onde tomou o avião que o levou para Roma, onde chegou às 14h30min. O Papa dirigiu-se, de carro, diretamente para o Vaticano, onde chegou pouco depois das 15 horas. (MT)
Posted on: Wed, 10 Jul 2013 17:44:53 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015